MOÇAMBIQUE 2003 (VII)
ÍNDICE
CAPÍTULO III: CONTINUAÇÃO DO LEVANTAMENTO DAS CASAS
1- Visita De Reconhecimento
01 Agosto 2003 (6ª Feira) – Nas Chocas-Mar
·
Correios,
Telefone, Transportes, Água,
·
Continuação
do desenho da Casa Grande
·
Correios
Esta
manhã, levantámo-nos uma hora mais tarde. O serviço a ser levado a cabo não
exigia horário rígido. Saímos para a varanda a apreciar a paisagem – mar calmo
com o sol bastante fraco e quase envergonhado.
Não
sei, por que motivo o António perguntou onde eram os Correios. Suponho que foi
mais por curiosidade. Eu nunca os tinha visto, nem sabia se e onde existiam.
Recorremos ao nosso cicerone habitual quando se trata de coisas cá da Terra, o
Raimundo. Ficámos a saber que, aqui, não existem. E o mais grave e para admirar
(porque no tempo da outra senhora existiam, sim senhor), é que nem no Mossuril
a gente de hoje não ouve falar em tal coisa. O Raimundo diz que os novos não
sabem o que isso é. E quando lhe perguntámos se alguém escrevia ou recebia
cartas ele riu-se, dizendo que tal luxo não é permitido, aqui. Só existem no
Namialo.
Telefone
Quanto
ao Telefone a situação é parecida. Em toda a Vila das Chocas só existe um posto
de serviço com duas cabines sem telefone, mas um telefone sobre a mesa do
oficial de serviço. É dali que se telefona, sem alguma privacidade. Ficha para
Internet, não há o que não é para admirar. Estes bens, para nós indispensáveis,
não existem nas residências em qualquer outro lugar desta vila. Na Vila do
Mossuril existe também um posto público e, talvez, exista no posto de trabalho
do Sr. Administrador. O que é mais incrível é que é um bem que não existe no
Centro Médico de qualquer uma destas duas vilas.
Transportes
Transportes públicos não
existem, praticamente. A circulação de pessoas e bens é feita, com dificuldade,
por particulares através de carrinhas de caixa aberta – “Chapa 100”- que
excedem habitualmente a lotação permitida. É usual verem-se carrinhas sobre as
quais se amontoam material, e pessoas em número e peso deveras excessivos. Como
eles se empoleiram uns em cima dos outros é que é para admirar e digno de ser
registado por fotógrafos profissionais ou por simples amadores.
Estações de Serviço
Relativamente
a Bombas de Gasolina, a situação é idêntica, distando sessenta quilómetros
daqui. As que, em tempos idos, existiram, nas Chocas e no Mossuril estão agora,
desactivadas. Os condutores de viaturas, têm de andar sempre com um depósito de
reserva, atrás, se não quiserem ficar no caminho à espera de alguém que os
possa e queira “desempanar”.
Estradas
Já
agora, falemos um pouco das Estradas. De Nampula até aqui são sensivelmente
200km. O piso tem de tudo. Logo à saída da capital provincial temos vários
quilómetros de estrada crivada de buracos. É certo que se vêem trabalhos de
beneficiação, assim como montões de brita acumulada junto aquilo que entre nós
se chamam bermas, mas tudo parece andar a passo de caracol. Do Namialo até
Nacala e a variante que vai até à Ilha estão em bom estado, depois de terem
sido renovadas. Desta variante até ao Mossuril temos 34 km de picada que,
depois de ter sido beneficiada por uns benfeitores estrangeiros se vai
degradando, de ano para ano. O mesmo vai acontecendo aos 14 km que medeiam
entre essa vila e a das Chocas-Mar e aos dois quilómetros que vão do Mossuril à
aldeia e Plantação de Saua-Saua.
Recursos hídricos – Água
Quanto
a este bem necessário, as coisas parecem ainda piores. Falar de água canalizada
nem chega a ser um sonho. A vila de Chocas-Mar possui um Reservatório que a
distribui por 4 torneiras (agora apenas três funcionam) instaladas mesmo em frente
ao reservatório, à entrada da vila, debaixo duma frondosa Borracheira, onde
aflui uma grande parte da população.
Também,
entre a Escola antiga, agora abandonada (embora ainda em estado razoável e
apresente arquitectura melhor e mais funcional do que a actual, construída por
americanos) e a Capela existem dois poços cujo nível desce e sobe consoante a
variação das marés. Se antes estes forneciam água a um chafariz (hoje em
ruínas), por meio de bombas elevatórias, actualmente continua a fornecê-la a todos
aqueles que ali vão tirá-la por meio de cordas e canecos.
As
pessoas dos povoados mais do interior percorrerem quilómetros com jarricans ou baldes para tirá-la dos
poucos poços que estão de boca aberta no meio do matagal. A maior parte leva
consigo um bambu ou um varapau em cuja extremidade se encontra atada ou
espetada numa vasilha plástica cortada ao meio ou a parte inferior duma garrafa
ou dum garrafão para o vasilhame de transporte. Essa água, porém, é imprópria
para beber, na maior parte dos casos, necessitando, portanto, de ser fervida,
caso contrário provocará diarreias e outras doenças
Nestas
circunstâncias torna-se muito difícil, para não dizer impossível, transformar
uma sociedade. Não admira, pois que muitos prefiram viver como e com a natureza!
Desilusão
A
meio da manhã ouvimos buzinar. Cheios de esperanças, saímos para ver. Ao portão
estava um carro azul. À primeira vista julguei ser o nosso carro, mas depressa
desfiz essa ilusão pois, tanto o condutor como o seu pendura eram de raça
negra. Viemos a saber, depois de terem saído, que eram emissários enviados pela
Firma JFS do Namialo. Vieram trazer-nos batatas, cebolas, azeite carne,
refrigerantes e carvão. A Dra. Fátima deve ter comunicado de Maputo com a
sucursal do Namialo, depois de saber da partida da sua prima, Dra. Tabita.
Por
meio deles soube o Raimundo que os nossos sócios tinham partido de Maputo
quarta-feira e que, pelos cálculos que eles fizeram, tendo em conta o mau
estado e a longa distância do trajecto, chegariam a Nampula lá para o dia oito
de Agosto.
2- Desenho da Casa Grande
São,
presentemente, 11 horas. O António continua à volta do desengano da Casa
Grande. Depois do almoço dará por terminada esta tarefa. De facto a casa
grande, é mesmo grande sob todos os aspectos. Os recortes e partes circulares
complicam a tarefa.
São
já a quinze horas e a tarefa não está concluída. Teremos de interromper os
trabalhos e ir ver se temos alguma mensagem sobre os nossos sócios.
Houve
uma mensagem do meu sobrinho Tiago para incriminar o pai de “se ter esquecidos dos filhos”. Nesse
mesmo momento telefona a minha cunhada, Cândida, pela qual soubemos que tudo
estava a corre bem, lá pela Guarda. Dos nossos sócios, porém, é que nem sombras
de tipo algum.
Preocupação com os nossos sócios
Após
o almoço o trabalho continuou até às dezasseis horas, altura em que nos
levantámos e fomos aos correios. Telefonámos ao Sr. Raul Amarchande através do
qual soubemos que os nossos sócios não tinham comunicado com Nampula. Ele
supunha-os ainda em Maputo enquanto a nós nos tinham dito que teriam partido
daí na quarta-feira (já passada). Soubemos também por ele que a viagem do Eng.
António Matias estava já confirmada para o dia oito de Agosto e garantiu-nos
que, se necessário, providenciaria o nosso transporte para o dia anterior à
partida daquele, de modo a que as coisas se desenrolassem nas calmas.
Nos
correios ainda nos rimos bastante com o oficial, Valentim, um jovem sportinguista que torce para que, esta
noite, o Benfica sofra contra o Boavista.
De
caminho a casa comentámos o atraso e contratempos que devem ter tido e pelos
quais estarão ainda a passar presentemente os nossos sócios por via do
malfadado carro. Será que procuram solucionar o caso da legalização? O mal é se
ficaram por lá no meio dalguma picada, sem gasolina ou com alguma avaria. E o
pior é que, mesmo que sejam três, um apenas a mais do que grupo que veio à
frente, não têm com eles nenhum nativo que os acompanhe! Isto fez-me lembrar as
recomendações que a Tabita nos deu: “Nunca
andem sozinhos....levem sempre o Raimundo convosco”. Imaginem, vocês....
