LAMEIRAS II - PEDRA CENTRAL
“ (…) toda a imagem, gravura ou fotografia refere-se a algo. Conhecer, pois, esse referente (...) é reatar duas culturas: a perdida e agora reencontrada e a que contribui para essa reabilitação”
Rolando Barthes
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
Baseados na afirmação de Roland Barthes,
supra citada, decidimos fotografar e analisar as três pedras que servem
de base às três cruzes do Calvário que foi elevado numa pequena elevação a que
se dá o nome de “Santo”, sito na Freguesia de Lameiras, concelho de Pinhel,
distrito da Guarda.
Nessas três pedras estão artisticamente esculpidas
várias figuras que, apesar de parecerem enigmáticas, terão, certamente, atrás
de si, uma história, que, talvez possa ser desvendada e transmitida, como sendo
testemunhas graníticas vivas da história milenar dessa aldeia beirã.
Calvário
do Santo de Lameiras
Foto de 2003
A Pedra que sustenta a Cruz do centro apresenta a forma de
um cubo e gravuras em quatro das suas faces: frontal, direita, esquerda e
superior. Â esta pedra damos atribuímos nome de “Pedra Central”. Nela se encontra esculpida uma figura em
espiral, à direita; um conjunto formado por utensílios próprios de pedreiro ou
de carpinteiro, em frente; um casal, do lado esquerdo; um conjunto de animais e
répteis, na face frontal.
A pedra direita do lado direito
da cruz central e que serve de base a uma outra cruz em vez da forma de
cubo, apresenta, antes, uma forma rectangular, medindo as suas faces laterais
0,60m e a da retaguarda e de frente 0,60m. Esta pedra possui duas imagens: uma à
frente, com a imagem de uma mulher em vias de parto, que poderá ser
denominada “Pedra da Grande-Mãe” e outra, a trás, com a imagem que pode dar
a sensação de ser um peregrino com capuz ou um tyet que era um símbolo egípcio
pelo qual se representava a deus Ísis e que se apresenta da forma seguinte[1]:
|
A pedra do lado esquerdo (à direita de quem olha para o
Calvário) tem uma face apenas com figuras em relevo e uma inscrição no topo das
figuras. A sua configuração é, sensivelmente, a de um grande paralelepípedo,
sendo as suas medidas as seguintes: 0m, 55 para as faces da frente e
a de trás, 0m, 47, para as faces laterais e 0m, 60 para a
respectiva altura. Esta pedra ficará a ser conhecida pelo nome de "Santos do Forno” devido à existência de figuras e de ter
feito parte de uma das paredes do antigo forno comunitário. Era assim que o Povo
a designava.
Nesta segunda parte analisaremos estas três pedras sob dois
pontos de vista:
·
Num primeiro momento e, partindo da representação fotográfica de cada
uma das faces das três respectivas pedras, apresentaremos as suas respectivas
formas e figuras;
·
Num segundo momento, dedicaremos um estudo, tanto à descrição, como ao significado
ou simbologia de cada uma delas, em particular.
·
Num terceiro momento, deduziremos conclusões que nos parecerem mais
lógicas e verosímeis.
Calvário
do Santo de Lameiras, depois de remodelado em 2009
CAPÍTULO 1: Pedra Central
Preâmbulo
1- Pedra central
A primeira pedra a ser analisada será a central que serve de supedâneo à cruz principal e que á a mais antiga do Calvário do “Santo” de Lameiras. Já ali existia quando eu era criança, pois sempre dela me lembro, enquanto as outras duas só para ali foram, depois dos anos 70.2- Forma dessa pedra
3- Local original deste cubo
Como este Cubo não possui figuras numa das
faces pode supor-se que esta face, originariamente, estava encostada a um muro
ou fechava a abertura de um receptáculo à superfície do solo e, tão ou mais
alto e comprido do que o dito cubo. Tudo leva a crer tratar-se de um túmulo.
Neste caso a pessoa ou pessoas recordados
por este túmulo não teriam sido simples trabalhadores da aldeia de Lameiras,
mas sim uma ou mais personagens de certa notoriedade.
1- Face frontal (ferramentas)
1.1- Descrição
Esta face apresenta um conjunto harmónico
formado por vários utensílios que estão enquadrados:
Primeiro: por uma moldura exterior em
forma de dois “L” invertidos,
Face frontal
da pedra central
1ª Foto de 2001 -- 2ª Foto de 2009
Segundo: estes dois “L” invertidos
encontram-se ligados um ao outro por meio das duas extremidades (superiores)
duma tenaz ou pinça de carpinteiro/ferreiro, de eixo ao centro e com
duas pegas ou empunhaduras:
Terceiro: existe uma segunda moldura (a
interior) que é formada por duas colunas que se unem, mais ou menos, através
das outras duas extremidades (inferiores) da mesma tenaz.
Segunda
Moldura
Quatro: nesta segunda moldura (ou
moldura interna) existem vários objectos tais como:
Uma escada, ou série de degraus,
cuja função é, logicamente, a de subir e descer e uma régua, que,
sendo um instrumento de superfície plana e de arestas rectilíneas tem a função
é a de traçar linhas rectas e a de verificar se a superfície de um determinado
objecto está ou não regularmente liso e direito;
Escada e régua
Um “prumo ou nível”
Prumo ou nível
Entre os egípcios, o “prumo ou nível”, usado
inicialmente para “marcar ângulos em terrenos”, acabou por ser utilizado, mais
tarde, tanto nas múmias para significar e garantir “o equilíbrio” do morto, na
outra vida, como entre os vivos, em forma de pendentes, com o mesmo sentido ou
pura e simplesmente como adorno.
Hoje a tarefa de marcação de ângulos está
facilitado pela Suta ou sutra que é um “Instrumento geralmente de madeira, que
serve para marcar ângulos em terrenos; esquadro de pernas móveis para traçar
ângulos de qualquer número de graus”[2].
Suta
ou sutra
Uma turquês (também denominada turquesa,
torquesa ou torquês) que é um instrumento metálico formado de
duas peças com as quais se pode apertar ou arrancar um objecto, por exemplo, um
prego;
Turquês
Um camartelo ou picola[3] que é um instrumento de ferro, em
forma de cunha ou de martelo de orelhas, com cabo de madeira e que é usado
pelos canteiros. Serve para alisar a pedra, escavar (se for em forma de cunha)
ou para arrancar pregos (se tiver a ranhura apropriada para isso).
Camartelo ou
picola
1.2- Simbologia/significação da face frontal da Pedra Central
Os
objectos inscritos recordam um destes três artistas: pedreiro, marceneiro,
ferreiro ou um artista que reúnam em si próprio essas três profissões, pois que
as três usam alguns desses utensílios, como sejam, por exemplo: a escada, a
régua, a turquesa, a pinça e o arranca-pregos ou martelo de orelhas. Esta
imagética aglutina, numa única configuração, as artes fundamentais da construção
civil. Por isso, em vez de querermos confiná-la ao mestre de uma única
arte, podemos considerar que a pessoa em causa tivesse sido um mestre na arte
da construção civil.
Devido aos relevos em quatro faces (na
superior, nas duas laterais e na frontal) e às duas faces lisas (a inferior e a
da retaguarda) sou levado a supor que esta pedra tenha servido de fecho a um
sepulcro, sobressaindo desta em forma de monumento comemorativo.
O
sepulcro, um tanto alongado, tanto poderia estar horizontalmente, no interior
de uma parede, como perpendicularmente no interior de solo mas, neste caso, a
pedra de fecho ficaria encostada a um muro. Poderia igualmente estar colocado
horizontalmente à superfície, quer dentro de uma igreja ou capela, quer em
qualquer outro edifício ou ao ar livre, mas também, aqui, estaria encostada a
um muro, como o sugerem a face inferior e a face da retaguarda.
O problema reside, porém, em encontrar,
dentro da freguesia de Lameiras, um local onde essa pedra poderia ter sido utilizada,
pela primeira vez, e a exercer essas funções que foram enumeradas. É certo que
o adro da Igreja serviu, em tempos, como cemitério e, ainda hoje, lá se vê uma
campa, como esta cuja laje aqui reproduzo e que dizem pertencer a José Coelho.
Sepultura de
José Coelho (Foto de 2009)
É do conhecimento dos mais antigos, inclusive,
das gerações dos anos 50,que existiam mais algumas sepulturas, por exemplo:
umas debaixo do velho cedro que se encontrava no ângulo esquerdo de quem sai da
Igreja pela porta principal e outras do lado direito, uma das quais estava
circundada por uma vedação ou grade de ferro, e que, segundo indicações do
Padre Paulo Costa Afonso[4], pertencia à família do Sr. Alfredo Beirão.
É, possível, portanto, que esta pedra pertencesse a alguma sepultura muito mais
antiga, visto que nessa época já ela servia de pedestal à cruz central do
Santo. É, pois, legítimo pensar que a pedra central tenha servido de porta-de-fecho
a um sepulcro localizado no adro ou dentro da primeira capela ou igreja de
Lameiras e que fosse um monumento artístico a recordar um mestre famoso da arte
da construção civil e/ou da arte de serralharia dessa Povoação.
2- Face da esquerda da Pedra central (casal)
2.1- Descrição das figuras
A face esquerda da pedra (nossa direita) é
constituída por dois painéis separados, representando dois indivíduos: um do
sexo masculino e outro do sexo feminino. À primeira vista parece que ambos
estão em idêntica posição frontal, ou seja a olhar para quem os contempla.
