MANIFESTAÇÃO DOS PROFESSORES DE 26 DE JANEIRO 2013
Estávamos no dia 26 de Janeiro de 2013, dia para
o qual estava marcada uma manifestação de professores[1] contra
as medidas governamentais que estão afectando, presentemente, a classe docente. Alguns Professores do “Agrupamento de Escolas
General Humberto Delgado” da Freguesia de Santo António dos Cavaleiros, Concelho
de Loures, tinham decidido juntar-se em frente ao Fórum Picoas para, em
conjunto, marcharem em direcção ao Marquês de Pombal e, assim marcarem
presença no desfile que iria terminar no Rossio.
Para uma melhor visibilidade e para que fossem
bem identificados, mostrando serem herdeiros dos ideais do “General sem medo”,
uns carolas decidiram meter mãos à obra para, num longo e largo cartaz,
escreverem não apenas o nome do Agrupamento, mas também algumas frases
referentes à sua indignação contra a forma como tem vindo a ser tratada a
classe docente nestes últimos tempos.
Pelas 14:30 começou o grupo a avolumar-se
e, por volta das 15:30, já, ali, se podia contar com um bom número deles.
- Podemos seguir em direcção ao Marquês,
perguntou alguém?
- Não, não. Ainda falta fulana, respondeu uma voz
feminina de entre o grupo.
- E sicrana, continuou outra.
Mais uns 15 minutos e, de facto, chegaram mais
duas ou três colegas. Já perto das 15:30 dirigiu-se, então, o grupo, aliás
ainda incompleto, pela Avenida Fontes Pereira de Melo, em direcção à rotunda Marquês de Pombal, onde se havia concentrado o grosso dos manifestantes. Uma vez ali chegados, ocupámos o último lugar, precisamente atrás de um pequeno magote
que, num grande cartaz, pedia a demissão de Passos Coelho e de Paulo Portas. Por
sinal, estava ladeado de um núcleo que, apesar de insignificante, fazia um
escarcéu demoníaco. Tratava-se do “15 de Outubro”.
Para não nos identificarmos com esses distintivos,
passámos à frente e cerrámos fileiras, à espera da ordem de marcha, em direcção
ao Rossio. Entretanto, uma colega do nosso grupo recebe uma
chamada de outra que desejava sab à er onde nos encontrávamos. Passa o telefone a alguém que, com certa piada lhe responde:
- Estamos ao fundo do Parque Eduardo VII, atrás
do “rabo do Lião do Marquês”.
De facto, pouco tempo depois, aparece a colega
que pedira informações do nosso local. Mas, daí até começarmos a desfilar, ainda
demorou um certo tempo…. Pudera. Esperavam-se muitos professores, vindos do
Norte cujos autocarros ficaram retidos, durante longo tempo, na zona de
Santa Iria da Azóia, devido ao choque de um dos seus autocarros com um camião
carregado de porcos!
Coisa mais do que curiosa! Já numa outra ocasião
tinha acontecido um longo atraso devido a problemas com os autocarros vindos da
mesma procedência. Terá sido puro acaso ou algo propositado? Ao
menos, desta vez, houve “sortudos” que tiveram carne fresca para o jantar!
Enquanto esperávamos pela ordem de partida
entoavam-se cânticos de cariz revolucionário, aproveitando, outros, o tempo
para irem distribuindo panfletos partidários entre os quais se encontravam
núcleos um tanto audazes como aquele que dizia em letras garrafais FORA!
Aproveitavam alguns para distribuírem
pequenos panfletos com os quais convidavam os presentes para uma manifestação a
ter lugar no dia 30 de Janeiro deste mês, às 18 horas como aqui se indica no
seu respectivo site «www 15 de outubro net»[2].
Os componentes deste grupo, porém, não tinham ares de professores. Mas nestas
ocasiões tudo é de aproveitar para infiltrações.