Tanta preocupação por quem está praticamente em casa e entre os seus e eles a
fazerem-se valentes entre um mundo desconhecido: estradas, caminhos ou picadas
de mais de dois mil quilómetros, povoados de imprevistos, aos montes! Bem, cada
um sabe de si!
Agarrados, de novo, ao trabalho,
eu escrevi para você estes apontamentos e o meu irmão António deu os últimos
retoques ao trabalho que o trouxe a estas terras africanas. São as dezassete
horas e vinte e cinco minutos. Parabéns! É tempo de descansar, de passear e de
aproveitar da praia. Mas, desta, só a partir de amanhã, pois hoje já é noite.
Esta chega aqui muito cedo!
José
Matias saboreando um coco
Foto
de Eng. António Matias
Estado
lastimoso da Plantação
Foto
de Eng. António Matias
Planta de implantação (Eng. António Coelho Matias)
Legenda:
CASAS
|
RESTANTES
EDIFÍCIOS
|
Nº 1= Câmara Frigorífica
|
|
Nº 03 = 4ª Casa
|
Nº 2 = Armazém de Nascente
|
Nº
04 = 3ª Casa
|
Nº 5 = Nascente principal da
Água
|
Nº 06 = 5ª Casa
|
Nº 7 = Fábrica do Algodão
|
Nº 10 = Casa/Recepção
|
Nº 8 = Casa das Máquinas
|
Nº 13 = 2ª Casa
|
Nº 9 = Posto Médico
|
Nº 14 = 1ª Casa
|
Nº 11= Fábrica de Arroz
|
Nº 17 = Casa Grande
|
Nº 12 = Oficinas de Automóveis
|
Nº 15 = Armazém do Algod
|
|
Nº 16 = Carpintaria
|
02 Agosto 2003 (Sábado) – Nas Chocas-Mar
·
Sem
novas,
Continuamos sem novas
Enquanto
nós os dois, António e José continuamos em Chocas-Mar, separados de tudo por
falta de transportes, os nossos sócios debatem-se, possivelmente, com
dificuldades e obstáculos, sem conta, nas picadas que medeiam Maputo e Nampula.
O que lhes tem acontecido é por nós ignorado em absoluto, pois desde a
terça-feira, dia em que ainda se encontravam na capital até ao momento, nunca
mais foi possível contactá-los nem por mensagens gravadas, nem por outro meio
qualquer.
Secagem do Polvo
Foto
de António Matias
Também
aqui tem havido dificuldades no alcance dos telemóveis como no sistema de
abastecimento de água e luz. Vários têm sido os cortes de luz e a bomba que nos
eleva a água para o depósito da residência está avariada. Só na segunda-feira é
que os técnicos responsáveis poderão ser avisados.
E
como, o trabalho que nos competia já está terminado, resolvemos contactar o Sr.
Adamo para nos levar de visita à Ilha, amanhã e ir connosco comprar material de
construção a Nacala, na segunda-feira. Por outro lado, se, no dia sete ainda
não tivermos o nosso carro, aqui, trataremos com o Sr. Amarchande para nos
providenciar transporte para Nampula, de modo a que o António tome o avião, às
dez horas e trinta para Maputo e Lisboa, no dia seguinte.
“Horta-rua” nas Chocas-Mar
Foto
de António Matias
Entretanto,
e com todas as calmas, vamos dando os nossos pequenos passeios na praia, e na “rampa das telecomunicações” na
expectativa de captarmos alguns sinais de esperança tanto deles como de outros
nossos familiares. A partir de alguns populares soubemos que o Benfica tinha
ganho, ontem, ao Boavista por dois a zero, golos de Cristiano e Simão Sabrosa.
Mas, como hoje os telemóveis não conseguem captar nada, devido a avaria no
sistema nacional, segundo o oficial dos telefones da Vila, resolvemos utilizar
o posto público, tendo ficado a chamada em 79.000,00Mts.
Construção
de uma casa moderna
Foto
de António Matias
CAPÍTULO QUATRO: NA ILHA DE MOÇAMBIQUE
03 DE AGOSTO DE 2003 (DOM.): ILHA E CHOCAS
·
Distância
entre Chocas e Ilha de Moçambique,
·
Postos
de abastecimento de combustível,
·
Na
Ilha,
·
Contacto
com os nossos sócios
Distâncias entre Chocas e Ilha de Moçambique
Como
os nossos sócios ainda não comunicaram connosco depois que saíram de Maputo, e
supomos que isso aconteceu na quarta-feira, dia 27 de Julho, e como o António
deve partir de Nampula para Maputo na sexta-feira, às dez horas, estamos em
crer que não terá tempo para dar umas voltas por estas bandas. Por isso
resolvemos ir visitar a Ilha, neste dia três de Agosto
Deste
modo, combinámos com o Adamo para vir buscar-nos às Chocas, por volta das seis
da manhã e levar-nos à Ilha, andando ele connosco até ao meio-dia.
Partimos,
pois das Chocas às seis e meia e percorremos 12 km até ao Mossuril, onde existem dois desvios de 2,5 a 3 km para a Plantação de Saua-Saua. Daqui arrancámos para Naguema
pela Estrada Nacional 222, fazendo 20 km.
Estes
22 quilómetros foram percorridos durante uma boa hora e meia, porque parava em
todos os lugarejos e ao longo da picada para pegar e largar passageiros que se
iam amontoando como bolas e lâmpadas numa árvore de Natal. Em Naguema saíram
cerca de trinta, sem exagero.
Picada
entre Naguema e Chocas-Mar, depois de arranjada
Foto
de António Matias
De
Naguema ao Lumbo, onde existe um Aeródromo medeiam 18 km pela Estrada Nacional 105 e a partir daqui até à entrada na
Ponte que leva à Ilha são mais 2 km
aos quais se devem adicionar 3,250 km
de ponte, para pisar a Terra que em 1498 foi palco da chegada dos primeiros
portugueses.
A partir destes números podemos
estabelecer a distância que vai da Plantação de Saua-Saua ao Aeródromo (3+20+18
= 41km) e a que vai da mesma até à Ilha de Moçambique (3+20+18+2+3,250= 46,250 km). Do Aeródromo do Lumbo voa
uma avioneta com destino a Nampula e Pemba, fazendo o trajecto em forma
triangular, às terças e quintas-feiras. Parte de Nampula e passa pelo Lumbo,
indo, finalmente a Pemba, onde permanece até à quinta-feira, dia em que refaz o
mesmo trajecto de regresso.
Postos de abastecimento de combustível, maneira e preços
O
que aqui se pode chamar “postos de
abastecimento” não podem vocês imaginar aí o que seja. Talvez pensem que
são como as nossas estações de serviço ou, pelo menos, como as nossas bombas
antigas. Aqui, na zona, bombas parecidas às vossas, mas ainda mais modestas só
existem duas: uma no Monapo e outra na Ilha. Entre as outras localidades existe
outra espécie de postos: os de garrafões
de cinco litros, garrafas de litro e meio ou de litro sobre uma tábua, à
beira da estrada, nas pequenas localidades. E sirva-se o cliente porque senão
terá de ficar em terra ou à espera horas e horas por alguém que o venha
desempanar.
Os preços, aqui praticados, são
um tanto mais elevados do que nas Bombas normais mas compensa quando se têm estas
a longa distância. O litro do gasóleo custa nestes postos entre 11.000,00
meticais (no Lumbo) e 12.000,0 meticais (nas Chocas), enquanto nas Bombas
normais custa 10,250,00 meticais; o óleo para o motor para ambos os tipos de
motor custa nas Bombas e nestes postos 30.000 meticais.
Regresso
da fonte
Foto
de António Matias
Ao chegarmos à Ilha, o Eng. Matias ficou
maravilhado com a Ponte que lhe dá acesso.
Ponte
de acesso à Ilha de Moçambique
Foto
António Matias
Depois de a atravessar, seguimos,
de carro, pela marginal do lado esquerdo de quem entra na Ilha. À medida que
íamos avançando abriam-se-nos os olhos de admiração perante o que víamos à
nossa frente: ruas sem concerto, casas fantasmeadas,
crianças, adultos, jovens e anciãos em trajes reveladores das necessidades mais
básicas.
