Sunday, January 27, 2013

MANIFESTAÇÃO DOS PROFESSORES DE 26 DE JANEIRO 2013






Estávamos no dia 26 de Janeiro de 2013, dia para o qual estava marcada uma manifestação de professores[1] contra as medidas governamentais que estão afectando, presentemente, a classe docente. Alguns Professores do “Agrupamento de Escolas General Humberto Delgado” da Freguesia de Santo António dos Cavaleiros, Concelho de Loures, tinham decidido juntar-se em frente ao Fórum Picoas para, em conjunto, marcharem em direcção ao Marquês de Pombal e, assim marcarem presença no desfile  que iria terminar no Rossio.

Para uma melhor visibilidade e para que fossem bem identificados, mostrando serem herdeiros dos ideais do “General sem medo”, uns carolas decidiram meter mãos à obra para, num longo e largo cartaz, escreverem não apenas o nome do Agrupamento, mas também algumas frases referentes à sua indignação contra a forma como tem vindo a ser tratada a classe docente nestes últimos tempos.

Pelas 14:30 começou o grupo a avolumar-se e, por volta das 15:30, já, ali, se podia contar com um bom número deles.
- Podemos seguir em direcção ao Marquês, perguntou alguém?
- Não, não. Ainda falta fulana, respondeu uma voz feminina de entre o grupo.
- E sicrana, continuou outra.

Mais uns 15 minutos e, de facto, chegaram mais duas ou três colegas. Já perto das 15:30 dirigiu-se, então, o grupo, aliás ainda incompleto, pela Avenida Fontes Pereira de Melo, em direcção à rotunda Marquês de Pombal, onde se havia concentrado o grosso dos manifestantes. Uma vez ali chegados, ocupámos o último lugar, precisamente atrás de um pequeno magote que, num grande cartaz, pedia a demissão de Passos Coelho e de Paulo Portas. Por sinal, estava ladeado de um núcleo que, apesar de insignificante, fazia um escarcéu demoníaco. Tratava-se do “15 de Outubro”.

Para não nos identificarmos com esses distintivos, passámos à frente e cerrámos fileiras, à espera da ordem de marcha, em direcção ao Rossio. Entretanto, uma colega do nosso grupo recebe uma chamada de outra que desejava sab à er onde nos encontrávamos. Passa o telefone a alguém que, com certa piada lhe responde:
- Estamos ao fundo do Parque Eduardo VII, atrás do “rabo do Lião do Marquês”.

De facto, pouco tempo depois, aparece a colega que pedira informações do nosso local. Mas, daí até começarmos a desfilar, ainda demorou um certo tempo…. Pudera. Esperavam-se muitos professores, vindos do Norte cujos autocarros ficaram retidos, durante longo tempo, na zona de Santa Iria da Azóia, devido ao choque de um dos seus autocarros com um camião carregado de porcos!

Coisa mais do que curiosa! Já numa outra ocasião tinha acontecido um longo atraso devido a problemas com os autocarros vindos da mesma procedência. Terá sido puro acaso ou algo propositado? Ao menos, desta vez, houve “sortudos” que tiveram carne fresca para o jantar!

Enquanto esperávamos pela ordem de partida entoavam-se cânticos de cariz revolucionário, aproveitando, outros, o tempo para irem distribuindo panfletos partidários entre os quais se encontravam  núcleos um tanto audazes como aquele que dizia em letras garrafais FORA


Aproveitavam alguns para distribuírem pequenos panfletos com os quais convidavam os presentes para uma manifestação a ter lugar no dia 30 de Janeiro deste mês, às 18 horas como aqui se indica no seu respectivo site «www 15 de outubro net»[2].