As mesmas
imagens: uma a preto e branco e outra a cores
1ª Foto de
2001 2ª Foto de 2003
Quanto ao estado de cada uma dessas imagens,
a mulher, pelo menos, parece não estar deitada de costas, mas antes, ajoelhada,
como se pode notar a partir da distância que vai desde os cotovelos ao fundo da
imagem humana. Essa distância, aliada à forma quase rectangular como termina a
sua figura não nos permite dizer que esteja, nem de pé, nem de costas, mas sim
ajoelhada. De facto se estivesse de pé ou deitada de costas, a parte inferior
terminaria em forma alongada e mais estreita nos pés, à semelhança da imagem masculina,
situdada logo ao seu lado.
Por seu lado, o indivíduo do sexo masculino apresenta
uma postura que tanto pode ser a de quem está em pé como a de quem está deitado
de costas, mas com os braços cruzados abaixo do abdómen. A estatura deste ultrapassa
a da mulher, tanto no que respeita à cabeça, como no que respeita às pernas que
ultrapassam, em ambos os casos, a figura da mulher.
Finalmente, ambas as figuras apresentam uma iluminação
diferente: mais clara no que se refere à da mulher e mais escura na figura
oposta, o que pode resultar da deterioração temporal ou devido ao fogo que a
tenha atingido, se não quisermos supor que a diferença nessa claridade
represente uma situação moral diversa.
2.2- Significação/simbologia
Podem existir duas hipóteses:
1ª. O indivíduo do sexo masculino está em
posição de defunto deposto no sarcófago e a mulher está ajoelhada em posição de
oração. Neste caso estaríamos perante um defunto comemorado pela pedra
sepulcral e perante uma mulher que dirige a Deus as suas preces pelo descanso daquele
que já tinha partido desta terra.
2ª. Ambos estão ainda vivos, então, neste
caso, ambos estão em posição de recolhimento em honra de uma pessoa de família
que já tinha falecido correspondendo a posição da mulher, à da oração humilde e
reverente, enquanto a posição do indivíduo masculino corresponderia,
preferencialmente, à posição masculina de maior altivez, manifestada na posição
erecta, ao lado da figura feminina, mais submissa e devota.
3- A face direita da pedra central (Espirais, círculo, olho e mão)
Espirais
Foto de 2001
3.1- Descrição desta face
A face esquerda apresenta duas molduras, incluída uma na
outra. Na moldura interior encontra-se uma imagem complexa constituída por
várias figuras:
Fazendo a análise a começar pela base, temos
- Uma figura central, em forma de cálice com;
- Uma base cónica;
- Um anel, logo acima da base;
- Duas ramificações: uma que começa num rosto feminino (do lado esquerdo = ao nosso lado direito) e vai entroncar no tronco central da figura; e outra que nasce no local onde a outra termina para seguir em direcção ao exterior, mudando de direcção verso o interior de si mesma, desaparecendo no ponto fixo que é chamado pólo;
- Duas outras ramificações superiores que servem de suporte a um grosso plano que, embora possa parecer o corporal ou a pala usados no sacrifício da missa, parece antes uma superfície espessa e pesada, dando-nos a sensação de estarmos perante a representação da superfície da Terra, sustentada por dois fortes braços;
- Um rosto oval, dentro de um círculo um pouco deformado pelo defeituoso paralelismo das ramificações superiores;
- Por baixo das duas ramificações inferiores encontram-se duas imagens ou símbolos:
- Sob o rosto feminino da espiral do lado esquerdo está o símbolo de uma das mãos que dificilmente poderemos ter a certeza se é a direita ou se é a esquerda, mas que mais me parece ser a mão esquerda. Quer seja uma quer seja outra, ou mesmo na sua indefinição, ela tem, certamente, um significado pertinente.
- Sob a espiral do lado direito, vê-se um “globo ocular” no interior de uma figura geométrica hexagonal.
3.2- Significação/simbologia da face com espirais
3.2.1- A Espiral
Por
Espiral pode entender-se:
- Tudo o que tem a forma de uma espira[5]; Tudo o que esteja enroscado em forma de caracol; toda a curva que descreve uma infinidade de voltas em roda de um ponto fixo chamado pólo.
As espirais mais conhecidas são:
- Espiral de Arquimedes: aquela cujo raio vector cresce proporcionalmente ao ângulo polar.
- Espiral hiperbólica, aquela cujo raio vector varia na razão inversa do ângulo polar.
- Espiral logarítmica, aquela cujo logaritmo do raio vector varia proporcionalmente ao ângulo polar[6].
Esta figura (do espiral) por aparecer na
vida campestre praticamente de todos os povos, quer na vinha, sob o nome de
gavinha, quer no reino dos moluscos gastrópodes terrestres de concha espiralada
calcária, chamados caracóis, encontra-se carregada de significações simbólicas.
Uma das significações primordiais é aquela
do movimento, como o referem Champeaux
e Sterckx[7] por meio destas palavras:
“Manifesta
a aparição do movimento circular saindo do ponto original; este movimento
mantém-no e prolonga-o indefinidamente: é o tipo de linhas sem fim que enlaçam
incessantemente as duas extremidades do ‘devenir’ (...) emanação,
extensão, desenvolvimento, continuidade cíclica, porém, em progresso, e rotação
criacional”.
“A
espiral dupla simboliza simultaneamente, o nascimento e a morte, Kalpa e
Pralaya, ou a morte iniciática e o renascimento num ser transformado.
Indica a acção em sentido inverso da mesma força em volta dos dois pólos, nas
duas metades do ovo do mundo. A dupla espiral é o traçado da linha média do yin-yang,
que separa as duas metades, negra e branca, da figura. O ritmo alternativo do
movimento fica assim expresso nela com mais precisão, o mesmo que no antigo
carácter chen que representa com a dupla espiral a expansão do yin.yang”.
“A
espiral é o símbolo da fecundidade, aquática e lunar. Marcada sobre os ídolos
femininos paleolíticos homologa todos os centros de vida e fertilidade. Vida
porque indica o movimento numa certa unidade de ordem ou, inversamente, a
permanência do ser sob a sua mobilidade”.
Entre os Índios, o povo de Zuni, na grande
festa do Solstício de Inverno (que é também a festa do Ano Novo, no primeiro
dia e depois de haver sido aceso o fogo do Novo Ano), entoavam-se cantos e executavam-se
danças em espirais, simbolizando, com estas, a permanência do ser humano
através das flutuações da mudança, enquanto entre muitos povos africanos, a espiral
ou a helicoidal simbolizam a dinâmica da vida, o movimento das almas, na
criação e na expansão do mundo (Ibidem).
Entre os povos celtas[10] “A espiral é um motivo que se encontra,
frequentemente, gravado pelos Celtas sobre os Dólmenes ou sobre os monumentos
megalíticos”.
Chevalier-Gheerbrant, depois de concluir que
a espiral simboliza “a viagem da alma após a morte, por caminhos por ela
desconhecidos, porém, conduzindo-a por suas voltas ordenadas até ao foco
central do ser eterno”, termina por fazer suas as palavras de um outro
escritor que diz: “Creio que em todas as civilizações primitivas onde se encontra,
desde o cabo Norte até ao cabo da Boa Esperança, e em muitas civilizações da
América e da Ásia, inclusive na Polinésia, a espiral representa a viagem post
mortem da alma do defunto, até o seu destino final”[11].
Segundo Fontana[12] “os antigos acreditavam que a energia fluía
em forma de espiral. Por isso, continua o mesmo autor, “a espiral representa as
energias tanto masculina como feminina”.
Para Chetwynd[13] os cornos em espiral do carneiro sugerem um
vórtice[14] (turbilhão) no centro do universo, a fonte
invisível e desconhecida que é a origem de tudo”. Por isso, continua o mesmo
autor: “são dados cornos ao Herói – o Ego consciente que é o Filho da Lua-Mãe –
o Subconsciente”. Por seu lado, a cauda que é tida como trazendo o equilíbrio, e
é considerada a “parte mais nobre do corpo …, será representada, por pelo
movimento, representando, por isso mesmo, “as dinâmicas da vida”. Estas duas
imagens são, pois reforçadas pela forma espiral (Idem, p. 28).
Falando ainda dos carneiros, ovelhas e
cordeiros, o mesmo autor (Idem, p. 32) afirma que “os seus chifres em espiral e
com o Sol a nascer no seu signo na Primavera do ano, o carneiro torna-se um
símbolo maior da força da vida – o centro da fertilidade, o crescimento e a infindável
energia. Esta imagem desempenhou um papel muito importante no culto, por
exemplo, de Amon no Egipto, ou de Baal Hammon na Fenícia”.
Além de ter um caminho ascendente, como no
caso dos ventos, tempestades e trovões, “a espiral também tem um caminho
descendente para o inferno – e o redemoinho é, normalmente, associado aos
dragões” (Idem, p. 171), sendo o símbolo, também, do troar do trovão” (Idem, p.
212).
Voltando ainda ao
passado longínquo das gerações e civilizações, podemos recordar quanto, nessas
mentes humanas se pensava do modo como a energia circulava. Esta era tida como
fluindo sempre em espiral, uma vez que, também era assim que se acreditava na
forma como girava, não só a energia masculina e feminina, como também a energia
do Sol e da Lua. Aplicando esta imagética à alma o Livro dos Signos e dos
Símbolos[15] diz que “a
espiral simboliza também o movimento circular da alma que acaba de regressar ao
centro, ou seja, à verdade”.
Concluindo, podemos sintetizar tudo sobre a
espiral nesta ideia: A espiral nesta pedra simboliza a linha da vida que começa
na mulher, passa por uma figura central relacionada com o provir e segue em
direcção ao desconhecido, desaparecendo no ponto fulcral da espiral.
3.2.2- A mão
A Mão (em hebraico יָד ) além de ser um emblema real, um instrumento de mestria e um signo
de domínio, exprime, também, a ideia de actividade, significando, por
isso, poder e domínio[16].