Seguindo mais adiante fomos dar
ao Estaleiro que fica por detrás da Mesquita principal. Mas coisa inaudita e
inacreditável! A praia de areia que, um dia, fora branca, encontrava-se agora
conspurcada com lixo, algas e excrementos humanos em tal abundância que avançar
sem ver bem onde se punham os pés seria arriscado e imprudente. Tais cogumelos imprevistos
pululavam por todo o lado, exalando um cheiro nauseabundo.
Um dos
edifícios já recuperados
Foto
de António Matias
Deixando para trás esta visão
dantesca acelerámos a nossa descoberta. Chegámos à praça ou largo da Alfândega
e ao Palácio Governamental. Este, servindo hoje em parte de museu, com a Igreja
soberba que se levanta ali contígua, foi, na sua origem, construída pelos
Jesuítas para seu primeiro Colégio[1] na
Ilha. Em frente ergue-se a estátua de Vasco da Gama à qual lhe faltam ainda as
placas comemorativas e respectivas inscrições[2].
Palácio do Governo
Foto
de António Matias
Visitámos, também, a casa
que, nos tempos áureos da Família Ferreira dos Santos, serviu de centro do seu
empório africano, mas que, neste presente se encontra praticamente abandonada,
sendo utilizada por alguns inquilinos sem que nem renda pagam a ninguém.
Casa-mãe
da Firma João Ferreira dos Santos
Foto
de António Matias
Seguimos, depois para a
Fortaleza. Ali e mesmo já antes, o meu irmão António fez uma série de
fotografias que ficarão para memória da nossa passagem.
Entrada
da Fortaleza
Foto
de António Matias
Finalmente fomos até ao Mercado,
onde pudemos presenciar a pouca variedade e abundância de víveres e Meneses
fregueses ainda. Lá fizemos as nossas compras, que não foram além de batatas,
fruta e limões. A propósito leia o parágrafo que se segue e aprenda a fazer compras.
Maqueta
do Forte
Foto
de António Matias
No topo da Fortaleza
Foto
de José Coelho Matias
4- Costumes a conhecer
Sabe o que significa a expressão
“cinco conto cada lugar”? (sic).
Talvez saiba ou talvez julgue que sabe. Seja como for, aqui vai a explicação.
Esta manhã, já sobre as onze e meia, dirigimo-nos ao mercado. Ao apreçarmos a
fruta, neste caso a tangerina perguntámos:
-
Quanto custa a tangerina?
-
Cinco conto cada lugar.
-
Está bem, meta no saco
Reparámos e ficámos boquiaberta
quando vimos a mulherzita a meter dentro do saco apenas 4 tangerinitas de casa
verde como a lima.
-
Só, perguntei?
-
Sim, cada lugar custa cinco conto
(sic), respondeu a mulher apontando para os vários montículos de tangerinas.
Reparando melhor, olhámos e
vimos que, de facto, as tangerinas estavam todas agrupadas em conjuntos de 4,
colocadas umas sobre as outras em forma de cone. Este conjunto (vejam bem os de
matemática!), chama-se, aqui, “um lugar”. Ainda rimos, no momento
juntamente com a mulher e vizinha, e continuamos a repetir a risada, cada vez
que nos vem a memória o caso.
Contacto com os nossos sócios
Finalmente, conseguimos
contacto. Eram 21,30 horas quando conseguimos contactar com o Adelino que se
queixava de nunca nos apanharem. Claro. O nosso posto de telecomunicações é
variável consoante o vento. Nem sempre que ali nos deslocamos, e são muitas as
vezes que o temos feito, conseguimos rede.
Estão em Quelimane e desta
cidade até Nampula vão ainda uns bons 200 quilómetros. Será que chegam amanhã,
ou depois de amanhã?
Neste momento o Benfica está a
ganhar ao Leixões por uma bola a zero, golo de Tiago, depois do jogo ter
começado há poucos minutos. Agora, mesmo, marca o segundo golo, feito por
Hélder. Mais alguns minutos e está feito o resultado de três a zero na primeira
parte.
É a final do torneio realizado
no estádio do Beça para comemorar o seu 1º centenário de existência como clube.
Os clubes que tomaram parte nele foram Benfica (2) contra o Boavista (0);
Leixão (5) contra o Sporting (4), indo à final o Benfica contra o Leixões, tendo
já sido apurados os 3º e 4º lugares (Sporting e Boavista respectivamente). Tudo
leva a crer que a taça seja ganha pelo Benfica.
CAPÍTULO CINCO: NAS CHOCAS-MAR E EM NACALA
04 Agosto 2003 (2ª Feira) Em Casa nas Chocas-Mar
·
O
1º Mergulho,
·
Sinal
da antena mudado ou....
1º Mergulho do ano
Hoje
foi o dia do meu primeiro mergulho deste ano, nas Chocas. De manhã o tempo
parecia desagradável, mas aí pelas nove horas, irrompeu o sol com coragem e
começou a aquecer. Levados por este “aquecimento” e livres já dos compromissos
assumidos perante a Direcção da Mossáfrica e da Patroa, fomos ver a praia e
decidimos dar por ela um passeio.
Belas
e antigas Casuarinas na Praia das Chocas
Foto
de António Matias
Daí a pouco eu não resisti e lancei-me
à água por duas ou três vezes, desenferrujando os meus músculos dos membros e
do tórax. A água, aqui, é límpida e azulinha, principalmente quando está sem
algas, como era o caso de hoje.
Praia das chocas
Foto
de António Matias
De
quando em vez passavam barcos, tanto à vela com remadores a cantar para acertar
o esforço dos remadores, como pirogas de menor porte com dois pescadores ou um
apenas, de camarão no anzol e este na ponta da linha em busca de enganar um
peixe desprevenido ou faminto.
Sinal da antena mudado ou enfraquecido
Já desde sexta-feira, à noite,
que notámos diferenças quanto à captação das ondas que permitem o contacto
humano, via telemóveis. Hoje, assim como nesses dias anteriores, tentámos
várias vezes ligar o telemóvel, mas sem resultados palpáveis. Tornou-se quase
impossível o contacto. Perguntamo-nos várias vezes se o defeito seria do
alcance da antena, ou se, pelo contrário, teria havido alguma avaria, ou,
mesmo, se teria havido mudança de direcção dessa mesma. Não sabemos o que terá
acontecido. Só sabemos que, nos lugares onde normalmente tínhamos rede, nestes
dias não existiu predicamento. Ainda depois do almoço, que hoje foi apenas às
15.45 horas (!?) experimentámos, mas nem sinal conseguimos ter.
Deste modo, será difícil saber
quando é que chegam os nossos sócios. O Raimundo tem para si que chegarão esta
noite...., lá sobre a madrugada! “Feelings”
de quem espera pela “patroa” que prometera ser a madrinha do seu Joãozinho.
São precisamente dezoito horas.
O meu irmão lê tudo o que vem nas poucas revistas que vieram de Lisboa, mesmo
aqueles artigos e notícias que já sabe quase de cor. É que não há nada para
ler, o trabalho está terminado e não temos meios de nos deslocarmos senão
alugando “Chapas 100” que nunca nos levam sem sermos acompanhados por um magote
de gente que, ora sobe aqui e ali, ora desce lá e acolá. E, nós os dois, na
cabine com o motorista, apertadinhos como varas atadas num molho! Quando o
nosso carro chegar já não haverá tempo para darmos umas voltinhas com o meu
irmão que tem sido um santo de paciência a ser devidamente enaltecida! Desta
vez a sua experiência em terras africanas ficou-se pelo trabalho e pela pobreza
que por aqui tem visto!
05 Agosto 2003 (3ª Feira) Ida a Nacala
·
Chegada
dos nossos sócios,
·
Ida
a Nacala,
·
Estado
lamentável da picada
Chegada dos nossos sócios
Por volta das quatro horas da
manhã, chegam às Chocas-Mar, a Tabita Almeida, o Adelino Torres e o Jorge
Rodrigues, depois de uma viagem longa, atribulada, mas de recordações para o
futuro. Vinham num belo Nissan, 4x4, que adquiriram em
Joanesburgo, entrando na aquisição Tabita Almeida, Jorge Rodrigues, Adelino
Antunes e José Matias. Esta viatura vai ser de muita utilidade a todos os que
por aqui passarem. Depois de uns momentos de conversa fomo-nos deitar para nos
levantarmos, por volta das sete, no intuito de irmos a Geba ver as fábricas do
caju e do sisal.