Os componentes deste grupo, porém, não tinham ares de professores. Mas  nestas ocasiões tudo é de aproveitar para infiltrações. A sua posição política e moral estão definidas no seu site que diz:
"A Plataforma 15 de Outubro conhece bem o modelo de criminalização dos movimentos sociais em prática. Através da calúnia, a difamação, a má edição e a manipulação de informação, os media nacionais deturpam a realidade e estão a serviço do governo, do capital e do sistema que nos rouba o presente e o futuro.
Também a P15O foi por diversas vezes vítima deste comportamento discriminatório e difamatório. Não aceitamos, não nos calaremos, conscientes que a luta contra a criminalização do protesto e dos movimentos sociais, bem como a luta pela liberdade de expressão e reunião é uma luta comum. A Plataforma 15 de Outubro vem desta forma solidarizar-se com o RDA69."[3]
Nos cânticos de descontentamento, além de Passos Coelho e Paulo Portas, os mais atingidos foram “Crato” e “Gaspar”. Ao primeiro diziam-lhe que  não o queriam mais, ou então que os escolhesse para seus motoristas; ao segundo, considerado como o ciclope, mandavam-no “para o inferno”:


 Finalmente, foi dada a ordem de partida em direcção ao Rossio. Os cânticos de reprovação principalmente contra o Ministro da Educação foram ininterruptamente entoados, indo de encontro aos edifícios da Avenida da Liberdade fazendo ricochete, como o deverão fazer ao bater nos ouvidos dos nossos governantes que estão plenamente convencidos de que o caminho por eles escolhido, é o único que pode salvar o nosso pobre país.


Meditando comigo mesmo, ao ponto de um colega me chamar à atenção pela minha tristeza, saí-me com uma lamentação que me fez recordar o “Velho do Restelo”[4], tão sabiamente descrito pelo nosso grande Camões. Nesse tempo, quem teve razão? O velho ou aqueles que mandavam para os mundos desconhecidos os “afoitos descobridores”?

Será que as palavras desse “Velho”, cheio de experiência e sabedoria poderão ser aplicadas aos nossos contemporâneos? Recordemos o seu lamento e cada retire dele as conclusões que encontrar mais apropriadas:


C IV, estrofe 94
Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
95
- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
96
- "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
97
- "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?

- “A ver vamos”, dirão os cegos que, segundo eles, somos todos nós!

O pior é que muitos já cá não estarão para ver o verdadeiro resultado. O que vemos, porém, já, de momento, é muitos a rebuscarem nos bolsos alguma pequena moeda perdida, enquanto outros se lamentam, dia-a-dia, da sorte … triste … de não terem com que pagar os impostos que continuamente estão a chegar a casa! Hoje é o IMI, amanhã será o IRS, e, logo a seguir, as contas da electricidade, e do gás! Ah! É verdade... e as contínuas lucubrações de cabeça para desencantarmos dinheiro para pagar os medicamentos que continuamente estão a ser necessários e para a alimentação e as despesas escolares dos filhos e/ou dos netos … 

Sim, dos netos, porque já se instalou  entre nós o amargo costume de serem os avós a substituir os pais de muitíssimos dos nossos alunos. O “velho de todos os lados” que não apenas o do “Restelo” já vive, também ele, num “presente medonho e incerto”, cujos “marinheiros” têm de ser mais “afoitos” e mais “heróicos” do que aqueles que enfrentaram as ondas dos mares “nunca dantes navegados” e as gentes “nunca dantes vistas nem imaginadas” dos portugueses dos séculos XV e XVI!

Pela avenida abaixo, tudo sem incidentes, alguns de nós íamos comentando esta situação e lamentando apreensivamente o futuro que estamos preparando para os nossos filhos e netos! Oxalá nos enganemos, mas não parece ser muito risonho! O presente deixou de sorrir a muitos! As dívidas que outros contraíram e que estão pesando sobre todos os presentes continuam a aumentar e não se descortina nada de alegre ao fundo do túnel!