Na tradição bíblica e cristã a mão é o símbolo do
poder e da supremacia. No Antigo Testamento, quando se menciona a “mão de Deus”,
simboliza-se “Deus na totalidade do seu poder e eficácia”.
A mão de Deus, em si, é o seu poder que, tanto pode
ser criador e protector, como destruidor e aniquilador. Porém quando se fala da
mão aberta de Yawéh (יָד פּתו∙חָה
– Iad petuhah)
significa, normalmente, “mão que distribui generosidade”.
Existe, porem, uma diferença semântica entre
a mão esquerda e a mão direita. A mão esquerda simboliza a aplicação da justiça,
dando-se-lhe o sinónimo de “Mão de justiça” ou “Mão de severidade”, sendo uma
das qualidades divinas e régias. Foi, por essa razão, utilizada na idade média
como a insígnia da monarquia francesa[17].
Ao inverso, a mão direita está relacionada
com a misericórdia e perdão. Segundo a Cabala, a Mão direita da Shekinah,
é a mão que benze, vindo a tornar-se, por isso, o emblema da autoridade
sacerdotal.
O termo
hebraico Shekinah (שכינה do
verbo ש-כ-נ (sh-k-n),) era, frequentemente, utilizado
entre os hebreus, em substituição da palavra “Deus”. Tal conexão derivou do
facto de existir, na mente judaica, a ideia de que Deus “habitou” ou
“descansou” entre o Povo de Israel, servindo-se da Arca da Aliança que se
chamava Shekinah. Este termo só aparece na Literatura Rabínica, enquanto
na Torah se encontram apenas algumas alusões a essa habitação divina entre o
Seu Povo, pertencendo:
·
A primeira ao livro do Êxodo (cap.
25, 8), onde se diz: בְּתוֹכָם וְעָשׂוּ לִי מִקְדָּשׁ וְשָׁכַנְתִּי " “e fareis um santuário para Mim e habitarei
no meio deles, isto é dos Israelitas;
·
A segunda ao mesmo livro, cap.
29,45, e diz: “habitarei no meio dos filhos de Israel e ser-lhes-ei o seu Deus
(בְּתוֹךְ בְּנֵי
יִשְׂרָאֵל, וְהָיִיתִי לָהֶם לֵאלֹהִים וְשָׁכַנְתִּי );
·
E a terceira ao Profeta Isaías (cap.
8,18), onde se diz: " בְּהַר צִיּוֹן
יְהֹוָה צְבָאוֹת הַשֹּׁכֵן " - “o Eterno dos exércitos, aquele
que habita em Sião”.
Em hebraico, existe, de facto, uma clara distinção
entre a mão direita (יַד יָמיִן - Iad Iamin) – a mão das bênçãos – e a mão esquerda ( בְיָד שְׂמׄאל- beiad shemol) – a mão das
maldições –, assim como entre a mão fechada (יַד סָגוּר – Iad sagur) “mão que não distribui nada” e a mão aberta
(יָד פּתו∙חָה – Iad petuhah)
ou “mão que distribuidora, e, portanto, generosa”.
No nosso caso, como não é fácil distinguir, na figura
que possuímos na pedra se, na realidade, se trata da mão direita ou da mão
esquerda, ela significará, pelo menos, a “mão aberta”, ou seja “distribuidora”.
Talvez a sua indefinição tenha sido propositada, podendo significar
“distribuição, tanto da justiça, como da misericórdia”. Deus, de facto, sendo
justo, distribuirá a misericórdia e perdão, ou o castigo e condenação ao
defunto que já partiu para a outra vida, consoante as acções boas ou más que
tenha praticado na terra enquanto nesta viveu.
Essa mesma indefinição poderá notar-se na “Mão de
Fátima”, utilizada pelos muçulmanos e conhecida sob o nome de Hamsá[18] para
os quais ela simboliza a acção e a força. Olhando bem para e sua representação,
dificilmente se pode dizer se é a mão direita ou a mão esquerda.
A Hamsá, usado ainda hoje, por muitos muçulmanos como um
talismã contra os maus-olhados, é também chamado “Mão de Fátima”, sendo as suas
variantes Fatimata, Fatoumata e Fatou, muito comuns entre
as mulheres muçulmanas da África Negra.
A propósito deste tema, António Rei, num artigo que
publicou na Internet[20],
sobre o significado da “Mão de Fátima”, sustenta que a “palavra yad (mão), soando identicamente em árabe
e em hebraico, transporta igualmente em ambas as línguas o significado de «mão»
e também de «potência», sendo utilizada como talismã e adorno por meninas e
mulheres contra o mau-olhado
Hamsá
tunisina[21]
Baseando-se, ainda em Doutté (1984, pp. 325-326 e nº
1 o mesmo António Rei acrescenta:
“Uma outra utilização mais vulgar desta figura
é a simples pintura da mão, através de uma forma estética mais ou menos conseguida,
e que aparece geralmente nas portas das casas, mas surge também muitas vezes
nos muros das moradias. Esta utilização ainda mais acessível e vulgar da ‘Mão
de Fátima’, talvez pela facilidade de meios para a conseguir, e sem grandes exigências
técnicas e artísticas, fez com que a mesma figura, tão popular na região do
Magrebe, surgisse não apenas nas portas dos muçulmanos, mas também nas dos
judeus”.
O mesmo autor
observa que esta costume se encontra, igualmente, entre os judeus que habitam
em todo o Magrebe, desde Marrocos até à Tunísia.
Com efeito, um talismã idêntico é usado no judaísmo,
sendo, por vezes, adornado com uma ou mais estrelas de
David. Segundo a tradição judaica, este símbolo representa a mão
de Miriam, irmã de Moisés e Aarão, personagens que libertaram o povo hebreu da escravidão
que tinha sofrido no Egipto e o conduziram à Terra Prometida.
Às vezes, essa mão é comparada ao órgão
da visão (vista ou olho), vindo esta comparação e
interpretação a ser retida e desenvolvida pela Psicanálise, por se considerar nesta
disciplina que a mão vista nos sonhos é o equivalente do olho, símbolo
da percepção intelectual e sobrenatural[22],
como se poderá explicitar melhor, mais à frente.
Devido a esta
interpretação de percepção intelectual e sobrenatural, o Hamsa
adoptou a forma de amuleto com um olho bem aberto na palma:
“Mão
de Miriam, irmã de Moisés e de Arão
Também no Budismo a mão tem muita importância. Segundo o
cânon budista a mão fechada é símbolo da simulação, do
segredo e do esoterismo. Quando se diz que a mão de Buda não está fechada,
quer dizer que não guarda, em segredo, nenhum ponto da sua doutrina[23].
Tanto no Budismo como no Hinduísmo, o simbolismo
essencial reside, não tanto na mão aberta ou fechada, mas, sobretudo nos mudra,
ou seja, nos gestos da mão. Nestas duas civilizações, cada gesto,
praticado pelas mãos tem a sua significação particular. Como exemplo referirei
apenas alguns:
O abhaya-mudra (ausência de
temor): a mão levantada, com todos os dedos estendidos e a palma da mão
dirigida para a frente[24].
Esta mudra[25],
atribui-se a Kali, potência do tempo destruidor, que, em si mesma está mais
além do temor e liberta aqueles que a invocam;
abhaya-mudra
O varada-mudra (dom): mão
baixada, com todos os dedos estendidos e a palma da mão para a frente[26]. Kali
destrói os elementos contingentes do universo; encontra-se, portanto, mais
além da contingência e dispensa assim a felicidade;
varada-mudra
O tarjani-mudra[27]
(ameaça): punho fechado, com o dedo indicador apontando para o ar; Sobre estes
gestos e outros mais[28].
tarjani-mudra
Ora, tanto no
caso da mão de Fátima (ou de Miriam) como no caso da tradição budista e
hinduista, a mão está aberta, concordando com a mão representada na pedra do
Santo de Lameiras. Portanto sob o ponto de vista de “nada estar oculto”, a mão
da pedra concorda com as tradições anteriores. Por isso, o poder simbolizado,
nessa pedra, pela mão, poderá ser exercido sem perigo de errar nem de
ultrapassar a sua competência quer ela seja de rigor e justiça, quer ela seja
de misericórdia e de benevolência.
3.2.3- Olho – órgão da visão.
É o órgão da
percepção e do conhecimento. “Aquele que tem dois olhos” “designa expressamente
o clarividente (Chaman) entre os Esquimós. Tanto no Bhagavad Gitã
como nos Upanishad, os olhos, identificam-se com os dois
luminares: o Sol e a Lua e são tidos como os dois olhos de Vaishvanara.
Assim, também no Taoismo o Sol e a Lua constituem os dois olhos de P’anku
ou de Lao-Kiun, enquanto no Shinto são os olhos de “Izangui
ou Izanagi”[29], ou
seja, o Varão Majestoso da mitologia japonesa.
Izangui ou
Varão magestoso
Na própria
Bíblia os olhos de Deus simbolizam a Sua clarividência
e omnisciência,
exemplos que vamos encontrar:
- Em Génesis (3,5) a serpente astuta afirma a Eva ela e Adão, se comerem do fruto da árvore proibida abrir-se-lhes-ão os olhos, ficando como deuses, conhecendo o bem e o mal;
- Em Job (34,21) diz-se que os olhos de Deus estão sempre sobre os caminhos dos homens;
- No Salmo 138,16 diz-se que os olhos de Deus viram a imperfeição (o pecado) do salmista;
- No Salmo 144,15 confessa o salmista que os olhos de todos os homens esperam em Deus e que Deus lhes dá de comer.