4- Ida a Nacala
Como nos atrasámos por diversos
motivos, a nossa programada ida a Geba teve de ser protelada para o dia
seguinte. Passámos, por isso o resto do tempo apenas em Nacala. Como não
pudemos falar com o Sr. Ciríaco antes do almoço, pois já chegámos a horas
deste, fomos almoçar ao complexo turístico Napala
que se situa na Praia Fernão Veloso, onde uns comeram camarão frito, outros camarão
grelhado e outros ainda um T bone, à
sul-africana.
Preços de Alojamento
- Tipo 1 - 40 USA $,
- 1 cama de casal
- Tipo 2 – 70 USA $
- (1 Cama de casal,
- Dois beliches,
- Suite 1 Cama de casal grande – 55 USA $
- WC,
- Sala,
- Cozinha
Falámos com o Sr. Ciríaco e o
seu novo colega que com ele fica a gerir a Empresa JFS. Encontrámos igualmente
o Eng. Frederico que foi transferido do Gurué, onde o encontramos o ano
passado, para Geba. Ainda antes de termos esse rendez-vous, encontramo-nos com o Sr. Domingos, condutor da mesma
Empresa, esse mesmo que, há três anos (Agosto 2001), nos serviu de condutor
durante a nossa estada nas Chocas e Saua-Saua.
Na
conversa tida com o Sr. Ciríaco, ficámos ao corrente das contas relativas aos
gastos com os trabalhadores e materiais para Saua-Saua e da situação em que
ficou esta mesma a partir do mês de Abril, isto é: sem guardas, por terem sido
todos despedidos. Despedimento esse que sucedeu sem a Tabita ter sido informada
por parte dos Gerentes da Firma JFS, procedimento que nos causou muita
admiração.
Estivemos também na Casa
Comercial Rassul Trading, onde
conversámos com um empregado Português, chamado Fernando Cunha. Esta Casa
comercial deverá pertencer ao grande complexo Rassul que se encontra à entrada de Nacala, do lado esquerdo.
Pelos
preços que notei nas bombas de água, parece-me que não compensa levar daqui
material, a não ser que vá num contentor. Em pequeno número não merece a pena.
Estado lamentável da Picada até ao Mossuril
A
picada que vai de Naguema até ao Mossuril e daqui às Chocas encontra-se muito
mal conservada. E o seu mau estado agrava-se de dia para dia. Se não houver
quem lhe dê a mão, daqui a dois ou três anos ficará completamente
intransitável. É que as chuvas não perdoam e o tráfego é cada vez mais intenso.
CAPÍTULO SEIS: VISITA A GÊBA E PREPARATIVOS DO REGRESSO A LISBOA DO ENG. ANTÓNIO MATIAS
06 Agosto 2003 (4ª Feira) Ida A Gêba
·
Percurso
de Naguema a Geba,
·
Visita
à Fábrica do Caju,
·
Regresso
e sessão de anedotas
Percurso de Naguema a Geba
Saindo
às oito horas, dirigimo-nos a Geba, passando por Nacala Velha,
antigo porto natural, utilizado pelos portugueses. A estrada que ali ia dar e
que, no ano passado estava em muito mau estado, encontra-se, agora, remendada
tendo transformado o seu visual e concedendo percorrer todos aqueles
quilómetros em muito menos tempo e mais segurança. A própria picada que vai
dali a à vila “Sete de Abril” também se encontra em estado bastante bom. Mau
está o troço que vai dessa vila às Fabricas de Caju e de Sisal de JFS.
Visita à Fabrica do Caju
À
chegada à Fábrica de Caju demos com o Sr. Vítor Pires e seu colega a sair, de
camioneta. Ao verem-nos chegar voltaram para trás para nos receberem e nos
acompanharem na visita à fábrica.
Residência da JFS em Geba
Foto
de António Matias
A visita era motivada pelo
interesse que o Eng. António Matias tinha mostrado em ver como o caju era
tratado. Algo de diferente que encontrámos comparativamente ao ano passado foi
a eliminação da calibragem, ou seja, da separação do caju por tamanhos, feita
por meio dum crivo em forma de tubo e rotativo como explicámos na crónica do
ano passado.
Máquina de descasque do caju
Foto
de António Matias
Regresso e sessão de anedotas
A
regressaremos às Chocas o caminho estava a parecer-nos um tanto cansativo e o
ambiente ia-se tornando pesado, à medida que a noite se aproximava. Para evitar
o sono da condutora, comecei por contar anedotas, o que motivou um outro
ambiente. Era ver o Raimundo a desfazer-se em riso e a fazer comentários à
anedota que ouvira. Daí em diante e até às Chocas as anedotas foram-se
sucedendo de maneira hilariante. Ainda hoje, o Raimundo se ri quando me vê e
recorda essas horas que, afinal se tornaram inesquecíveis.
07 Agosto 2003 (5ª Feira) Ida a Saua-Saua
Fixação de funções para os diversos edifícios,
Saída do Eng. António Matias
Fixação de funções para os diversos edifícios
Pela manhã dirigimo-nos a
Saua-Saua, com a intenção de fixarmos a função a desempenhar no futuro por cada
edifício. Fizemos ainda a medição interior das casas A, B, C, D, E, tendo chegado
à conclusão de que todas elas podiam ser divididas em duas belas suites. O Eng.
António tomou nota de todas as modificações a serem introduzidas. Esperamos
que, em breve, nos apresente o projecto de construção, neste caso de
reabilitação.
Após este trabalho, todos nós
bebemos um refrescante e delicioso líquido que é o produto dos coqueiros da
Dra. Tabita e regressámos a casa para almoçar.
Saída do Eng. António Matias para Nampula
Depois do almoço preparámo-nos,
a Tabita, o António e eu para partirmos para Nampula. Aqui ficaríamos a dormir,
num pequeno apartamento da Firma JFS. Fomos jantar ao Hotel Tropical, onde nos
foi servida uma bela lagosta.
Prédio
JFS em Nampula
Foto
de António Matias
08 Agosto 2003 (6ª Feira) Partida do Eng. António Matias para Maputo e Lisboa
·
Visita
à cidade de Nampula
·
Visita
ao Sr. Raposo
·
Contas
em dia
Visita à cidade de Nampula: custo de blocos e brita
Hoje fomos falar com o Sr.
Figueiredo a quem a Tabita ofereceu dois bonés e este encarregou-se de expedir
a mala de meu irmão e foi-nos servir de “intérprete”
no aeroporto. Mas sempre acompanhado dos seus auxiliares.
Demos umas voltas pela cidade;
fomos ver a Barragem, mas não
podemos entrar, visto estar em recuperação todo o complexo anexo. Nesta visita
pudemos verificar:
- A localização do Instituto Superior do Magistério Primário (ISMA), logo quase à saída de Nampula
- A Fábrica de Coca-Cola,
- A feitura de blocos de cimento com máquinas rudimentares e na proporção de 1 carro de mão de cimento para cinco de areia (a mistura é feita com quase nenhuma água. A massa fica quase seca; Cada bloco custa 4.000,00 Mt.
- Partida de pedra para fazer brita: Cada “lugar” (monte que encheria uma lata de 20 litros), custa 20.000,00 meticais;
- Duas pedreiras, utilizadas para dela se fazer brita, mas tudo, ali, é feito manualmente.
O complexo da barragem e anexos,
como a piscina e restaurante, estavam, agora vedados aos visitantes e parece
que, ou andavam a remodelar tudo, ou já o tinham feito. Pelo menos a entrada
não apresentava o aspecto desolador do ano anterior.
Embarque do Eng. António Matias
Acompanhámos o Eng. António
Matias até ao Aeroporto. Ao passar pela alfândega revistaram-lhe o saco e o
computador. Este foi visto e revisto, por dentro e por fora. Mas não
encontraram nada. Pudera! Reservou as compras para Maputo. No aeroporto de
Maputo deveria encontrar-se com o Eugénio, oficial da JFS e com o Eng. Pedro
Loforte.
Visita ao Sr. Raposo
A
Dra. Tabita quis ir visitar o Sr. Raposo que se encontra, actualmente em
Nampula como gerente da Técnica – Venda da FORD -. Conversámos por algum tempo
e disse-nos que fizemos uma boa compra, relativamente ao carro NISSAN e que, da
sua parte, e desde que falemos com a Dra. Fátima, poderemos deixá-lo nas
garagens de que ele é responsável, garantindo-nos que ele se encarregaria dele:
de o lavar, alinhar a direcção.