Se esta manifestação de cerca de 40.000 professores, segundo números avançados pela FENPROF[5]), não servir para abanar os responsáveis da equipa governamental que a muitos, como a mim, tem desiludido, serviu, ao menos, para o reencontro de muitos e velhos amigos  de profissão que, apesar de desligados já do seu múnos por motivos da sua avançada idade, ou por terem sido transferidos para outras zonas, há muito, não se reviam.

Mas os laços de amizade e de profissionalismo jamais serão rompidos! Ainda bem que assim acontece. Para que tudo possa terminar em bem, e não haja mais necessidade de voltarmos a manifestar publicamente o nosso desagrado, aqui fica um pedido elucidativo, dirigido ao mais alto responsável pela política actual, Passos Coelho:


enquanto se lhe pedia, encarecidamente, que mandasse Miguel Relvas para a escola, de modo a que pudesse aprender alguma coisa de mais útil para o País:


 Segundo muitos, a razão deste imperativo  encontrava-se bem patente no cartaz seguinte que assim dizia:


No caso negativo, o destino que lhes está  reservado não poderá ser outro senão o do fracasso total que os conduzirá à morte. Este fracasso, porém, não os afectara somente a eles, mas a todo  o Sistema Educativo:


De modo a antecipar esse mau presságio ou a evitá-lo, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, no discurso de encerramento da manifestação, concentrada no Rossio,  dirigiu um apelo veemente a todos os Professores para que “cubram as escolas de luto” na semana de 18 a 22 de Fevereiro de 2013.




Terão as escolas a coragem de por em prática tal desafio, ou será que o "processo da rolha" irá impedi-las?

A propósito do exercício do poder recordemos algumas frase de grandes e célebres pensadores:
 



Platão

Jean Jacques Rousseau

Victor Hugo

O preço a pagar pela não participação na política é

seres governado por quem é inferior. 

O que mais vale não é viver, mas viver bem.

Uma sociedade só é democrática quando:
- Ninguém for tão rico que possa comprar alguém;
Ninguém for tão pobre que tenha de se vender a alguém

Entre um governo 

que faz o mal 

e o povo que o consente, 

há uma certa cumplicidade vergonhosa.
Nascido na ilha de Egina ou em Atenas, cidade de seus pais entre os anos 427/428 e aqui veio a falecer em 347 a.C.
Nascido em Genebra a 28 de Junho de 1712 e falecido em Ermenonville a 2 de Julho de 1778.
Nascido em Besançon a 26 de Fevereiro de 1802 e falecido em 22 de Maio de 1886 com 84 anos.

Referências

[1]As fotos sobre a manifestação que publicamos foram retiradas do Diário de Notícias?, site: http://www.dn.pt/galerias/fotos/?content_id=3017574&seccao=Portugal  e pertencem a Foto © Leonardo Negrão/Global Imagens.

Saturday, January 5, 2013

MOÇAMBIQUE 1991 (I)



1- Razão da viagem a Maputo, em 1991

Embora os principais objectivos da guerra moçambicana tenham sido, não só acabar com a presença colonial e imperial portuguesa no país conseguir, adquirir a independência de Moçambique e defender as reivindicações dos cidadãos moçambicanos [1], mas também lutar contra o colonialismo e o imperialismo cujos representantes eram os “capitais norte-americanos, ingleses, franceses, alemães e japoneses"[2], as pessoas e os bens do “cidadão branco e civil” eram considerados sagrados conforme o declararam Samora Machel e Eduardo Mondlane, em 1964, no encontro que tiveram com Alberto Joaquim Chipande e um grupo de jovens, em Dar-es-Salaam[3].

O  certo é que, após o cessar-fogo a 08 de Agosto de 1974 e a independência de Moçambique (25 Junho de 1975), os bens pertencentes aos antigos colonos portugueses foram nacionalizados pelo Governo Moçambicano ou colocados à sua disposição, sob condições propícias ao mesmo Governo.

Mais tarde, criou-se uma Associação de Ex-Colonos ou ex-residentes em Moçambique no intuito de solicitarem uma indemnização ao Governo Português, colocando como  intermediário o ICE - Instituto para a Cooperação Económica ), para o qual se deveria encaminhar toda a documentação referente à posse dos respectivos bens susceptíveis de reclamação.