Relativamente à
função particular de cada um dos olhos faz-se uma distinção:
Primeiro:
o olho direito simboliza o Sol, enquanto o esquerdo simboliza
a Lua. Assim, o:
“Olho direito
(Sol) corresponde à actividade e ao futuro, e o olho esquerdo (Lua) corresponde
à passividade e ao passado. A resolução desta dualidade faz passar da percepção
distintiva à percepção unitiva, à visão sintética. O carácter chinês ming
(luz) é a síntese dos caracteres que designam o Sol e a Lua: “Os meus olhos
figuram o carácter ming”, lê-se no ritual de uma sociedade secreta”
(Chevalier-Gheerbrant-Gheerbrant, 1994, p. 484).
Segundo:
para passar desta percepção distintiva à percepção unitiva, o
hinduísmo concebeu um terceiro olho, conhecido pelo olho frontal de Shiva.
Assim, enquanto os dois olhos físicos correspondem ao Sol e à lua,
respectivamente, o terceiro olho corresponde ao fogo, o olhar que
reduz tudo a cinzas.
Segundo o mesmo
autor, “(…) a percepção unitiva é a função do terceiro olho, o olho frontal de Shiva.
Se os dois olhos físicos correspondem ao Sol e à Lua, o terceiro olho
corresponde ao fogo. O seu olhar reduz tudo a cinzas”.
Este terceiro
olhar “corresponde ao Prajnã-chaksus (olho da sabedoria) ou ao Dharma-chaksus
(olho de Dharma) dos Budistas que, situado no limite da
unidade e a multiplicidade, da vacuidade e não-vacuidade permite apreendê-las
simultaneamente. É de facto o órgão da visão interior e, portanto, uma
exteriorização do coração” (Idem, p. 485).
Ideia
semelhante se encontra no Islamismo, segundo no qual a ideia de superação dos
dois olhos se encontra na letra árabe há, cujo desenho em árabe
comporta efectivamente dois círculos, símbolos da dualidade e da diferenciação.
E o terceiro olho indica a condição sobre-humana aquela em que a clarividência
atinge a sua perfeição, bem como, mais acima, a participação solar” (Ibidem).
“O olho único,
sem pálpebras, é…o símbolo da Essência e do Conhecimento divinos. É curioso
notar que o olho que está inscrito na Pedra de Lameiras, não tem pálpebras e
está inscrito num hexágono imperfeito[30].
Para Silesius,
os olhos representam uma percepção mental, por isso se diz que “a alma
tem dois olhos: “um olha o tempo, o outro está virado para a eternidade” (Idem,
485).
Existem outras
expressões para significar a visão espiritual, segundo Platão e Escritores
cristãos: “o olho da alma”, utilizada por Platão e por São Clemente de
Alexandria e “o olho do coração”, utilizada por Plotino, Santo Agostinho, São
Paulo, São João Clímaco, Filoteub, São Gregório de Nazianzo e também pelos
muçulmanos que lhe chamam ayn-el-Qalb (o olho do
coração ou da intuição intelectual). De facto, segundo esta
espiritualidade, a expressão “olho do coração” possui um duplo sentido: o de
homem ser visto por Deus e Deus ser visto pelo homem (Idem, p. 485).
“No Egipto o
olho pintado era o símbolo sagrado, que se encontra em quase todas as obras de
arte …” e era considerado “uma fonte de fluído mágico, o olho-luz, purificador”.
Por essa razão, na teologia da religião egípcia, “Ra, o deus sol, tinha um olho
flamejante, símbolo da natureza ígnea e era representado por uma cobra erguida,
de olho dilatado, chamada uraeus”. Além do mais esse deus era a “fonte da luz,
do conhecimento e da fecundidade”.
Em galês,
chama-se ao sol metaforicamente “olho do dia” (Ilygad y dydd) e “o olho
divino que vê tudo é figurado também pelo Sol: o ‘olho do mundo’, expressão que
corresponde a Agni e que designa assim mesmo o Buda. O olho do mundo é também o
agulheiro do cimo da cúpula, porta do sol que é a olhadela divina abraçando o
cosmo, porém também a passagem obrigatória para sair do cosmo” (Ibidem).
“Na mística
emprega-se a figura do olho no seu duplo sentido de real e de manancial
para indicar a supra-existência da mais profunda essência de Deus. Este sentido
encontra-se em Avicena, que fala dos que penetram até o ‘ayn, contemplação da
natureza íntima de Deus” (Ibidem)
Também na
simbologia utilizada pela Maçonaria, o olho, segundo Jules Boum (1953, p. 91)
simboliza “ no plano físico, o Sol visível do qual emana a Vida, o Logos e a
Luz; no plano intermédio, ou astral, o Verbo, o Logos, o Princípio criador; no
plano espiritual ou divino, o Grande Arquitecto do Universo” (cf.
Chevalier-Gheerbrant, Idem, p. 486).
No campo desta
vasta simbologia concorda o olho inscrito na Pedra de Lameiras, enquanto nesta
se recorda um mestre ou arquitecto que se encontra sob a alçada de um olho
semelhante. Acima dele está, de facto, o Grande Arquitecto do Universo. Daqui
se conclui que não deve haver exaltação desmesurada nem da parte do artista que
ali jaz, nem da parte da família que, por meio dessa pedra, o relembra. Por
isso, sempre que a família dessa época, ou relativos mais afastados o
relembrem, devem sempre fazê-lo de maneira subserviente. Ali, não existe nada
gravado que identifique indivíduo algum nem família alguma, em particular.
Apenas um Mestre, um Arquitecto cuja arte servirá, também, para iluminar e
guiar os vindouros no caminho da vida futura.
3.2.4.1- Significação dos círculos
Esta figura
apresenta dois ou três círculos: o que envolve ou circunda a face
central, o que envolve o globo ocular e o olho, propriamente dito.
O círculo, diz
Chevalier-Gheerbrant (1994, p. 201-202), é, antes de tudo, um ponto estendido,
participando da perfeição deste … e possuindo “propriedades simbólicas comuns
como sejam a perfeição, a homogeneidade, a ausência de distinção ou de divisão”.
Os mesmos
autores continuam a afirmar que o círculo pode simbolizar também “não as
perfeições ocultas do ponto primordial, mas sim os efeitos criados; dito de
outro modo, o mundo em quanto se distingue do seu princípio”.
Ora, uma vez
que “os círculos concêntricos representam os graus do ser, as hierarquias
criadas e todos eles constituem a manifestação universal do Ser único e não
manifestado”, é legítimo considerar que os círculos que se encontram na figura
das espirais do Cruzeiro do Santo têm subjacente a ideia da divindade e
manifestam Deus, Criador e não criado.
E, uma vez que
o círculo se considera indivisível na sua totalidade, segue-se que o movimento
que nele se gera e processa “é perfeito, imutável, sem começo nem fim, nem
variações, o que o habilita para simbolizar o tempo que se define como uma
sucessão contínua e invariável de instantes, todos idênticos uns aos outros”
(Ibidem). Isto quer dizer que os círculos da figura da pedra com espirais e
círculos manifestam que o movimento que afecta os homens e, sobretudo, aquele
que se encontra recordado por essa pedra, é contínuo e invariável, muito mais,
agora, que já se encontra fora da esfera terrestre.
Por ouro lado,
se “o círculo simboliza também o céu de movimento circular e inalterável,
simbolizando o céu cósmico, … particularmente nas suas relações com a terra … e
a actividade do céu, sua inserção dinâmica no cosmo, sua causalidade, sua
exemplaridade, seu papel providente…” (Idem, p. 201-2902), então os círculos da
pedra das espirais relacionam a esfera celeste com a esfera terrestre, sendo da
primeira esfera que procede a vida e a força que animam e fortalecem os seres
que habitam e se movem na segunda. O seu termo será, portanto, um regresso ao
ponto de partida que se iniciou na esfera celeste.
Não é por acaso
que na iconografia cristã, a figura do círculo simboliza a eternidade, enquanto
a figura que aglomera os três círculos ligados numa mesma figura podem lembrar
a Divina Trindade.
Se nos “textos
filosóficos e teológicos, o círculo pode simbolizar a divindade considerada,
não somente na sua imutabilidade, mas também na sua bondade difusiva, como origem,
subsistência e consumação de todas as coisas”, o que se simplifica na tradição
cristão apocalíptica no Alfa e o Ómega (Apoc.1,8; 21,6; 22,13; Chevalier-Gheerbrant,
1994, p. 202), ele representa, igualmente, segundo Chetwind (2004, p. 168), “o
ciclo dinâmico do ano, do tempo e de toda uma vida” sendo igualmente “a força
que envolve o universo e que o mantém unido (…)”.
“O círculo é
também a figura dos ciclos celestes principalmente das revoluções planetárias,
do ciclo anual representado pelo Zodíaco e caracteriza a tendência expansiva.
Consequentemente é o signo da harmonia, e é por isso que as normas
arquitecturais se estabelecem frequentemente sobre a divisão do círculo” (Chevalier-Gheerbrant,
1994, p. 202).
O círculo simboliza
também o tempo. Daí ser utilizado pelo mundo babilónico como intermediário para
medirem o tempo, dividindo-o em 360º, agrupados em seis segmentos de 60º. O
nome shar designava o universo, o cosmo.
Relativamente
aos Índios da América do Norte, diz-se que também, entre eles, o círculo era símbolo
do tempo, uma vez que, tanto o tempo diurno e nocturno, como as próprias fases
da Lua são círculos que envolvem o mundo, como ainda o próprio tempo de um ano representa
um círculo à volta do perímetro do mundo (Narrativa do Chefe Espada, Xamã
Dakota em Alexander Harley Burr (1962, p. 22); e Chevalier-Gheerbrant, 1994,p.