Catedral
de Nampula
Foto
de António Matias
Compras para casa
Fomos, de seguida fazer algumas
compras para casa e seguimos para as Chocas, via Namialo onde parámos para ir
cumprimentar o novo administrador ou Director-Geral da Fábrica do Algodão: Eng.
Garoupa e o Sr. Virgílio Francisco. Soubemos também pelo Sr. Figueiredo que,
para ali, tinha ido o Sr. Raul Amarchande. Ao chegarmos não encontrámos nenhum
deles, o que não admira, pois a hora da nossa chegada era hora incómoda. Era a
hora do almoço. Não o fizemos de propósito, mas tudo se deveu ao mau estado da
estrada
Concelho
Municipal de Nampula
Foto
de António Matias
Avenida
do Palácio de Nampula
Foto
de António Matias
Ao chegarmos a casa,
esperava-nos uma bela travessa de caranguejos que foram bem regados com cerveja
nacional e portuguesa, após o qual os meus colegas que vieram de Joanesburgo se
puseram a fazer as contas do que gastaram nessa viagem e a porem no branco tudo
bem certinho. Efectivamente, se guardassem para mais tarde, muita coisa ficaria
no “olvido”, o que não deixaria de causar aborrecimentos e trabalhos futuros.
CAPITULO SETE: PRIMEIRA VISITA DO JORGE À ILHA
09 Agosto 2003 – (Sábado): Visita à Ilha de Moçambique
·
Passagem
pelo aeródromo do Lumbo
·
Ronda
pelas ruas
·
Almoço
no “Relíquia”,
·
Todo
o dia sem luz nas Chocas
·
Arlindo
suspenso
Passagem pelo aeródromo do Lumbo
Como o Jorge ainda não tinha
visitado a Ilha, resolvemos ir hoje vê-la. Logo ao sair das Chocas, ele notou que
o carro não puxava como antes. Havia um pequeno problema no escape.
Pela estrada boa esticou-o bem,
mas, de facto, havia um problema no escape. Ou está roto, ou desencaixado
nalguma junta. Ao chegarmos ao Lumbo fomos ver a pista e instalações do Aeródromo
do mesmo nome, antiga base militar portuguesa para aviões de pequeno porte. A
pista ainda está razoável e as instalações também, mas, actualmente não estão
em funcionamento. Parece que, no ano passado, ainda houve alguns voos, mas nos
últimos meses, disse-nos um jardineiro que andava a cortar as sebes, não tem
havido voo nenhum. Pertence à Shell e
à BP.
Perante o estado actual do
aeródromo, pensámos que, em Saua-Saua, poderíamos ter um hidroavião. Este podia
planar na baía e subir pelo areal, ou construir-lhe um porto de- atraque.
Prescindíamos, assim, de uma pista na plantação.
Ronda pelas ruas
Ao entrarmos na ponte houve uma
sessão de filmagem. Todos estavam admirados com a estreiteza da ponte e com a
sua estabilidade ainda à prova, depois de tantos anos de ser construída. No
entanto, os trabalhos que vão desenvolver-se na Ilha exigem que seja alargada e
que tenha alicerces mais fortes.
Ao entrarmos fizemos a ronda
pela contra-costa. Vendo em primeiro plano a Igreja de Stº António, a estátua
de Camões, as escolas, o cinema, a antiga piscina que está completamente em
ruínas. De seguida, enquanto o Jorge e a Tabita foram visitar a Fortaleza, o
Adelino e eu ficámos no carro, à espera, fazendo as nossas considerações
perante o cenário que víamos à nossa afrente.
Almoço no Restaurante “Relíquias”,
Após a visita da Fortaleza
dirigimo-nos ao Restaurante “Relíquias” para almoçarmos. Não há grandes
alternativas, pois além deste restaurante, existe apenas o hotel que é muito
careiro e um outro restaurante típico que não tem grande apresentação. Comemos
bastante bem e gostámos da apresentação do restaurante em geral, mas não das
instalações da cozinha que são muito pobres e apresentam pouca higiene. O
jardim que dá para o mar está razoavelmente tratado.
Todo o dia sem luz nas Chocas
Este dia foi um dia completo sem
luz nas Chocas. Não havia luz quando saímos e ainda a não tínhamos quando
regressámos. Passou-se a tarde e a noite sem que ela viesse e nós com o medo
que as coisas que tínhamos no frigorífico, se estragassem. Felizmente nada se
estragou.
Arlindo suspenso no Lar.
Ao chegarmos a casa tivemos a
visita do Arlindo, filho do nosso cozinheiro. Veio cumprimentar-nos e a
dizer-nos que tinha ficado suspenso no Lar por falta de pagamento da última
prestação. De facto, faltava pagar 500.000,00 meticais. O pai tinha pago apenas
400.000,00 meticais.
10 Agosto 2003 – (Domingo): Em Saua-Saua
·
Ida
a Saua-Saua e Ronda pela propriedade,
·
Contas
com o João Amisse
·
Novos
Guardas e suas petições
Ida a Saua-Saua e Ronda pela propriedade,
Neste dia, determinámos ir até à
plantação e ali passámos o dia todo para vermos como as coisas estavam. Assim o
fizemos e levámos connosco o Raimundo e o filho, dando boleia, até ao Mossuril,
à sua mulher e bebé, que ia receber instrução à Igreja Evangelista.
Contas com o Amisse João
Ao chegarmos, demos umas voltas
pela plantação, fazendo várias conjecturas sobre o que estava feito e o que
deveria ser feito daqui para o futuro.
De seguida sentámo-nos com o
João para nos apresentar as suas contas. Vimos tudo e pareceu-nos tudo
correcto. Depois fomos confrontar as suas contas com as do Sr. Ciríaco e
verificámos que havia pequenas discrepâncias. Para desfazer as dúvidas e
acertar tudo considerámos mais acertado trazer a documentação do João e confrontá-la
com a do Sr. Ciríaco, através do Excel. Como à noite, também não tivemos luz
eléctrica, tivemos de deixar este trabalho para o dia seguinte. Deste modo o
programa traçado ontem: ida a Nacala falar com o Sr. Cirenaico sobre a
legalização do carro e sobre as contas teve de ser adiada. Faremos as constas,
primeiro na segunda-feira e só depois nos deslocaremos a Nacala e a Nampula,
onde veremos também quanto dinheiro enviámos de Portugal e quanto temos ainda
no banco.
Pagamento ao Lar da última prestação do Arlindo
Ao irmos para a Plantação
passámos pelo Lar do Arlindo para que o pai pagasse a última prestação do Lar.
Apareceu à parta a directora do lar que recebeu a quantia que estava em falta
(500.000Mts). De referir que esta quantia foi paga, em partes iguais por todos
os nossos sócios que aqui se encontravam, no memento, isto é, Tabita, Adelino,
Jorge e José Matias.
Novos Guardas e suas petições
Combinámos com João
relativamente ao número de guardas que ficariam ao nosso serviço. Segundo ele e
nós, dois sob as suas ordens, chegariam para guardar a Plantação, este ano.
Para o ano e quando os trabalhos começarem em grande necessitaremos de mais um
ou dois.
Pediram-nos que lhes
adiantássemos vales para comprarem uma bicicleta, cada um, para se deslocarem
mais rapidamente. Pediram também que lhe oferecêssemos botas (nº 43, 40, 39) de
borracha, capas e calças de chuva e 20.000 meticais para comerem. Demos-lhes
50.000 meticais e concedemos-lhe o adiantamento de vales para as bicicletas.
Quanto às botas, capas e calças de chuva prometemos-lhes trazê-las de Portugal,
quando regressássemos, na próxima vez, talvez em Dezembro.
11 Agosto 2003 – (2ª Feira) Nas Chocas-Mar
Contas de Saua-Saua em dia
Contas de Saua-Saua
Hoje pusemos as contas de
Saua-Saua em dia. As contas não batiam certas. Faltava dinheiro para pagar os
vencimentos e gastos extras do João.
Devemos-lhe cera de 10.552.500,00Mts. Tal montante resultou
dos seguintes factos:
1.
Ele foi despedido da Firma JS em 11 de
Abril por quem era pago, onde ganhava 920.000,00Mts;
2.
Tinha a nossa promessa feita em 20 de
Agosto de 2003, de que lhe daríamos mais 500.000,00Mts indo auferir
1.420.000,00Mts.
3.
Donde seriam 500.000 vezes 11 meses
(Setembro 2002 até Agosto 2003) que é igual a 5.500.000,00Mts;
4.
