Sunday, January 27, 2013

MANIFESTAÇÃO DOS PROFESSORES DE 26 DE JANEIRO 2013






Estávamos no dia 26 de Janeiro de 2013, dia para o qual estava marcada uma manifestação de professores[1] contra as medidas governamentais que estão afectando, presentemente, a classe docente. Alguns Professores do “Agrupamento de Escolas General Humberto Delgado” da Freguesia de Santo António dos Cavaleiros, Concelho de Loures, tinham decidido juntar-se em frente ao Fórum Picoas para, em conjunto, marcharem em direcção ao Marquês de Pombal e, assim marcarem presença no desfile  que iria terminar no Rossio.

Para uma melhor visibilidade e para que fossem bem identificados, mostrando serem herdeiros dos ideais do “General sem medo”, uns carolas decidiram meter mãos à obra para, num longo e largo cartaz, escreverem não apenas o nome do Agrupamento, mas também algumas frases referentes à sua indignação contra a forma como tem vindo a ser tratada a classe docente nestes últimos tempos.

Pelas 14:30 começou o grupo a avolumar-se e, por volta das 15:30, já, ali, se podia contar com um bom número deles.
- Podemos seguir em direcção ao Marquês, perguntou alguém?
- Não, não. Ainda falta fulana, respondeu uma voz feminina de entre o grupo.
- E sicrana, continuou outra.

Mais uns 15 minutos e, de facto, chegaram mais duas ou três colegas. Já perto das 15:30 dirigiu-se, então, o grupo, aliás ainda incompleto, pela Avenida Fontes Pereira de Melo, em direcção à rotunda Marquês de Pombal, onde se havia concentrado o grosso dos manifestantes. Uma vez ali chegados, ocupámos o último lugar, precisamente atrás de um pequeno magote que, num grande cartaz, pedia a demissão de Passos Coelho e de Paulo Portas. Por sinal, estava ladeado de um núcleo que, apesar de insignificante, fazia um escarcéu demoníaco. Tratava-se do “15 de Outubro”.

Para não nos identificarmos com esses distintivos, passámos à frente e cerrámos fileiras, à espera da ordem de marcha, em direcção ao Rossio. Entretanto, uma colega do nosso grupo recebe uma chamada de outra que desejava sab à er onde nos encontrávamos. Passa o telefone a alguém que, com certa piada lhe responde:
- Estamos ao fundo do Parque Eduardo VII, atrás do “rabo do Lião do Marquês”.

De facto, pouco tempo depois, aparece a colega que pedira informações do nosso local. Mas, daí até começarmos a desfilar, ainda demorou um certo tempo…. Pudera. Esperavam-se muitos professores, vindos do Norte cujos autocarros ficaram retidos, durante longo tempo, na zona de Santa Iria da Azóia, devido ao choque de um dos seus autocarros com um camião carregado de porcos!

Coisa mais do que curiosa! Já numa outra ocasião tinha acontecido um longo atraso devido a problemas com os autocarros vindos da mesma procedência. Terá sido puro acaso ou algo propositado? Ao menos, desta vez, houve “sortudos” que tiveram carne fresca para o jantar!

Enquanto esperávamos pela ordem de partida entoavam-se cânticos de cariz revolucionário, aproveitando, outros, o tempo para irem distribuindo panfletos partidários entre os quais se encontravam  núcleos um tanto audazes como aquele que dizia em letras garrafais FORA


Aproveitavam alguns para distribuírem pequenos panfletos com os quais convidavam os presentes para uma manifestação a ter lugar no dia 30 de Janeiro deste mês, às 18 horas como aqui se indica no seu respectivo site «www 15 de outubro net»[2].


Os componentes deste grupo, porém, não tinham ares de professores. Mas  nestas ocasiões tudo é de aproveitar para infiltrações. A sua posição política e moral estão definidas no seu site que diz:
"A Plataforma 15 de Outubro conhece bem o modelo de criminalização dos movimentos sociais em prática. Através da calúnia, a difamação, a má edição e a manipulação de informação, os media nacionais deturpam a realidade e estão a serviço do governo, do capital e do sistema que nos rouba o presente e o futuro.
Também a P15O foi por diversas vezes vítima deste comportamento discriminatório e difamatório. Não aceitamos, não nos calaremos, conscientes que a luta contra a criminalização do protesto e dos movimentos sociais, bem como a luta pela liberdade de expressão e reunião é uma luta comum. A Plataforma 15 de Outubro vem desta forma solidarizar-se com o RDA69."[3]
Nos cânticos de descontentamento, além de Passos Coelho e Paulo Portas, os mais atingidos foram “Crato” e “Gaspar”. Ao primeiro diziam-lhe que  não o queriam mais, ou então que os escolhesse para seus motoristas; ao segundo, considerado como o ciclope, mandavam-no “para o inferno”:


 Finalmente, foi dada a ordem de partida em direcção ao Rossio. Os cânticos de reprovação principalmente contra o Ministro da Educação foram ininterruptamente entoados, indo de encontro aos edifícios da Avenida da Liberdade fazendo ricochete, como o deverão fazer ao bater nos ouvidos dos nossos governantes que estão plenamente convencidos de que o caminho por eles escolhido, é o único que pode salvar o nosso pobre país.