302).
3.2.4.2- O Centro
“O centro é,
antes de tudo, o Princípio, o Real absoluto; o centro dos centros só pode ser
Deus. Os pólos das esferas, afirma Nicolau de Cusa, coincidem com o centro que
é Deus. Ele é circunferência e centro, Aquele que está em todos os lados e em nenhuma
parte”.
Como não
recordar aqui Pascal que ao citar Hermes Trismegisto: “Deus é uma esfera cujo
centro está em todas as partes e a circunferência em nenhuma parte” (Chevalier-Gheerbrant,
1994,p. 182), significando com essas palavras que a presença de Deus é
universal e ilimitada e que, portanto, está no centro invisível do ser,
independentemente do tempo e do espaço.
Se o centro é a
imagem da coincidência dos opostos, segundo Nicolau de Cusa, o centro é,
portanto, concebível como uma fogueira de intensidade dinâmica. Ele dizia que o
centro “É o lugar de condensação e de coexistência das forças opostas, o lugar
da energia mais concentrada”.
Para
Chevalier-Gheerbrant (1994,p. 182 “O centro não é, pois de nenhuma forma
concebível, na simbologia, como uma posição simplesmente estática. É o lugar de
onde parte o movimento de um até ao múltiplo, do interior para o exterior, do
não manifestado para o manifestado, do eterno ao temporal, processos todos de
emanação e de divergência onde se reúnem como num princípio todos os processos
de retorno e de convergência na busca da unidade”.
Cada povo, cada
homem tem o seu centro do mundo, pois concebe-se como o ponto de união entre o
indivíduo e a colectividade.
Esta noção de
centro está ligada ao canal de comunicação. O centro chama-se, efectivamente,
umbigo da terra. Esta ideia encontra-se, consequentemente, nas civilizações
antigas. Por exemplo, na civilização africana (onde as estatuetas têm um umbigo
muito largo) parte-se da ideia de que é do centro da terra que procede a vida.
Assim, o umbigo, entre os africanos, tem mais valor do que propriamente o órgão
masculino.
Na civilização
da Samaria, o sagrado Monte Garizim constitui o umbigo da Terra. Em Israel o
nome do Monte Tabor (em hebraico: תבור הר, har Tabor) vem, possivelmente, do
nome Tabur que significa umbigo.
Segundo essa civilização, o centro tem uma significação tanto espiritual como
material. Na verdade, assim como o alimento biológico vem do sangue materno,
assim o alimento místico provém do centro. Posteriormente, os Romanos consideravam
que o centro da terra se situava na Gália cisalpina no topónimo Mediolanum (vindo
daí o nome de Milão).
Chevalier-Gheerbrant (Ibidem), na sua
reflexão sobre a simbologia do centro considera-o “na sua radiação horizontal”
uma figura do mundo, ou seja, um microcosmo que engloba “todas as virtualidades
do universo”. Dessa forma, o círculo “na sua radiação vertical” seria um lugar
de passagem” ou até, “o cenáculo das iniciações, a vida entre os planos celestes,
terreno e infernal do mundo, o umbral da libertação e, em consequência, de
ruptura” Relativamente ao “centro crítico” considera este como o ponto “de
máxima intensidade”, porque marca, precisamente “o lugar da decisão” e a “linha
da partição”.
3.3- Conclusão sobre a face esquerda da pedra central.
Da simbologia,
que se encontra na configuração da pedra central (Cubo) e das figuras da face
esquerda (Espirais, Mão e Olho) poderemos concluir, talvez, que o
movimento giratório da dupla espiral que parte da esfera onde se encontra a mão
da divindade, ou seja da esfera da justiça (ou da benevolência) e se dirige à
esfera do Olho que se encontra e pertence ao Círculo Solar, simbolizando a
percepção intelectual quererá dar a entender que a mensagem que nos quer
transmitir o Cubo onde esses símbolos se encontram, é precisamente a de que o
Ser representado pela Mão e por meio do Olho é Justo e aplica a justiça com
equidade, mas não deixa de ser misericordioso para perdoar e abençoar porque
conhece todas as acções dos homens que tendem naturalmente para a esfera da
mesma divindade.
4 - Parte superior da pedra (Animais, etc.)
4.1 – Identificação e Descrição
Um aspecto da face do topo
Foto de 2003
Nesta parte,
nota-se, em primeiro lugar, que foi escavado um apeadouro no centro para que a
haste da cruz pudesse ser cravada na Pedra, o que fez com que fosse destruída
parte de algumas figuras que pertenciam ao conjunto superior do cubo.
Na primeira
fotografia parece-nos descortinar um lagarto deitado, atravessado em frente,
debaixo do qual sobressai a cabeça de um outro, enquanto do lado esquerdo da
figura se vê um corte numa outra cabeça de outro réptil ou de um outro animal
que não pode ser identificado.
Servindo-nos de
uma segunda fotografia, feita de outro ângulo, parece-me existirem dois
outros lagartos: um de cada lado da haste da cruz e, pelo menos um cão
por baixo da sombra negra e ao lado esquerdo de uma outra figura que
me parece ser uma cabeça humana, mas bastante desgastada nos seus contornos.
Outro aspecto ou ângulo da mesma
pedra
Fotos de 2003
Por outro lado
a presença de lagartos (do lat. lacartus, por lacertus) na parte superior do
Cubo, poderá indicar que a pessoa que ali foi enterrada viveu numa região onde
esses répteis se encontravam em abundância. Essa região mais circunscrita
poderia ser Lameiras, onde, de facto, existem, ainda hoje, muitas dessas
espécies, e a região mais alargada seria Portugal e Espanha que são países que
se caracterizam pela sua existência.
O Diccionario de la Lengua Española (20ª edición)
da Real Academia Espanhola[31] diz que o lagarto “Tiene
boca grande, con muchos y agudos dientes, cuerpo prolongado y casi cilíndrico,
y cola larga y perfectamente cónica (...).Es sumamente ágil, inofensivo y muy
útil para la agricultura por la gran cantidad de insectos que devora”.
Este animal é
também chamado “sardão” e pode atingir o comprimento de 30 a 60 centímetros.
Prefere áreas secas com arbustos, olivais, vinhas e sítios rochosos ou de
areia. Excelente trepador, é capaz de subir às árvores para depredar ninhos de
aves. No entanto a sua principal alimentação são os insectos, escaravelhos,
borboletas, gafanhotos, abelhas, aranhas, centopeias, sapos e gosta também de
fruta e pequenas plantas, sobretudo em zonas muito secas, pois é uma maneira de
matar a sede. A sua reprodução ocorre na Primavera.
Por outro lado
verifica-se o mau estado de algumas figuras, que se deve, tanto à erosão do tempo,
como à incúria de quem, desconhecendo o valor delas, teve pouco cuidado em
preservá-las intactas. Tal descuido se nota, inclusive, no encaixe que foi
escavado no centro e topo da pedra para nele ser cravada a haste da cruz,
ficando irreconhecível o que nesse espaço existia.
Por outro lado,
essa pedra ou cubo que na sua origem não teria servido de base a essa ou outra
cruz teria levado muitos tombos desde o seu local de origem até ao local onde
eu a fui encontrar em 2001, e 2003, embora já nos anos da minha meninice lá se
encontrasse dessa forma. Mas, notem bem: Estava só esta cruz e a sua peanha. As
outras duas cruzes com suas respectivas pedras ainda não faziam parte do
Calvário actual, pois que uma se encontrava no Forno público e a outra na Fonte
do Lameiro.
4.2 – Simbologia/significação das figuras identificadas
4.2.1- Animais:
Mais uma vez
recorro a Chevalier- Gheerbrant (1994, p. 69) segundo o qual “O animal enquanto
arquétipo representa as capas profundas do inconsciente e do instinto”.
Simbolizam eles, portanto, os princípios e as forças cósmicas, sejam elas
materiais, sejam elas espirituais. Devido a esta imagética, os signos do
Zodíaco, representam as energias cósmicas, sob formas de animais, enquanto no
Egipto algumas divindades são representados sob a forma de cabeças de animais
e, no Cristianismo se representa o Espírito Santo sob a forma de Pomba e os
quatro evangelistas por meio de cabeças de animais ou de aves. Com efeito São
Marcos é simbolizado por meio de um leão; São Lucas, por meio de um boi; São
João, por meio de uma Águia, ao passo que São Mateus é simbolizado por um Anjo,
figuras estas que parecem terem a sua origem na visão da Glória de Deus que foi
vista pelo profeta Ezequiel (cap. 1, 10).
No entanto esta
imagética atribuída aos Evangelistas tem a sua razão na substância ou conteúdo
de cada um dos Evangelhos, como passo a expor.
São Marcos é
representado pelo leão, devido ao seu evangelho começar pela pregação de São
João Baptista no deserto da Judeia. Uma vez que o leão vivia no deserto e a
pregação do Baptista foi considerada como um rugido no deserto e como ele
queria mostrar que Jesus era o rei soberano representou-o como um leão que era
o rei dos animais.
São Lucas é
representado pelo boi, uma vez que este era o animal sacrificado no Templo de
Jerusalém. Por outro lado, São Lucas, não fala apenas (logo no início do seu
Evangelho) da apresentação de Jesus no Templo, mas tem em vista demonstrar, por
meio do seu escrito, o carácter sacerdotal de Cristo. Daí a ser simbolizado o
seu Evangelho pelo boi.
A águia é o
símbolo de São João, pelo facto de propor uma teologia muito elevada. Ele fala
do Verbo de Deus, logo no começo do seu Evangelho, preocupando-se em provar a
natureza divina de Cristo. Esta alta teologia foi simbolizada pela Águia que se
eleva muito alto e possui uma visão penetrante.