A este montante devem adicionar-se
920.000,00Mts vezes 4 (Vencimento que devia receber do JFS e não recebeu a
partir de 11 de Abril 2002) que é igual a 3.680.000,00Mts;
5.
Chegamos, pois a um total de 9.180.000,00Mts.
6.
A este montante deve ser adicionado o
montante referente às deslocações (320.000,00Mts e Comunicações telefónicas
(1.052.500,00Mts) equivalentes a 177 minutos de chamadas em 44 recibos
diferentes.
- Temos, portanto, os seguintes números:
5.500.000,00Mts (Aumento acordado e nunca
recebido)
3.680.000,00Mts
(Ordenado a partir de 11 de Abril-11 Agosto em vez de JFS)
1.052.500,00Mts (Chamadas telefónicas)
320.000,00Mts (Deslocações)
______________________
10.552.500,00Mts = Total.
12 Agosto 2003 – (3ª Feira): Nas Chocas-Mar
ão se fez nada de especial.
Gozámos da praia e preparámo-nos para, no dia seguinte, partirmos para Nampula
a fim de sermos recebidos pelo Delegado do CPI e pelo Director Provincial de
Turismo.
CAPÍTULO OITO: NO CPI EM NA
13 Agosto 2003 – (4ª Feira) – Nampula
Reunião com o Advogado Dr. Ventura
Recepção do Director Provincial de Turismo
Recepção do Dr. Saulosse, Representante do CPI em Nampula[3]
Depois de lhe termos exposto a
nossa ideia, ele que o projecto era aliciante e deixou-nos cheios de
esperanças. Pediu para lhe mandarmos um resumo para que ele o distribua aos
diferentes responsáveis das secções ministeriais em que se inserem as
necessidades que sentirmos mais urgentes, tais como: Direito de residência,
electricidade, telefone, estradas, isenção de taxas aduaneiras e benefícios
fiscais.
Pediu também para lhe mandarmos
uma cópia do projecto de electricidade que temos já em nosso poder. Tudo isso
poderá ser enviado para: Delegação Provincial de Turismo de Nampula, C.P. 473,
Nampula, Moçambique, à atenção do Dr. Bonifácio Saulosse.
Garantiu-nos que reuniria com os
responsáveis dos Telefones, electricidade, Alfândegas e direcção de estradas no
sentido de que tudo seja facilitado à Mossáfrica. E acrescentou ainda que o
Governo de Moçambique deseja, a todo o preço, desenvolver o Turismo e facilitar
os investimentos vindos de fora.
Falou também sobre a necessidade e utilidade
de se montar uma Fábrica de calçado e de se fazer uma parceria com a Fábrica de
cerâmica de Angôche.
Mostrou-se também muito sensível
à importância que dissemos dar à protecção do meio ambiente, garantindo que
tudo fará para que acabem na praia os dejectos humanos e outros.
Recepção do Arquitecto Marcelo Amaro, Director Provincial de Turismo
Fomos igualmente recebidos pelo
Arquitecto Amara Marcelo, dorector provincial de Turismo, o qual nos forneceu
Os seus Contactos:
Direcção Provincial do Turismo –
Nampula, Avenida do Trabalho, nº4508-
- (Cell. 082-685-094)
- Telef. 259-06-214241;
- email dpturismo.npl@teledata.mz;
- cely – amaro 20 @ Hotmail.com.
Apontou-nos e as prioridades de
Nampula.
Prioridades da Província de Nampula
Para este o
principal é o Turismo,
Aconselhou um
Complexo Turístico de 5 estrelas para o que deverá incluir
As Componente a ter em vista:
Piscina,
Heliporto,
Vestiários,
Posto
médico.
E as Facilidades disponíveis
Nacala: vai ter
voos a partir de Agosto (LAM):
Nacala: Porto
Franco, em breve.
E pediu:
Que
lhe façamos chegar um exemplar do Estudo de Viabilidade do Projecto Saua-Saua e
prontificou-se a dar-nos todo o apoio no que diga respeito à parte de
arquitectura.
14 Agosto 2003 – (5ª Feira): Nas Chocas
15 Agosto 2003 – (6ª Feira): Saua-Saua e Nacala
Em Saua-Saua (Jorge e Matias)
Em Nacala (Tabita e Adelino)
Em Saua-Saua (Jorge e Matias)
-
Preparação da Cal,
-
Preparação das madeiras de portas e janelas da 5ª casa
-
Raspagem do arco e prepará-lo para ser caiado
-
Ordens ao João para
.
Limpar o espaço em volta da casa grande,
.
Plantar palmeiras ao longo da rua à esquerda antes e chegar ao arco
.
Velar pela limpeza da praia.
-
Conselho do João sobre trabalhadores a despedir e a guardar apenas:
.
O mestre pedreiro,
.
O Cabo que ajudará o pedreiro e regará,
.
Dois guardas
Em Nacala (Tabita e Adelino)
A Tabita e Adelino foram a
Nacala tratar dos assuntos do Banco e falar com o Sr. Ciríaco. Puseram as
contas em dia com ele e ficou o nome dele a fazer parte da nossa conta, para
puder movimentar mais facilmente o dinheiro que vier de Postural. Foram almoçar
ao Hotel, convidando o Sr. Ciríaco.
Fizeram algumas compras e
regressaram a Saua-Saua para nos ir buscar. Já a caminho das Chocas
lembrámo-nos de que teríamos de dar ao João o diluente para a lavagem dos
pincéis e dissemos aos “patrões” que os trabalhadores estiveram, até noite, à
sua espera para receberem o vencimento de Julho!!. Ficámos admirados, porque
pensávamos que já tinham sido pagos: Resolvemos, pois, juntar o dinheiro que
ali tínhamos e demos ao João seis milhões de meticais para que pagasse aos
trabalhadores. Este, no entanto, ficou sem o seu vencimento, até mais alguns
dias.
Na
Baía Fernão Veloso
Foto
de José Matias (08-08-2004)
Pontão
da Baía Fernão Veloso
Pôr-do-sol
na Baía Fernão Veloso
Foto
de José Matias (08-08-2004)
16 Agosto 2003 – (Sábado): Visita ás Cabaceiras
·
Complexo
turístico na Cabaceira Pequena
·
Restos
da Civilização Portuguesa na Cabaceira Grande
Complexo turístico na Cabaceira Pequena
Hoje fomos às Cabaceiras. Não
pudemos visitar toda a Cabaceira Pequena porque havia zonas do mangal que não
ofereciam segurança na passagem do Carro. Ficámos, no entanto, admirados
quando, a poucos quilómetros das Chocas, encontrámos um portão a vedar a
passagem e a delimitar uma propriedade semi-particular. E, em toda a zona
costeira, até bons quilómetros após a Carrusca, havia umas 9 Varandas, isto é 9
cabanas para repouso com uma mesa ao centro e um pequeno terreiro próprio para
a montagem de uma ou duas tendas. Viemos a saber, por meio do guia de um
pequeno grupo, que se destinavam ao aluguer de quem quer que estivesse
interessado.
Quanto ao modo do aproveitamento
duma zona que se supunha pública, disse-nos o guia que é o fruto de um convénio
entre um particular holandês, a Comunidade e a autoridade política do Lugar.
Restos da Civilização Portuguesa na Cabaceira Grande
Voltámos a trás e, prosseguindo
o nosso trajecto, fomos dar à Cabaceira Grande, onde pudemos admirar, em estado
de reabilitação, a grandeza de uma Missão Católica, com Igreja, Escola, Creche
e um grande terreno de cultivo, o Palácio de Verão do Governador da Ilha de
Moçambique, construído em 1765, quase em ruínas e um grande complexo que foi,
em tempos, o Instituto para Meninas
Diz-se que por ali existem ainda
hoje, os poços que abasteceram os nossos marinheiros portugueses quando
aportaram à Ilha e durante os primeiros tempos que ali viveram. Dali segue uma
estrada que vai dar ao Mossuril, ladeada até certo ponto por salinas em estado
muito precário. Tivemos que voltar atrás, porque, a determinado momento,
apareceu-nos, à frente uma queimada que obstruía a picada.