Meditando comigo mesmo, ao ponto de um colega me chamar à atenção pela minha tristeza, saí-me com uma lamentação que me fez recordar o “Velho do Restelo”[4], tão sabiamente descrito pelo nosso grande Camões. Nesse tempo, quem teve razão? O velho ou aqueles que mandavam para os mundos desconhecidos os “afoitos descobridores”?

Será que as palavras desse “Velho”, cheio de experiência e sabedoria poderão ser aplicadas aos nossos contemporâneos? Recordemos o seu lamento e cada retire dele as conclusões que encontrar mais apropriadas:


C IV, estrofe 94
Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
95
- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
96
- "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
97
- "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?

- “A ver vamos”, dirão os cegos que, segundo eles, somos todos nós!

O pior é que muitos já cá não estarão para ver o verdadeiro resultado. O que vemos, porém, já, de momento, é muitos a rebuscarem nos bolsos alguma pequena moeda perdida, enquanto outros se lamentam, dia-a-dia, da sorte … triste … de não terem com que pagar os impostos que continuamente estão a chegar a casa! Hoje é o IMI, amanhã será o IRS, e, logo a seguir, as contas da electricidade, e do gás! Ah! É verdade... e as contínuas lucubrações de cabeça para desencantarmos dinheiro para pagar os medicamentos que continuamente estão a ser necessários e para a alimentação e as despesas escolares dos filhos e/ou dos netos … 

Sim, dos netos, porque já se instalou  entre nós o amargo costume de serem os avós a substituir os pais de muitíssimos dos nossos alunos. O “velho de todos os lados” que não apenas o do “Restelo” já vive, também ele, num “presente medonho e incerto”, cujos “marinheiros” têm de ser mais “afoitos” e mais “heróicos” do que aqueles que enfrentaram as ondas dos mares “nunca dantes navegados” e as gentes “nunca dantes vistas nem imaginadas” dos portugueses dos séculos XV e XVI!

Pela avenida abaixo, tudo sem incidentes, alguns de nós íamos comentando esta situação e lamentando apreensivamente o futuro que estamos preparando para os nossos filhos e netos! Oxalá nos enganemos, mas não parece ser muito risonho! O presente deixou de sorrir a muitos! As dívidas que outros contraíram e que estão pesando sobre todos os presentes continuam a aumentar e não se descortina nada de alegre ao fundo do túnel!

Se esta manifestação de cerca de 40.000 professores, segundo números avançados pela FENPROF[5]), não servir para abanar os responsáveis da equipa governamental que a muitos, como a mim, tem desiludido, serviu, ao menos, para o reencontro de muitos e velhos amigos  de profissão que, apesar de desligados já do seu múnos por motivos da sua avançada idade, ou por terem sido transferidos para outras zonas, há muito, não se reviam.

Mas os laços de amizade e de profissionalismo jamais serão rompidos! Ainda bem que assim acontece. Para que tudo possa terminar em bem, e não haja mais necessidade de voltarmos a manifestar publicamente o nosso desagrado, aqui fica um pedido elucidativo, dirigido ao mais alto responsável pela política actual, Passos Coelho:


enquanto se lhe pedia, encarecidamente, que mandasse Miguel Relvas para a escola, de modo a que pudesse aprender alguma coisa de mais útil para o País:


 Segundo muitos, a razão deste imperativo  encontrava-se bem patente no cartaz seguinte que assim dizia:


No caso negativo, o destino que lhes está  reservado não poderá ser outro senão o do fracasso total que os conduzirá à morte. Este fracasso, porém, não os afectara somente a eles, mas a todo  o Sistema Educativo:


De modo a antecipar esse mau presságio ou a evitá-lo, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, no discurso de encerramento da manifestação, concentrada no Rossio,  dirigiu um apelo veemente a todos os Professores para que “cubram as escolas de luto” na semana de 18 a 22 de Fevereiro de 2013.




Terão as escolas a coragem de por em prática tal desafio, ou será que o "processo da rolha" irá impedi-las?

A propósito do exercício do poder recordemos algumas frase de grandes e célebres pensadores:
 



Platão

Jean Jacques Rousseau

Victor Hugo

O preço a pagar pela não participação na política é

seres governado por quem é inferior. 

O que mais vale não é viver, mas viver bem.

Uma sociedade só é democrática quando:
- Ninguém for tão rico que possa comprar alguém;
Ninguém for tão pobre que tenha de se vender a alguém

Entre um governo 

que faz o mal 

e o povo que o consente, 

há uma certa cumplicidade vergonhosa.
Nascido na ilha de Egina ou em Atenas, cidade de seus pais entre os anos 427/428 e aqui veio a falecer em 347 a.C.
Nascido em Genebra a 28 de Junho de 1712 e falecido em Ermenonville a 2 de Julho de 1778.
Nascido em Besançon a 26 de Fevereiro de 1802 e falecido em 22 de Maio de 1886 com 84 anos.

Referências

[1]As fotos sobre a manifestação que publicamos foram retiradas do Diário de Notícias?, site: http://www.dn.pt/galerias/fotos/?content_id=3017574&seccao=Portugal  e pertencem a Foto © Leonardo Negrão/Global Imagens.

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