São Mateus é
simbolizado pelo anjo com rosto de homem, porque se propôs provar no seu
Evangelho, a natureza humana de Jesus.
Muitos são os
animais que entram na mitologia, por ex. a águia, o cordeiro, cavalo, o crocodilo,
o jaguar, a serpente, tocando, todos eles, os três níveis do universo: o céu, a
terra e o inferno.
(Chevalier-
Gheerbrant, Idem, p. 70) adverte que, por exemplo, no Egipto a zoolatria[32] é
muito antiga. Havia o sentido de cuidar e adorar, inclusivamente, os animais
selvagens: por serem considerados “o receptáculo das formas boas ou temíveis da
potência divina”. Devido a tal mentalidade, em cada cidade o deus tribal
incarnava numa espécie protegida por tabu.
Esta teoria era
confirmada pelo historiador grego, Heródoto, segundo o qual o bom egípcio “deixa
queimar os seus móveis, mas expõe as sua vida para salvar um gato das chamas”.
Tanto é a estima que os egípcios têm pelos animais que “cuidam dos sepulcros
dos animais, como sendo um dever e um orgulho” (Ibidem).
Deste modo
Posner (1959, 15b) dá a conhecer a oração de um egípcio devoto na qual diz: “Eu
dei pão ao faminto, água ao sedento, veste ao despido. Cuidei dos Íbis”, dos Falcões,
dos Gatos e Ccães divinos e inumei-os ritualmente, untando-os de óleos e
enfaixando-os em panos”. De facto os Íbis {m.} (aves pertencentes à família dos
Threskiornithidae e à ordem dos ciconiiformes) eram venerados no
Egipto, sendo associadas ao deus Toth.
Os Ibis[33]
Têm o bico
longo e recurvado, havendo duas espécies: uma tem plumagem castanha com
reflexos dourados, outra possui plumagem branca e negra. Era o Íbis branco e
negro que era tido como sagrado.
O Íbis sagrado[34]
Sobre esta ave Fernando Pessoa
escreveu este poema:
[O ÍBIS, ave do Egipto,]
O ÍBIS, ave do
Egipto,
Pousa sempre sobre
um pé
(O que é
Esquisito).
É uma ave
sossegada
Porque assim não
anda nada.
Uma cegonha parece
Porque é uma
cegonha.
Sonha
E esquece —
Propriedade
notável
De toda ave
aviável.
Quando vejo esta
Lisboa,
Digo sempre, Ah
quem me dera
(E essa era
Boa)
Ser um íbis
esquisito,
Ou p’lo menos ‘star
no Egipto.
Fernando Pessoa
No simbolismo
chinês só intervêm os animais selvagens; os animais domésticos não contam, não
desempenham nenhum papel, a não ser, o mais das vezes, nas superstições e
contos. Não têm jamais o poder de se transformar em homens nem de evocar as
qualidades humanas, como pode tê-la a raposa e, algumas vezes, o tigre. São, sobretudo
os animais fabulosos que aparecem na arte chinesa, como por exemplo: “o corvo
solar com três patas (simbolizando o céu, a terra, o homem); a raposa com nove
caudas (as nove regiões do império); os monstros, espécies de centauros com
dois bustos humanos abraçados; feras, cada uma com oito cabeças humanas,
fixadas sobre pescoços de serpente, tal como as hidras da mitologia
grega clássica” (Chevalier-Gheerbrant, Ibidem).
Na religião
celta dá-se um grande valor ao zoomorfismo e ao totemismo[35],
sinal de que essa concepção seria muito antiga. No entanto, o animal tem apenas
um valor simbólico e não divino. Assim “o javali simboliza a função sacerdotal,
o urso a função real; o corvo é o animal de Lug. O cisne ou a ave em geral, é o
mensageiro do Outro Mundo. O cavalo é psicopompo, etc.”. (Ibidem)
Segundo Al
Mada ‘Ini (autor árabe do século IX) citado por Rouf, 233 que serviu de
citação a Chevalier-Gheerbrant (Ibidem) os turcos tinham o costume de exigirem
aos guias dos exércitos, as qualidades próprias de dez animais: “a bravura do
galo, a castidade da galinha, a coragem do leão, a agressividade do javali, a
astúcia da raposa, a perseverança do cão, a vigilância da grulla, a prudência
do corvo, o ardor no combate do lobo, a gordura do yagru, animal que, apesar de
toda a pena e de todo o esforço permanece sempre gordo” (Ibidem).
Chevalier-Gheerbrant
(Ibidem) refere igualmente o simbolismo dos animais bíblicos aos quais Adão
impôs um nome. Esses animais simbolizariam, na óptica de Filão de Alexandria
(Leg. All., 2, 9-11) “as paixões humanas que devem ser domadas”. Cita
igualmente uma passagem do mesmo Filão, mas, desta vez, da obra Questiones
in Genesim 3,3), onde explica o que cada animal simboliza:
“A natureza destes animais apresenta um
parentesco com as partes do universo: o boi com a terra, como trabalhador e
cultivador; a cabra com a água, porque é um animal colérico e que a água é
agitada e impetuosa, tal como o testemunham as correntes dos rios e as marés; o
carneiro assemelha-se ao ar pela sua violência e também porque não há nenhum
animal mais útil ao homem, pois ele fornece-lhe as suas roupas; quanto às aves,
o elemento que se lhes aparenta é o céu, dividido em diferentes esferas;
podemos relacionar os planetas com a pomba, pois é um animal doce e os planetas
são-nos propícios: as estrelas com a rola, pois ela gosta da solidão. Também
podemos acrescentar que as aves são aparentadas às estrelas pois o seu voo
parece-se com o movimento das estrelas e o seu canto com a música das esferas”.
Por sua vez,
Juns (1964, 238-239) acrescenta: “A abundância dos símbolos animais nas
religiões e artes de todos os tempos não sublinha apenas a importância do
símbolo. Mostra também até que ponto é importante para o homem integrar na sua
vida o conteúdo psíquico do símbolo, quer dizer, o instinto... O animal, que, é
no homem a sua psique instintiva, pode chegar a ser perigoso quando não é
reconhecido e integrado na vida do indivíduo. A aceitação da alma do animal é a
condição da unificação do indivíduo e da plenitude da sua bizarria”.
4.2.2- O Cão e suas funções
Chevalier-Gheerbrant (1994, p. 152), ao falarem da simbologia do cão
afirmam categoricamente:
“Não há, sem dúvida, mitologia alguma que não
tenha associado o cão Anubis, T’ien-K’uan, Xolotl, Garm, etc. à morte, aos
infernos, ao mundo debaixo, aos impérios invisíveis que regem as divindades
telúricas, ctónicas ou selénicas. O símbolo muito complexo do cão está, portanto,
à primeira vista, ligado à trilogia dos elementos terra, água, lua da qual se
conhece o significado oculto, femeal, ao mesmo tempo que vegetativo, sexual,
adivinhatório, fundamental, tanto no que se refere ao conceito de inconsciente
como ao de subconsciente”.
Assim pode
dizer-se que o cão, na mitologia antiga, exercia as seguintes funções:
- A Função psicopompa[36], isto é, a de guia do homem na noite da morte, depois de ter sido seu companheiro na vida. Por exemplo, para os Egípcios o cão tem a missão de encarcerar ou destruir os inimigos da luz e guardar as portas dos lugres sagrados; para os Germânicos o terrível cão (chamado Garm), guarda a entrada do Niflheim, ou seja, o “reino dos mortos, país do gelo e das trevas”; para os Mexicanos da antiguidade, segundo Girard (1954, p. 161) o cão estava desatinado a acompanhar e a guiar os mortos no outro mundo, sendo, por isso, enterrado com o cadáver humano “um cão de cor de leão – quer dizer, de sol – que acompanhava o defunto como Xolotl (o deus-cão), tinha acompanhado o Sol na sua viagem para o interior da terra”.
Xolotl (o deus da luz), irmão gémeo de Quetzalcoátl Segundo
os Astecas[37]
Este costume
mexicano equivalia a sacrificar um cão sobre a tumba do defunto. Talvez seja
por isso, que ainda hoje, na Guatemala, se colocam estatuetas de cães nos
quatro cantos das tumbas.
A décima
terceira e última constelação do antigo Zodíaco mexicano formava a constelação
do cão; ela introduz as ideias de morte, de fim, de mundo subterrâneo, mas também
de iniciação, de renovação, segundo o verso de Nerval que diz: “ La
decimotercera... es aún la primera”.
- A Função Intercessora entre este mundo e o mundo do além;
4.2.3- A Função de mensageiro para ir ao céu levar as preces dos homens;
- Função de guardião dos infernos, emprestando ainda a sua forma aos seus amos humanos. Chevalier-Gheerbrant (Idem, p. 153), diz que na mitologia grega “Hecate, divindade das trevas, podia tomar a forma de égua ou de cão; frequentava as encruzilhadas, sendo seguida de uma “jauria” (matilha) infernal. De igual modo, os Xamãs do Altai ao contarem as suas viagens órficas[38] afirmam que encontraram um cão às portas da morada do senhor dos infernos”.
- Função Medicinal: O cão é associado aos deuses da medicina, como, por exemplo ao deus grego Asclépio e ao deus latino Esculápio.
- Função civilizadora: O cão é o herói civilizador: devido ao seu conhecimento tanto deste como do outro mundo, é tido como um herói civilizador, quase sempre senhor e conquistador do fogo e igualmente como antepassado mítico, o que enriquece o seu simbolismo com uma significação sexual.