Entusiasmada com estas perspectivas, a filha de Da Maria Tabita Domingues Ferreira dos Santos, organizou a viagem, tendo-me solicitado que a acompanhasse, livre de quaisquer encargos. Como ambos éramos professores, aproveitámos o tempo da interrupção das aulas do período natalício, partindo de Lisboa na última quinzena de Dezembro 1991, para regressar  na primeira semana de Janeiro 1992.
2- Hospedagem no Hotel Polana

Nessa altura, as condições de alojamento, em Maputo, não eram as melhores. Os bons hoteis rareavam e as condições de segurança eram desconhecidas. O hotel que melhor condições oferecia, então, era o Polana que era bem conhecido pelas interessadas no processo. Foi, pois, neste hotel que permanecemos todo o tempo que necessitámos para levar a efeito os nossos propósitos.

Maria Tabita na rectaguarda dom hotel, junto ao que, agora, é a piscina

Mesmo, assim, o hotel estava em remodelações e reaproveitamento das suas instalações que tinha sofrido com as peripécias da guerra fratricida. Havia, no entanto, condições bastante boas, embora os custos fossem também bastante elevados e a piscina estivesse a ser reconstruída.

A parte que ocupava a parte junto ao mar estava igualmente em remodelações, mas estava habitável também. A sua apresentação exterior deixava muito a desejar, uma vez que os que anteriormente era um jardim, não passva, agora, de uma ravaina sem beleza alguma.

Parte junto ao mar

 Relativamente às condições de hospedagem, tenhom a dizer que fomos muito bem tratados, tanto no que diz respeito à alimentação, como no que diz respeito às condições de alojamento e de serventia. O pessoal de mesa não tratou-nos como se fôssemos príncipes!

3-Visita à cidade de Maputo

Numa tardinha, já quase ao escorecer, fomos dar um passeio ao longo da rua que partia do hotel, virando à dirita. Mal tínhamos andado cerca de 200 metros, salta-nos  à frente um miulitar de metralhadora em punho, dizendo:
- Alto aí! Quem são vocês? para onde vão?
- Somos portugueses e vamos dar um passeio.
- Não pode! Voltem para trás.

Mal nós sabiámos que estávamos perto de terreno militarizado ... talvez a zona governamental. Lá voltámos atrás, dirigindo-nos ao hotel, procurando saber onde poderíamos passear sem sermos impedidos.

O mesmo nos conteceu junto à Igreja de Nossa Senhora de Fátima. A dado momento sai de entre as bananeiras um outro soldado que nos alertou que, àquela hora, não eraa aconselhável passear sem sermos aompanhados de alguém da terra.Estes dois episódios convenceram-nos de que as condições de seguranção ainda não era as melhores! Daí em diante passámos a ter mais cuidado e só nos deslocávamos durante o dia e mesmo assim, usávamos frequentemente os táxis locais. Era mais seguro e os condutores davam-nos as indicações necessárias.



Os melhores locais para passear, nesse tempo, eram a avenida marginal  onde se podia passear, tomar  e frequentar um restaurante na Costa do Sol; a avenida principal onde havia alguns cafés e restaurantes razoáveis e o Clube Naval. Também o Mercado da baixa tinha algum interesse para fazermos compras e apreciarmos o movimento. Era ali que tomávamos, normalmente, um táxi que nos levava de regresso ao hotel Polana.
O autor na Marginal de Maputo
 4- Dligências junto das autoridades competentes


No intuito de conseguirmos solicitar os documentos comprovativos dos bens que pertenciam à Da. Maria Tabita Domingues Ferreira dos Santos, dirigimo-nos à Repartição conveniente, tendo, então encontrado dificuldades atrás de dificuldades! Parece que ninguém sabia como proceder a tão melindroso pedido.