À tardinha fomos até à
propriedade do Eng Carlos Vasconcelos, um ex-colega do Jorge nos tempos da
universidade de Vila Real. Moçambicano e, que poderia ter sido chamado Romeu,
estava casado com a bela artista Julieta, de Trás-os-Montes. Ele trabalha em
Nampula no sector algodoeiro e adquiriram uma porção de terreno com uma bela
praia em frente. Convidaram-nos a presenciar o pôr-do-sol naquele pequeno
paraíso, ao que nós acedemos. Tanto as cabanas que eles engendraram para viver
enquanto não se fizer a casa, como as cadeiras e meio ambiente, apresentam
verdadeiramente um cariz idílico.
Pôr-do-sol
nas Chocas (Cabana dos Vasconcelos)
Foto
de José Matias (04-08-2004)
Convidados a juntar-se a nós
para o jantar, vieram ter connosco, às Chocas-Mar. Ali se passaram umas
belíssimas horas em conversa amena à volta de uma mesa recheada de camarão,
caranguejos e amêijoas. Esperávamos também pelo Dr. Raul Ventura, esposa e
filhos, como nos tinham prometido, mas, certamente, devido a qualquer
contratempo, não apareceram.
Outro
aspecto do Pôr-do-sol
Foto
de José Matias (04-08-2004)
17 Agosto 2003 – (Domingo): Saua-Saua E Chocas
·
Visita
a Saua-Saua
·
Desfrute
da praia das Chocas-Mar
·
Conversa
com o Sr. Victor Cochefeld, mestre-de-obras
·
Evitar
avanço de vales
·
Aquisição
de terrenos
Visita a Saua-Saua
Depois de um serão, que foi bem
acompanhado e regado, passámos uma noite agradável e não demos oportunidade ao
despertador para funcionar na manhã seguinte. Assim, uns dormiram até às sete e
outros até muito mais tarde. Não posso precisar, por exemplo, até que hora
dormiu o “patrão” Adelino, pois o Jorge e eu saímos à procura de óleo queimado
para tratarmos as colunas e barrotes exteriores da Casa nº 5. Encontrámos
apenas dois litros que pagámos a 30.000 meticais o litro, apesar de debatermos
o preço. Assim, depois de o termos comprado com o auxílio do Sr. Ernesto Sousa
fomos levá-lo ao João para que este o desse aos trabalhadores para o efeito
pretendido.
Apreciámos o trabalho que já
tinha sido desenvolvido. As janelas da casa nº 5 já foram tratadas e foram
raspadas e tratadas algumas da Casa Grande. Hoje, andavam lá apenas dois
trabalhadores: o segundo mestre pedreiro e o trolha. Estavam a caiar a casa nº
5. Indicámos ao João o trabalho que deveria ser feito, inclusive, caiar os
troncos dos cajueiros e mangueiras à altura de um metro, sensivelmente para os
proteger contra a lagarta e as formigas. Ao regressarmos a casa, no caminho,
comprámos tomate, para a salada do almoço e jantar.
O Jorge saiu, de novo, com
destino à plantação do Eng. Vasconcelos e de sua esposa Da Julieta e eu fiquei
em casa a escrever: aperfeiçoamento do resumo do projecto “Saua-Saua” para ser
entregue ao Dr. Bonifácio Saulosse, Representante do CPI em Nampula, no dia 20
do corrente mês e na elaboração deste texto.
Da
Julieta Vasconcelos e sua filha
Foto
de José Matias (02-08-2004)
Desfrute da praia das Chocas-Mar
Aqui
ficaram o Adelino, ainda a dormir e a Tabita, já levantada e preparada para ir
à pesca. Mas, como começou por se queixar das dores de cabeça, teve que
recorrer às massagens do Jorge e adiou a pescaria para outra altura. Seja como
for, o Jorge e eu fomos a Saua-Saua enquanto a Tabita e o Adelino ficaram na
casa das Chocas. A primeira com dores de cabeça e o segundo, supostamente, a dormir!
Quando
nós regressámos de Saua-Saua, eles, os dois, tinham ido para a praia a fim de
gozarem do sol que se espelhava preguiçosamente sobre as ondas. Pelos vistos, o
Adelino já tinha dormido tudo e a Tabita, já não tinha mais dores de cabeça!
São dois companheiros exemplares! Não perdem nenhuma oportunidade que se lhes
apresente! E o jogo das cartas e o de voar são também seus divertimentos de
grande interesse!
O
almoço está quase pronto e nós com apetite! Tomate farci (recheado com camarão), lagosta, batata cozida, pão e
cerveja. Terminado o Almoço fomos tomar café, como de costume, ao complexo
turístico do Sr. Hélder. O que acontecerá depois disto, ver-se-á, de seguida.
O Sr. Victor Cochefeld e a maneira de contratar mão-de-obra
Ao
regressarmos do café desse complexo turístico cujos coqueiros estão todos com
malina[4]),
demos com o Sr. Victor Cochefeld, mestre-de-obras do construtor Nasser e que
está a dirigir a recuperação da casa que fica à entrada da povoação, do lado
esquerdo e que virá a ser o centro do Fundo do Turismo.
Conversámos
com ele sobre vários assuntos, entre os quais os vencimentos. Estes vão de 1.250.000 para um pedreiro ou
carpinteiro de primeira, 675.000
meticais para um trabalhador normal e 300
a 350 para um servente. Acrescenta, porém que o que aqui se pratica, ao
começar uma obra, é pôr um anúncio dizendo que se precisam trabalhadores e
combinar com eles o ordenado a receberem. Diz também que é preferível combinar
com eles à tarefa e marcar o tempo. Há também o costume de, além do vencimento,
dar de comer, mas o melhor será dar um vencimento superior, sem dar a
alimentação.
Evitar avanços de vales
Alertou-nos,
também, para o facto de os preços que se praticam aqui, dependerem muito da
cara do proprietário. Se os trabalhadores virem que o proprietário é branco,
vindo de fora, eles inflaciona os ordenados É preciso discutir, assim sucede
também com a alimentação e qualquer outro artigo de consumo. E, quanto ao uso
de vales, aconselhou a nunca utilizarmos esse sistema porque
só nos trazem problemas. É preferível ter sacos de farinha para distribuir e
descontar no ordenado do que dar-lhe dinheiro por meio de vales.
Falou igualmente da má
experiência por que passou nos anos durante e após a Independência de
Moçambique. Ele que é angolano, veio para Moçambique para trabalhar na Barragem
de Cahora Bassa, tendo atravessado a
África do Sul e outros países africanos. O que passou aqui durante esse período
é para esquecer, mas não consegue alcançá-lo. A destruição de edifícios e do
que pertencia aos brancos cortavam-lhe o coração. Mas foi assim: as casas,
carros e outros bens dos brancos, ou eram ocupados pura e simplesmente, ou eram
destruídos sem piedade. Tem fotografias de frases escritas nos muros que diziam
textualmente: “filhos de puta dos portugueses”.
Mas devemos dar um desconto, porque nem todos teriam dito o mesmo.
Aquisição de terrenos
Vindo à baila a possibilidade de
comprar terrenos para construção, disse-nos que, na vila já não existem e que
tem havido guerrilhas para comprar os últimos pedaços. Existem ainda algumas
casas em mau estado, mas estão dentro da povoação.
Sobre a estrada para o Mossuril
e Chocas-Mar, soubemos que está prevista para breve a sua recuperação. Até ao
fim do ano deverá ser alvo de melhoramentos e, ao que parece, será pavimentada.
Ao chegarmos a casa, apareceram
a mulher do Raimundo e a do Abdalah com mociro na cara e com a massa preparada
para a aplicarem na cara da Tabita. A operação foi de curta duração! Amanhã
terá a cara mais macia e tenra do que as bochechas de um bebé. Nesta terra é
tudo exótico e tudo tem sabor a idílico!
CAPÍTULO NOVE: DECISÕS DO GRUPO PARA O FUTURO
18 Agosto 2003 (2ª Feira): Nas Chocas-Mar
·
Decisões
tomadas pelo grupo e sócios
·
Funções
de cada Empregado
·
Vencimentos
para Set. 2003-2004
·
Dívidas
ao João
·
Decisões
tomadas pelo grupo
Decisões tomadas pelo grupo
Em reunião que demorou toda
parte do dia após o almoço até à meia-noite, reunimo-nos os quatro colegas para
analisar e decidir sobre os vencimentos a serem pagos aos trabalhadores que ficariam
na plantação, a partir do mês de Setembro e sobre as funções de cada um, na
nossa ausência. A Tabita e o Adelino foram ainda falar com o Presidente da
Localidade de modo a saberem qual a prática sobre os vencimentos a pagar aos
trabalhadores. Este disse-lhes que tudo dependia do acordo que fosse feito ou
celebrado entre o patrão e os trabalhadores. Assim sendo, ficou determinado o
que se segue, sendo dado uma cópia, escrita à mão, ao João para que ele a
conhecesse e desse a conhecer aos trabalhadores que ficariam a seu cargo.