- Por isso os Bambaras (habitantes do Mali e também da Guiné, Burkina Faso e Senegal) comparam o cão ao pénis do homem e empregam o nome “cão” para designá-lo eufemisticamente. “Esta associação proviria, segundo Chevalier-Gheerbrant7 (Ibidem), da analogia que eles estabelecem entre a cólera do pénis a erecção diante da vulva, e o latido do cão diante de um estranho…”.
- O cão é considerado como um ladrão pirogenético que roubou o fogo para o entregar aos homens, o que representa a antecâmara da vida, confundindo-se com esta mesma. Assim, entre “os Chiluks do Nilo Branco e de toda a região do Alto Nilo era tido como aquele que roubou o fogo à serpente, ao arco-íris, às divindades celestes ou ao Grande Espírito para o trazer (aos homens) na sua cauda” (Chevalier-Gheerbrant, p. 153); “entre os Ibos, Ijos[39] e outras populações do Biafra foi também o cão que roubou o fogo do céu para o dar aos homens” (Idem, p. 154).
Grupos étnico da Nigéria
- Entre os Muruts do norte de Bornéu, o cão é, ao mesmo tempo, ancestral mítico e herói civilizador: primeiro filho dos amores incestuosos de um homem com a sua irmã, únicos sobreviventes do dilúvio, “o cão ensina à nova humanidade todas as técnicas novas, incluindo a do fogo. É mais uma vez, a origem do ciclo agrário que assim é explicado.” (Ibidem).
- Esta génese do cão entre os Murtus do Bornéu tem uma certa relação com o mito turco segundo o qual houve mulheres que foram fecundadas pela luz do sol, provindo daí o nascimento de um filho em forma de um cão amarelo, o que se parece igualmente com “o cão de cor de leão eminentemente solar, dos Astecas”, como o lembra o mesmo autor (Idem, p. 153).
- No mundo Celta “o cão é associado ao mundo dos guerreiros”. Contrariamente ao que sucedia entre os greco-romanos, o cão é entre os celtas objecto de comparações lisonjeiras. O herói, Cúchulainn, é o cão de Culann, pois matou o cão mau do jardim de Culann para se defender e ficou de guarda, em seu lugar. Por isso, comparar um homem a um cão era honrá-lo como sendo um grande herói.
Cu Chulann[40]
- Ao contrário, o maior castigo que se podia dar-lhe era obrigá-lo a comer carne de cão (Ogac, 1948, pp.11,213-215 e Chevalier-Gheerbrant, 1994, p. 154).
Em
conclusão, podemos dizer:
1º Os
aspectos da simbólica atribuídos ao cão são como: herói civilizador,
antepassado mítico, potência sexual, plenitude, sedutor, incontinência,
transbordante de vitalidade como a natureza na Primavera, ou fruto dum enlace
proibido, fazem parecer o cão como a cara diurna de um símbolo.
No Japão goza,
também, de uma consideração favorável. É tido como um companheiro leal e, por
isso a sua efígie protege as crianças, facilitando, igualmente, o parto às
mulheres (Ibidem)
Na vizinha China
é, também, um fiel companheiro, de qualquer morta, inclusive, das Grandes
Figuras Imortais ou Imortalizadas. Por essa razão, ele encontrava-se junto ao
Grande Venerável que apareceu no monte T’ai-che,
durante o reinado do imperador Wu ao qual tinha aparecido sob a forma
de um cão amarelo preso à trela, conforme reza a tradição chinesa. Já o
cão de Han-tse se tornou vermelho
como o cão celeste, tendo-lhe crescido as asas e obtido a imortalidade. O alquimista
Wei-Po-Yung é descrito como sendo acompanhado, também por esse cão celeste.
Este cão
celeste, chamado T’ien.K’uan é tão famoso entre os chineses que é comparado ou
mesmo identificado com a tempestade e um meteoro. Ele ribomba como o trovão e
brilha como o relâmpago. Ele é vermelho como o fogo (Ibidem).
Esta
positividade do cão encontra-se igualmente entre os Persas, para os quais é o
animal sagrado da divindade Ahura-Mazda,
desempenhando um papel preponderante na antiga religião persa, uma vez que ele
era considerado como o “caçador dos maus espíritos”.
De uma maneira
geral, nessas culturas “o cão é um símbolo propício, representando lealdade,
vigilância, coragem e habilidade na caça” (Fontana 2004, p. 139).
Há, no entanto
outras civilizações onde o cão tem um valor depreciativo, como nas sociedades
muçulmanas nas quais o cão é símbolo de avidez, gulodice, impureza. Matar um
cão entre estes, portanto, deixa o homem impuro. Entre estas sociedades
acredita-se que o cão tem sete vidas. O cão que guarda os Sete Dormentes na sua
caverna (Coram, 18) é mencionado nos amuletos (Chevalier-Gheerbrant, 1994, p.
154).
“No Extremo
Oriente, o cão é ambivalente: benéfico, pois é companheiro do homem e o
guardião que vigia a sua morada; maléfico, pois aparentado com o lobo e o
chacal, aparece como um animal impuro e indesejável” (Idem, p. 155).
Por sua vez, no
Tibete “ (…) o cão é o signo do apetite sexual, da sexualidade, ao mesmo tempo
que é signo dos ciúmes”. Por essa razão Buda dizia que “aquele que vive como um
cão, com a dissolução do corpo, após a morte, irá juntar-se aos cães
(Majihima-nikkaya, 1,387) ” (Chevalier-Gheerbrant, Ibidem).
Devido a esta
dupla vertente relativamente à simbólica do cão, Chevalier-Gheerbrant (Ibidem)
conclui com o pensamento de Jean-Paul Roux (1966, p. 83), segundo o qual “entre
os povos asiáticos, o cão simboliza uma dualidade: a de espírito
protector e benéfico e a de suporte da maldição divina.
Sob este último aspecto, ele é considerado por excelência o Anjo Caído (Roux, Ibidem).
Relativamente ao cão que se encontra gravado no topo da
pedra do Calvário de Lameiras deve simbolizar, ele poderá simbolizar:
a-
O Guia do homem na noite da
morte, depois de ter sido seu companheiro na vida,
b-
O Intercessor entre o seu senhor
(deste mundo) e o Senhor do mundo do além,
c-
O mensageiro que vai à frente do
seu amo para apresentar junto de Deus, as suas preces intercessoras.
4.2.4- Simbologia do Lagarto
Jean Chevalier e
Alain Gheerbrant (1994, p. 397) consideram que o simbolismo do lagarto nada tem
a ver com o da serpente, como, à primeira vista, poderia parecer. Dizem ele: “Ao
contrário da serpente (rival do homem), o lagarto, pelo menos no que diz
respeito às culturas mediterrânicas, é um familiar e portanto um amigo da
razão”.
Remontando à
cultura egípcia, consideram que também, entre esta foi escolhida a imagem do
lagarto para significar a benevolência, sendo que, também, em África o lagarto
é utilizado na arte, na qual é apresentado como “(…) um herói civilizador,
um intercessor ou mensageiro das divindades (…)”.
Lagarto ou sardão
A própria
literatura bíblica refere-se ao lagarto de maneira positiva. Por exemplo, o livro dos Provérbios (Antigo Testamento) refere
que os lagartos, apesar de pequenos são mais sábios do que os mesmos
sábios (capítulo 30:24) e que, embora possam ser apanhados à mão, penetram nos
palácios reais (cap.30:28) o que permite concluir que existe “familiaridade com
o homem e indiferença pelas hierarquias terrestres” Daqui, concluirem
Chevalier-Gheerbrant (Ibidem) “que as
suas longas horas de imobilidade ao Sol são o símbolo de um êxtase
contemplativo” e que esse réptil “simboliza
a alma que procura humildemente a luz, por contraste com a ave que, observa
Gregório Magno, possui asas para voar em direcção aos cumes".
Conclusão:
Enquanto o cão do topo da pedra simboliza um guia, um intercessor e um
mensageiro que seguem à frente do seu senhor, o lagarto simboliza a alma que
procura a luz com humildade intensa.
A intensidade da sua humildade é manifestada pela multiplicidade de lagartos
esculpidos no topo da pedra de Lameiras cuja repetição, à maneira hebraica, tem
o significado de “muito”, “intensivamente” ou o superlativo “muitíssimo”.
4.2.5-- Significação do Cubo (= Quadrado do quadrado)
A partir do seu
formato – um cubo – e da sua formação natural (quatro quadrados) a pedra
central pode sugerir um mundo material e criado e, ao mesmo tampo, um mundo
limitado, inscrevendo-se, por tais características no tempo e no espaço. Esta
mesma ideia vai ser reforçada e clarificada pelo facto de, no mesmo cubo,
existir o quadrado ( figura do espaço) e uma espiral (figura do tempo).
Efectivamente, o
cubo, mais ainda do que o quadrado, simboliza a solidez, a estabilidade, a
detenção do desenvolvimento cíclico, por que determina e fixa o espaço nas suas
três dimensões. Por esta razão, o Islamismo deu a forma cúbica ao Santo dos
Santos que foi erguido no centro da grande Mesquita de Meca, sendo nesse Santo
dos Santos, chamado Qabah (= quadrado) que se encontra a
“pedra negra”, tida por todos os crentes do Islão como dada a Abraão pelo
Arcanjo Gabriel. Para os Muçulmanos, a Mesquita, em forma de cubo, representa o
cubo terrestre que suporta a cúpula celeste (Chevalier-Gheerbrant 1994, p.
251).