A sua posição política e moral estão definidas no seu site que diz:
"A Plataforma 15 de
Outubro conhece bem o modelo de criminalização dos movimentos sociais em
prática. Através da calúnia, a difamação, a má edição e a manipulação de
informação, os media nacionais deturpam a realidade e estão a serviço do
governo, do capital e do sistema que nos rouba o presente e o futuro.
Também a P15O foi
por diversas vezes vítima deste comportamento discriminatório e difamatório.
Não aceitamos, não nos calaremos, conscientes que a luta contra a
criminalização do protesto e dos movimentos sociais, bem como a luta pela
liberdade de expressão e reunião é uma luta comum. A Plataforma 15 de Outubro
vem desta forma solidarizar-se com o RDA69."[3]
Nos cânticos de descontentamento, além de Passos Coelho e Paulo Portas, os mais
atingidos foram “Crato” e “Gaspar”. Ao primeiro diziam-lhe que não o queriam
mais, ou então que os escolhesse para seus motoristas; ao segundo, considerado como o ciclope, mandavam-no “para o inferno”:
Finalmente, foi dada a ordem de partida em
direcção ao Rossio. Os cânticos de reprovação principalmente contra o Ministro
da Educação foram ininterruptamente entoados, indo de encontro aos
edifícios da Avenida da Liberdade fazendo ricochete, como o deverão fazer ao
bater nos ouvidos dos nossos governantes que estão plenamente convencidos de que o caminho por eles escolhido, é o único
que pode salvar o nosso pobre país.
Meditando
comigo mesmo, ao ponto de um colega me chamar à atenção pela minha tristeza,
saí-me com uma lamentação que me fez recordar o “Velho do Restelo”[4], tão
sabiamente descrito pelo nosso grande Camões. Nesse tempo, quem teve razão? O velho
ou aqueles que mandavam para os mundos desconhecidos os “afoitos
descobridores”?
Será que as palavras desse “Velho”, cheio de
experiência e sabedoria poderão ser aplicadas aos nossos contemporâneos?
Recordemos o seu lamento e cada retire dele as conclusões que encontrar mais apropriadas:
C IV, estrofe 94
Mas um velho, de aspecto
venerando,
Que ficava nas praias, entre
a gente,
Postos em nós os olhos,
meneando
Três vezes a cabeça,
descontente,
A voz pesada um pouco
alevantando,
Que nós no mar ouvimos
claramente,
C'um saber só de
experiências feito,
Tais palavras tirou do
experto peito:
95
- "Ó glória de mandar!
Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem
chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se
atiça
C'uma aura popular, que
honra se chama!
Que castigo tamanho e que
justiça
Fazes no peito vão que muito
te ama!
Que mortes, que perigos, que
tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
|
96
- "Dura inquietação
d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e
adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de
impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te
subida,
Sendo dina de infames
vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória
soberana,
Nomes com quem se o povo
néscio engana!
97
- "A que novos
desastres determinas
De levar estes reinos e esta
gente?
Que perigos, que mortes lhe
destinas
Debaixo dalgum nome
preminente?
Que promessas de reinos, e
de minas
D'ouro, que lhe farás tão
facilmente?
Que famas lhe prometerás?
que histórias?
Que triunfos, que palmas,
que vitórias?
|
- “A ver vamos”, dirão os cegos que, segundo eles, somos todos nós!
O pior é que muitos já cá não estarão para ver o verdadeiro resultado. O que vemos, porém, já, de momento, é muitos a rebuscarem nos bolsos alguma pequena moeda perdida, enquanto outros se lamentam, dia-a-dia, da sorte … triste … de não terem com que pagar os impostos que continuamente estão a chegar a casa! Hoje é o IMI, amanhã será o IRS, e, logo a seguir, as contas da electricidade, e do gás! Ah! É verdade... e as contínuas lucubrações de cabeça para desencantarmos dinheiro para pagar os medicamentos que continuamente estão a ser necessários e para a alimentação e as despesas escolares dos filhos e/ou dos netos …
Sim, dos netos, porque já se instalou entre nós o
amargo costume de serem os avós a substituir os pais de
muitíssimos dos nossos alunos. O “velho de todos os lados” que não apenas o do
“Restelo” já vive, também ele, num “presente medonho e incerto”, cujos “marinheiros” têm
de ser mais “afoitos” e mais “heróicos” do que aqueles que enfrentaram as ondas
dos mares “nunca dantes navegados” e as gentes “nunca dantes vistas
nem imaginadas” dos portugueses dos séculos XV e XVI!