 - Como? Não há nada que não seja do Governo de Moçambique, diziam-nos imediatamente.
- Claro, respondíamos nós.
- Nós só queremos saber que bens se encontravam em nome dessa senhor no tempo anterior à independência, explicávamos mais do que uma vez.
- Isso tem que ir a outro lado.

E, de um lado para o outro, lá seguíamos nós na expectativa de encontrar o que procurávamos.   
A pé e de táxi lá percorríamos as ruas de Maputo em busca do que desejávamos.
Os dias passavam rapidamente e nós não conseguíamos o que pretendíamos. Aproximando-se o dia do regresso a Lisboa, alguém nos aconselhou  o velho estratagema da oferta de "saguates". 
- Ofereçam um bom "saguate" ...
- Rimo-nos, mas parece que as coisas andavam bem dessa maneira.  
O certo é que a documentação foi, finalmente passada, faltando apenas a assinatura do Chefe que teve lugar no dia 04 de Fevereiro de 1992. Ao deslocarmo-nos aos Registos Prediais entregaram-nos os seguintes documentos:

1.      A descrição do Prédio número CINCO MIL CENTO E VINTE E DOIS a folhas cento e noventa e oito do livro B barra é por extracto a seguinte: Terreno com a área de novecentos e dezassete metros quadrados e cinquenta decímetros, constitui a Parcela número cinco B do Talhão vinte e sete da Cidade (...);
2.      A descrição do Prédio número OITO MIL TREZENTOS E NOVENTA E DOIS  a folhas quarenta e um verso do livro B barra cento e um do mesmo livro é por extracto a seguinte: Terreno com a área de oitocentos e trinta e oito metros quadrados e setenta decímetros e constitui o Talhão duzentos e quatro C, duzentos e seis C da Cidade da Polana (…);
3.      A descrição do Prédio número VINTE E SEIS MIL QUINHENTOS E QUINZE a folhas cento e setenta e quatro, verso do livro B barra sessenta e nove é por extracto a seguinte: Talhão trinta e seis H da Povoação da Catembe da Circunscrição do Maputo, com a área de dois mil quatrocentos e quatro metros quadrados e setecentos e noventa e três decímetros (…);
4.      A descrição do Prédio número TRINTA E OITO MIL, SEISCENTOS E CINCO a folhas quarenta e uma do livro B barra cento e um do mesmo livro é por extracto a seguinte: Talhão número trinta e nove H da povoação da Catembe com a área de dois mil quinhentos e oito metros quadrados e nove mil quinhentos e trinta e seis decímetros (...).

Cada um destes prédios, segundo o Ajudante do Conservador, "encontra-se inscrito a favor da MARIA TABITA DOMINGUES FERRERIA DOS SANTOS, divorciada, residente nesta cidade, mas abrangido pelo artigo seis do Decreto-Lei número cinco barra setenta e seis, de cinco de Fevereiro".

5- Documentação enviada ao IPAD

No dia quatro de Março de mil novecentos e noventa e dois a Dona Maria Tabita Domingues Ferreira dos Santos enviou uma carta ao IPAD a   possuía e pedir uma indemnização. Referia os bens que deixara em Moçambique e avaliava-os – muito por baixo – em 36.162.00 (trinta e seis milhões, cento e sessenta e dois mil escudos). 

Como prova desses bens, fui eu (José Coelho Matias) pessoalmente entregar a esse mesmo ICE - Instituto para a Cooperação Económica os Originais passados pela Conservatória de Moçambique, documentos esses que esse Instituo nunca devolveu e aos quais nunca deu alguma resposta, embora o pedido e os ditos originais tenham sido  recebidos. 

Como prova, dessa recepção eu próprio pedi me fosse assinada uma cópia, que, efectivamente foi  assinadada pela recepcionista "Manuela" que escreveu: 
- "Recebi o original em 10/3/92"
Assinatura essa que foi acompanhada pelo carimbo circular que diz:
-  "Instituto para a Cooperação Económica".