Os Pitagóricos,
segundo Plutarco (Isis, 106) afirmavam que o quadrado reunia os poderes de Rea,
de Afrodite, de Deméter, de Hestia e de Hera. Por seu lado, Meunier, ao
explicar esta passagem, afirma que o quadrado indicava na antiguidade que a mãe
dos deuses, a grande Rea (considerada a Fonte da duração do tempo) se
manifestava através das modificações dos quatro elementos (Água, Fogo, Terra e
Ar) que eram simbolizados, respectivamente, por Afrodite, Hestia, Deméter e Hera.
O mesmo
Plutarco na sua obra As Vidas dos Homens Ilustres Gregos e Romanos, ao
falar de Teseu (Vol. VI: Isis e Osiris cap.63) deixou entrever que Isis, ao
exercer a sua função de mãe e criadora, era representada com o instrumento
musical chamado sistro[41] e com
um cubo numa das mãos, simbolizando as inundações do Nilo.
Sistro
Por sua vez, o
Cristianismo primitivo, baseando-se no sentido místico que o cubo encerra: símbolo
da sabedoria, da verdade e da perfeição moral (Chevalier-Gheerbrant, 1994,
p 251) escolheu a forma de cubo para descrever a Nova Jerusalém.
Foi o
evangelista, São João, o primeiro a introduzir no seu Apocalipse a simbologia
do Cubo, quando aplica essa forma à nova cidade de Jerusalém que deverá ser
construída para o novo reino messiânico. Efectivamente, no capítulo 21, verso
16 desse livro apocalíptico dá a essa cidade a forma cúbica para lhe conferir a
ideia da sabedoria, verdade e perfeição moral e de estabilidade.
Nesse capítulo
21, São João descreve a visão do mundo novo e da nova cidade de Jerusalém,
seguindo estes passos e parâmetros:
- Nos versos 1 e 2 apresenta-se o desaparecimento do primeiro céu, da primeira terra e do primeiro mar, para surgirem uma nova Jerusalém, que será uma cidade santa a descer de junto de Deus, tornando-se a esposa bem ataviada para ser apresentada ao seu noivo;
- Os versos 3-4 descrevem a voz de Deus que promete ser construído, nessa nova cidade, o novo tabernáculo onde Ele habitará;
- Nos versos 5-8 Deus promete mudar a situação terrena: de um vale de lágrimas passar-se-á a um local onde jorrará uma fonte de água vivificante e perene;
- Nos versos 9-14 descreve o esplendor e a riqueza dessa nova cidade santa. Estará situada num Alto Monte, será rodeada de um muro alto, com doze portas (3 portas a Oriente, 3 a Setentrião, 3 ao meio dia, e 3 a ocidente); nos muros estavam os nomes dos 12 Apóstolos; em cada uma das portas estava um Anjo. Esta cidade estava de tal modo iluminada que a sua luz brilhava como uma pedra preciosa.
- Nos versos 15-16 apresenta a construção (em jaspe) e a medição da cidade, das portas e do muro: a cidade é quadrangular com iguais medidas quanto à largura, ao comprimento e à altura, sendo as suas medidas 12 mil estádios); o muro, construído de pedra de jaspe tinha 144 côvados, sendo os seus 12 fundamentos ornados de toda a qualidade de pedras preciosas (respectivamente: jaspe, safira, calcedónia, esmeralda, sardónica, sárdio, crisólito, berilo, topázio, crisópraso, jacinto, ametista).
A
“Nova Jerusalém renascida”[42]
[2] Caldas Aulet, 1948, Dicionário Contemporâneo da Língua
Portuguesa, 3ª edição, Vol. II, p. 1201. Cf também a forma de Suta em:
http://www.eloforte.com/v2/components/com_virtuemart/shop_image/product/Suta_mecanica001.jpg
[3] “Instrumento de ferro encabado, em forma de cunha, de
que usam os canteiros para cortarem ou alisarem a pedra” (Cândido de Figueiredo
(1952). (3ª ed.). Dicionário da Língua Portuguesa. Vol. II, p. 695. Lisboa: Sociedade Industrial de
Tipografia LDA.
[4] Sobre este assunto tive, no dia 25/03/2010, às 17:45h,
uma conversa telefónica com o Rev. Padre Paulo da Costa Afonso que foi pároco
de Lameiras durante muitos anos, indo, depois paroquiar a Freguesia dos Foios.
Nesta conversa, disse-me que as três pedras formaram, originariamente o Calvário,
representando as outras duas pedras os dois ladrões, mas que um “diabinho” as
separou, metendo uma no forno para ser queimada e outra na Fonte do Lameiro
para ser afogada. Esta, acrescentou ele, era a história que o povo contava e
continua a contar”. Mais me disse: "A pedra do forno foi retirada
deste, por volta de 1971, quando o então presidente da Junta, Horácio Farinha Beirão
procedeu à remodelação do forno antigo, oferecendo a dita pedra ao Museu
Municipal de Pinhel, vindo a ser levada novamente para Lameiras em 1974”.
[5] Espira (do lat. “Spira”), em geometria é
cada uma das voltas ou arcos da espiral, correspondente a uma variação de
ângulo polar igual a 360º. Pode definir-se também como “Cada uma das voltas de uma espiral, de uma hélice”.
“Parte elementar de um enrolamento elétrico cujas extremidades estão, em geral, muito aproximadas uma da outra”. “Rosca do parafuso” (http://www.dicio.com.br/espira/)
“Parte elementar de um enrolamento elétrico cujas extremidades estão, em geral, muito aproximadas uma da outra”. “Rosca do parafuso” (http://www.dicio.com.br/espira/)
[6] Aulet, Caldas, 1948, Vol. I, pp.
1120-1121)
[11] Chevalier-Gheerbrant Idem, p. 305,
[12] Fontana,2004, p. 125.
[13] Chetwynd, (2004, p. 27)
[14] Vórtice,
(do latim vortex, -ticis) significa, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa
Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, Vol. 2, p. 3782 a ‘disposição
em círculos concêntricos, ou em hélice de certos elementos, ou órgãos”
normalmente à volta de um eixo fixo.
[15]
O Livro Ilustrado dos Signos e Símbolos, ed. Livros e Livros, p. 105). (Sobre
as espirais, cf. Pedra de Soleira. New Grange, Irlanda, II/IV Milénio antes de
Cristo.
[17]
Chevalier-Gheerbrant, Ibidem.
[18] [on-line] Consult. 10-08-2008] Disponível em: http://img.terra.com.br/i/2009/08/06/1286709-1361-in.jpg.
[19] [on-line] Consult. 10-08-2008] Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Khamsa_pendant.jpg.
[20] [on-line] Consult. 10-08-2008] Disponível em: http://www2.fcsh.unl.pt/iem/
investigar-estudos/PDF-estudos/PDF-estudo-fatima.pdf.
[22] Chevalier-Gheerbrant
1994, p.p. 484-486.
[25] Por “ mudras”
entendem-se os gestos simbólicos que são associados aos Budas.
Esses gestos são muito utilizados na iconografia hindu e budista. ...
[27]
http://www.thebigview.com/buddhism/mudra.html
[29] Segundo a mitologia da criação japonesa, do caos os
deuses superiores geraram Izanagi e sua irmã Izanami.
Depois pegaram numa lança incrustada de pedras preciosas e com ela agitaram o
mar de água salgada que estava por baixo deles, sobre a ponte flutuante
celestial. Ao levantarem a lança as gotas de água que caíram formaram a
primeira ilha que foi chamada de Onogoro, a primeira terra firme. DA
primeira cópula nasceu uma criança mal-formada, chamada Hiruko (criança
parasita). Esta foi metida num cestito de junco e lançado ao mar para que
perecesse. Da segunda cópula nasceram os deuses do vento, as árvores, as
montanhas e o arquipélago japonês (on line: http://pt.wikipedia.org/wiki/Izanagi.[30] Quando este olho se inscreve num
triângulo … é um símbolo ao mesmo tempo maçónico e cristão.
[32] Por zoolatria (do gr. Zoon ‘animal’ + -latria
‘culto’) entende-se “adoração ou culto prestado aos animais (DLPCACL, Vol II,
p. 3806)
[35] Sistema religioso e social baseado na crença de uma
origem comum a um grupo de homens e a um outro ser natural, o totem, e
que surgiu nas sociedades de caçadores. O totem ou tóteme
(palavra indígena da América do Norte) é um animal ou planta tida como antepassados
comuns de uma comunidade a que dão o seu nome, em relação aos quais há tabus e
deveres especiais (DLPCACL, Vol II, p. 3806 e p. 594, respectivamente).
[36] Psic(o) do gr. Psikei ‘alma’
(pelo qual se exprime a ideia de alma, ou espírito) + pompa (do gr. Pompei
‘cortejo’).
37]
http://www.azteccalendar.com/images/Xolotl.jpg
[38] Adj. Relativo a Orfeu. / Diz-se dos
dogmas, mistérios, princípios e poemas filosóficos atribuídos a Orfeu < http://www.dicio.com.br/orficas/>.
[39] Grupos étnicos da Nigéria e Biafra.
[41] Era muito
utilizado nas festas religiosas do Antigo Egipto, de quem copiaram-no os romanos. Foi
considerado um atributo da deusa Hathor, e também estava relacionado com as
deusas Isis, Bat e Bastet cf. http://pt.wikilingue.com/es/Sistro
e ainda: http://www.consciencia.org/teseu-vidas-dos-homens-ilustres-de-plutarco
[42] “Foi a igreja abacial de São Pedro de Cluny, mais
conhecida como Cluny III, pois foi a terceira de uma série construída,
uma após a outra, no mosteiro de Cluny, na Borgonha‒França. Cluny foi a mais grande, deslumbrante, poderosa e influente
abadia da Era da Luz”. http://catedraismedievais.blogspot.pt/2011/01/cluny-jerusalem-celeste-encarnada-1.html
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