Pela avenida abaixo, tudo sem incidentes, alguns
de nós íamos comentando esta situação e lamentando apreensivamente
o futuro que estamos preparando para os nossos filhos e netos! Oxalá nos
enganemos, mas não parece ser muito risonho! O presente deixou de sorrir a
muitos! As dívidas que outros contraíram e que estão pesando sobre todos os presentes continuam
a aumentar e não se descortina nada de alegre ao fundo do túnel!
Se esta manifestação de cerca de 40.000
professores, segundo
números avançados pela FENPROF[5]), não
servir para abanar os responsáveis da equipa governamental que a muitos, como a
mim, tem desiludido, serviu, ao menos, para o reencontro de muitos e velhos amigos
de profissão que, apesar de desligados já do seu múnos por motivos da sua
avançada idade, ou por terem sido transferidos para outras zonas, há muito, não
se reviam.
Mas os laços de amizade e de profissionalismo
jamais serão rompidos! Ainda bem que assim acontece. Para que tudo possa terminar em bem, e não haja
mais necessidade de voltarmos a manifestar publicamente o nosso desagrado, aqui
fica um pedido elucidativo, dirigido ao mais alto responsável pela política
actual, Passos Coelho:
enquanto se lhe pedia, encarecidamente, que mandasse Miguel Relvas para a escola, de modo a que pudesse aprender alguma coisa de mais útil para o País:
Segundo muitos, a razão deste imperativo encontrava-se bem patente no cartaz
seguinte que assim dizia:
No caso negativo, o destino que lhes está reservado não poderá ser outro senão o do fracasso total que os conduzirá à morte. Este fracasso, porém, não os afectara somente a eles, mas a todo o Sistema Educativo:
Terão as escolas a coragem de por em prática tal desafio, ou será que o "processo da rolha" irá impedi-las?
A propósito do exercício do poder recordemos algumas frase de grandes e célebres pensadores:
Referências
[1]As fotos sobre a manifestação que publicamos foram retiradas do Diário de Notícias?, site: http://www.dn.pt/galerias/fotos/?content_id=3017574&seccao=Portugal e pertencem a Foto © Leonardo Negrão/Global Imagens.
A propósito do exercício do poder recordemos algumas frase de grandes e célebres pensadores:
Platão |
Jean Jacques Rousseau |
Victor Hugo |
O preço a pagar pela não participação na
política é
seres governado por quem é inferior.
O que mais vale não é viver, mas viver bem.
|
Uma sociedade só é democrática quando:
- Ninguém for tão rico que possa comprar alguém;
Ninguém for tão pobre que tenha de se vender a alguém
|
Entre um governo
que faz o mal e o povo que o consente, há uma certa cumplicidade vergonhosa. |
Nascido na
ilha de Egina ou em Atenas, cidade de seus pais entre os anos 427/428 e aqui
veio a falecer em 347 a.C.
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Nascido
em Genebra a 28 de Junho de 1712 e falecido em Ermenonville a 2 de Julho de
1778.
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Nascido em
Besançon a 26 de Fevereiro de 1802 e falecido em 22 de Maio de 1886 com 84
anos.
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Referências
[1]As fotos sobre a manifestação que publicamos foram retiradas do Diário de Notícias?, site: http://www.dn.pt/galerias/fotos/?content_id=3017574&seccao=Portugal e pertencem a Foto © Leonardo Negrão/Global Imagens.
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