Além destes prédios, soubemos através de fontes seguras emanadas da Conservatória dos Registos Prediais que existia ainda outra Propriedade – Plantação Saua-Saua – situada no concelho e distrito do Mossuril, Província de NAMPULA cuja documentação só poderia ser solicitada nos Registos dessa Província e onde não chegámos a ir por falta de tempo e de meios disponíveis. Desta plantação e de sua posse falaremos em "Moçambique 2001 (II)", neste mesmo blog.
 
[3] cf. Palestra de Chipande dedicada ao tema "Vida e obra de Samora Machel" no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano (Excerto do livro de Samora Machel A Luta continua. «http://www.macua.org/livros/lutacontinua.html».

Wednesday, January 2, 2013

MOÇAMBIQUE 2001 (II)

INTRODUÇÃO 


Vamos apresentar, sucintamente, o nascer, o desenvolvimento, as devastações e os trabalhos de recuperação da Plantação de Saua-Saua, sita no Conselho e Distrito do Mossuril, na província de Nampula, Norte de Moçambique.

Dividireei a minha exposição em quatro partes, a saber: 
I- Saua-Saua de João Ferreira dos Santos 
II- Saua-Saua nos anos da guerra civil 
III- Saua-Saua no ano 2001 
IV- Saua-Saua sujeita a recuperação


I- SAUA-SAUA DE JOÃO FERREIRA DOS SANTOS 


I.1- Fundadores 
 
Saua-Saua foi adquirida pelo Sr. João Ferreira dos Santos, natural de Bombarral, nos seus primeiros anos de Moçambique. Era ele casado com Dª Tábita Clorinda Domingues Ferreira dos Santos, natural de Mogadouro, Trás-os-Montes, a qual lhe deu dois filhos gémeos (João e José Ferreira dos Santos) e uma filha,  Maria Tábita Domingues Ferreira dos Santos que nasceu em Middelburg, Concelho de Middelburg, África do Sul.
Casal Ferreira dos Santos com os dois gémeos
            Em Geba, com o Sr. Governador-geral, José Nicolau Nunes de Oliveira (1936-1938)


























































































































Comendador João Ferreira dos Santos
 Homenagem da "Flashes Brasileiros" em 1959
Legenda da FLASHES BRASILEIROS

EDIÇÃO BILÍNGUE LUSO-BRASILEIRA 
Sob a direcção de Joaquim  A. Matias - Rio de Janeiro
1959 -

Dª Tábita Clorinda, Esposa do Sr. João Ferreira dos Santos nos anos 1966


Dª Maria Tábita Domingues Ferreira dos Santos  e Raul Rebelo de Almeida, em 1932
Dª Maria Tabita Domingues Ferreira dos SaAntos e Raul Rebelo de Almeida, os dois braços direitos de João Ferreira dos Santos casados n a cidade de Moçambique no ano de 1933


Raul de Almeida com a sua filha Maria Tabita Ferreira dos Santos Rebelo de Almeida, neta de João Ferreira dos Santos, no dia do sedu 1º aniversário (19.07.1952)

Sr. Raul Rebelo de Almeida e seus filhos, Maria Tabita e Raul
   Dona Tabita Clorinda e genro Ral de Almeida
Dona Maria Tabita Domingues Ferreira dos Santos

I.2- HERDEIROS DIRECTOS
  
Maria Tabita Ferreira dos Santos Rebelo de Almeida e seu neto Tiago Blanch
 em Torre del Mar (Málaga, Espanha


Aniversário do Tiago com a mãe, Maria Tabita Fernandesl e pai, Ant. Pedro Blanch
 
Ana Samanta Ferreira dos Santos Almeida, neta de Raul de Almeida e de Maria Tabita Domingues F.S 
e bisneta do Comendador João Ferreira dos Santos e de Tabita Clorinda Domingues Ferreira dos Santos
em Cabo Verde (Ilha do Fogo,1992)
 
 


I.3-   SAUA-SAUA  ENTRE 1950-1975 (25 DE JUNHO)

   Arco de entrada para a Zona Residencial da Família Ferreira dos Santos

                Vila Tabita engalanada
Outro trecho da Vila Tábita, rodeada de verdejante arvoredo e bem ajardinada 

Dia de festa, em Saua-Saua que parfecia, toda ela, um jardim
Abundância de caça
 
Bar
 
Saua-Sau em Festa  - 1952 - Arroz sauda-vos
Bar ao ar-livre
  
 Pontão com a gente à espera de dar as Boas-Vinadas

Visita do Sr. Governador-geral de Moçambique

II-  SAUA-SAUA NOS ANOS DA GUERRA CIVIL (1976-1992)



Um ano após a declaração da Independência (25 Junho de 1975) instaurou-se um cli,a de guerra civil em Moçambique. Entre os anos 1976-1992 guerrearam-se dois partidos durante o longo período de 16 anos, ficando conhecida sob  o nome de "guerra dos 16 anos" ou "guerra de desestabilização de Moçambique". O primeiro grupo, chamado FRELIMO (“Frente de Libertação de Moçambique”), teve por oponente o Partido da RENAMO (“Resistência Nacional Moçambicana”.
Após a independência de Moçambique, alguns militares portugueses dissidentes da FRELIMO fixaram-se na Rodésia, então governada por Ian Smith que se via em dificuldades internas e cujos resistentes se haviam instalado em Moçambique. Este aproveitou-se desses dissidentes “frelimistas” para tirar proveito a favor da sua grave situação. Por seu lado a FRELIMO apoiava também esses dissidentes.
Ora, a Plantação de Saua-Saua, além de ter sido sempre cobiçada pelos aventureiros nativos e oriundos de outras procedências, serviu a um e outro partidos de campo de manobras e de residência, deixando-a no estado em que a fomos encontrar em 2001.

III- SAUA-SAUA NO ANO 2001

III.1- O Arco de entrada da Zona Residencial


III.2- Parque Residencial
Vila Tábita 
Garagem da Vila Tábita
 Conjunto ao redor da Vila Tábita
 
Casa 1
 
Casa 2
 
 Casa 4
Casa de Recepção
 
Casa-Mãe (ou primeira casa a ser construída em Saua-Saua)
Posto médico 
 
 Uma outra casa
 Vandalismo sobre o Cofre

III.3- União Fabril 
 Instalações Sanitárias e Carpintaria
Carpintaria
 
 Fábrica de Arroz
Armazém em muito mau estado
  Fábrica do Algodão
 
 
Uma das máquinas do algodão
 
 Oficina de autimóveis
 
Rampa da oficina
Conjunto do depósito de água para as fábricas  

III.4- Manutenção geral de água
Nascence principal
 
  Bica geral
Símbolo de Saua-Saua, Fonte da Residência e Fantanário
 Reservatório elvado
 
Autóctones em busca de água

 III.5- Manutenção alimentar
Pocílga
        Depósito para a pocílga
Aviário

III.6- Vista geral da Plantação
Situação lastimosa da Plantação
Conjunto ruinoso da plantação

 III.7- Constatação


Não restam dúvidas de que a Plantação, no seu conjunto, se encontrava numa lástima! Ninguém, depois de ter conhecido ou visto nas imagens Saua-Saua de João Ferreira dos Santos, poderia acreditar no que viu  em 2001.
Ora, se a qualquer visitante causava espanto, à dona actual que a conhecera antes, não poderia causar senão um lancinante gemido de dor e um suspiro de amarga saudade! Quantos dias não passou, ali, alegre junto de seus familiares e amigos?! Ao vê-la no estado de 2001 não admira que não conseguisse disfarçar umas gélidas lágrimas de sofrimento e uns furtivos soluços de amaritude!
Mas, nem tudo estava perdido. Cheia de coragem, a Tabita repensou o que já antes decidira:  recuperá-la. Para isso, no entanto, alguns passos deveria dar, sendo o primeiro desanexá-la dos bens da Firma JFS e, depois pô-la em seu nome, como a sua mãe lhe havia prometido, visto constituir essa plantação uma doação feita, por Escritura Notarial (que eu próprio vi e conservo em meu poder) feita pelo seu fundador, Comendador João Ferreira dos Santos, já falecido.
O seu sonho, depois de restaurada, tinha uma dupla faceta:  instalar nela uma escola e um complexo turístico. 

IV- SAUA-SAUA SUJEITA A RECUPERAÇÃO 

IV.1- Grupo de reconhecimento

O primeiro grupo que se predispôs a contribuir para essa recuperação era composto pelas seguintes personalidades:
TABITA FERREIRA DOS SANTOS REBELO DE ALMEIDA, filha de Da. Maria Tabita Ferreira dos Santos, a, então, dona da  PLANTAÇÃO e professora na escola Humberto Delgado de Santo António dos Cavaleiros, concelho de Loures;

  Maria Tabita Ferreira dos Santos Rebeloede Almeida
  com o Régulo e o seu Cabo que sempre acarinharam a iniciativa
 

ADELINO TORRES ANTUNES, Eng. e Professor na escola Humberto Delgado de Santo António dos Cavaleiros, Concelho de Loures;
 Adelino com o Régulo e o seus Cabo
 

MARIA DO CARMO, Engª  Química;

  Maria do Carmo no trabalho de medições
 

JOANA TORRES ANTUNES, Estudante na Escola Secundária "Pedro Alexandrino" na Póvoa de Santo Adrião, Concelho de Loures;
  Joana Antunes na praia de Saua-Saua


JOSÉ COELHO MATIAS, professor na escola Maria Veleda, em Santo António dos Cavaleiros, Concelho de Loures.
José Matias saboreando a água do coco
 

e plantador da 1ª videira em Saua-Saua
 

IV.2-Recuperação em marcha

 Dando seguimento a esta obra de recuperação, outras acções se vão sucedendo, nomeadamente:
  1. Em 2002, com a Missão Mossáfrica, que fez um levantamento fotográfico da região norte de Moçambique na qual tomaram parte activa os fotógrafos profissionais, Fernando Matos, José Monteiro Gil e Luís Azevedo e o relator Prof. José Coelho Matias;
  2. Em 2003, com o Levantamento de todos os edifícios levado a cabo pelo Eng. António Coelho Matias e Prof. José Coelho Matias;
  3. Em 2004, com a limpeza geral e seccionamento do terreno, com a plantação de coqueiros, mangueiras, cajueiros, bambus e com o melhoramento de alguns edifícios, arruamentos e nascentes e fontanários da água potável, etc., trabalhos estes que foram levados a cabo pelo Eng. Jorge Rodrigues e pelo Prof. José Coelho Matias;
  4. Nos anos seguintes com o aproveitamento e engarrafamento da água, por meio de uma Sociedade, formada por Maria Tabita Ferreira dos Santos Rebelo de Almeida, Jorge Rodrigues e Tiago Amorim, que viria a ser vendida, pouco tempo depois, ao Sr. Eng. Vieira Lino, qual se tem mostrado interessado em, aí, instalar um Complexo Turístico, em sociedade com a proprietária da Plantação, Maria Tabita Almeida.
  Todas estas intervenções serão objecto de considerações nas narrativas deste blog sob os seguintes títulos:

·         "Moçambique 1991/92 (I)";
·         "Moçambique 2002 (III)";
·         "Moçambique 2003 (IV)";
·         "Moçambique 2003 (V)";
·         "Moçambique 2003 (VI)";
·         "Moçambique 2003 (VII)";
·         " Moçambique 2003 (VIII)";


MAPA DE MOÇAMBIQUE INDEPENDENTE