João Amassi – Encarregado geral da
Plantação
Caria
Jamal – Pedreiro
Amad Silali
(Cabo) – Servente de pedreiro e
jardineiro
chicota Muleia – Guarda
Abdul Salimo – Guarda
Salimo Buana – Preparador do Macute
Aqui
ficaram o Adelino, ainda a dormir e a Tabita, já levantada e preparada para ir
à pesca. Mas, como começou por se queixar das dores de cabeça, teve que
recorrer às massagens do Jorge e adiou a pescaria para outra altura. Seja como
for, o Jorge e eu fomos a Saua-Saua enquanto a Tabita e o Adelino ficaram na
casa das Chocas. A primeira com dores de cabeça e o segundo, a dormir,
supostamente!
Quando
nós regressámos de Saua-Saua, eles, os dois, tinham ido para a praia a fim de
gozarem do sol que se espelhava preguiçosamente sobre as ondas. Pelos vistos, o
Adelino já tinha dormido tudo e a Tabita, já não tinha mais dores de cabeça!
São dois companheiros exemplares! Não perdem nenhuma oportunidade que se lhes
apresente! E o jogo das cartas e o de pilotar aviões são também alguns dos seus
divertimentos de interesse!
O
almoço está quase pronto e nós com apetite! Tomate farci (recheado com camarão), lagosta, batata cozida, pão e
cerveja. Terminado o Almoço fomos tomar café, como de costume, ao complexo
turístico do Sr. Hélder. O que acontecerá depois disto, ver-se-á, de seguida.
O Sr. Victor Cochefeld e a maneira de contratar mão-de-obra
Ao
regressarmos do café desse complexo turístico cujos coqueiros estão todos com
malina[5]),
demos com o Sr. Victor Cochefeld, mestre-de-obras do construtor Nasser e que
está a dirigir a recuperação da casa que fica à entrada da povoação, do lado
esquerdo e que virá a ser o centro do Fundo do Turismo.
Conversámos
com ele sobre vários assuntos, entre os quais os vencimentos. Estes vão de 1.250.000 para um pedreiro ou
carpinteiro de primeira, 675.000
meticais para um trabalhador normal e 300
a 350 para um servente. Acrescenta, porém que o que aqui se pratica, ao
começar uma obra, é pôr um anúncio dizendo que se precisam trabalhadores e
combinar com eles o ordenado a receberem. Diz também que é preferível combinar
com eles à tarefa e marcar o tempo. Há também o costume de, além do vencimento,
dar de comer, mas o melhor será dar um vencimento superior, sem dar a alimentação.
Evitar avanços de vales
Alertou-nos,
também, para o facto de os preços que se praticam aqui, dependerem muito da
cara do proprietário. Se os trabalhadores virem que o proprietário é branco,
vindo de fora, eles inflaciona os ordenados É preciso discutir, assim sucede
também com a alimentação e qualquer outro artigo de consumo. E quanto ao uso de
vales aconselhou a nunca utilizarmos esse sistema porque
só nos trazem problemas. É preferível ter sacos de farinha para distribuir e
descontar no ordenado do que dar-lhe dinheiro por meio de vales.
Falou igualmente da má
experiência por que passou nos anos durante e após a Independência de
Moçambique. Ele que é angolano, veio para Moçambique para trabalhar na Barragem
de Cahora Bassa, tendo atravessado a
África do Sul e outros países africanos. O que se passou aqui, durante esse
período, é para esquecer, embora não
consiga. A destruição de edifícios e de tudo o que pertencia aos brancos
cortavam-lhe o coração. Mas foi assim: as casas, carros e outros bens dos
brancos, ou eram ocupados pura e simplesmente, ou eram destruídos sem piedade.
Tem fotografias de frases escritas nos muros que diziam textualmente: “filhos de puta dos portugueses”. Mas
devemos dar um desconto, porque nem todos teriam dito o mesmo.
Aquisição de terrenos
indo à baila a possibilidade de
comprar terrenos para construção, disse-nos que, na vila já não existem e que
tem havido guerrilhas para comprar os últimos pedaços. Existem ainda algumas
casas em mau estado, mas estão dentro da povoação.
Sobre a estrada para o Mossuril
e Chocas-Mar, soubemos que está prevista para breve a sua recuperação. Até ao
fim do ano deverá ser alvo de melhoramentos e, ao que parece, será pavimentada.
Ao
chegarmos a casa, apareceram a mulher do Raimundo e a do Abdalah com muciro na
cara e com a massa preparada para a aplicarem na cara da Tabita. A operação foi
de curta duração! Amanhã terá a cara mais macia e tenra do que as bochechas de
um bebé. Nesta terra é tudo exótico e tudo tem sabor a idílico!
18 Agosto 2003 (2ª Feira): Nas Chocas-Mar
·
Decisões
tomadas pelo grupo e sócios
·
Funções
de cada Empregado
·
Vencimentos
para Set. 2003-2004
·
Dívidas
ao João
·
Decisões
tomadas pelo grupo
Decisões tomadas pelo grupo
Em
reunião que demorou toda parte do dia após o almoço até à meia-noite,
reunimo-nos os quatro colegas para analisar e decidir sobre os vencimentos a
serem pagos aos trabalhadores que ficariam na plantação, a partir do mês de
Setembro e sobre as funções de cada um, na nossa ausência. A Tabita e o Adelino
foram ainda falar com o Presidente da Localidade de modo a saberem qual a
prática sobre os vencimentos a pagar aos trabalhadores. Este disse-lhes que
tudo dependia do acordo que fosse feito ou celebrado entre o patrão e os
trabalhadores. Assim sendo, ficou determinado o que se segue, sendo dado uma
cópia, escrita à mão, ao João para que ele a conhecesse e desse a conhecer aos
trabalhadores que ficariam a seu cargo:
João Amassi ………. Encarregado geral da Plantação
Caria
Jamal ………. Pedreiro
Amad Silali
(Cabo) …. Servente de pedreiro e jardineiro
chicota Muleia
……….Guarda
Abdul Salimo ……….
Guarda
Salimo Buana ……….
Preparador do Macute
Funções de cada empregado
1.
Encarregado
geral (João)
O
Encarregado geral é o responsável máximo pela plantação na ausência dos patrões
e tem que:
·
Garantir a manutenção e a
conservação do que está já feito (caiar, limpar, etc.),
·
Limpar as áreas e locais que os
patrões indicaram,
·
Caiar os troncos das árvores,
muros e muretes,
·
Garantir a permanência dos
guardas,
·
Definir espaços para banhos,
assegurando a limpeza e higiene da praia,
·
Organizar e acompanhar as
queimadas,
·
Organizar a recolha de materiais
para o armazém (madeiras, ferramentas; e outros materiais para o futuro museu),
·
Contactar com as autoridades
locais, se a segurança da plantação estiver ameaçada,
·
Organizar a rega,
·
Recolher as palmeiras pequenas e
plantá-las nos locais já definidos (1,5m do muro e 2m de intervalo),
·
Organizar e colaborar na limpeza
das casas da plantação e assegurar-se da sua não ocupação.
2. Guardas:
Os guardas têm como função:
Patrulhar a plantação, garantindo
a sua segurança e manutenção, comunicando de imediato qualquer ocorrência ao
Chefe da segurança,
Vigiar e assegurar a limpeza da
praia,
Outras actividades definidas pelo
João;
3. Pedreiro:
O pedreiro tem
como função:
1-
Reconstruir muros da casa grande,
2-
Reconstruir os muretes do jardim e do mini golfe,
3-
Reconstruir arruamentos desde o arco até à casa grande,
4-
Outras actividades definidas pelo João;
4.
Servente
de Pedreiro:
O ajudante de pedreiro tem por
função:
1-
Acompanhar o pedreiro,
2-
Regar o jardim e outras plantas,
3-
Outras actividades definidas pelo João.
Vencimentos para Setembro 2003-2004:
Sobre os vencimentos travou-se
séria discussão. Uns queriam pagar o vencimento mínimo estabelecido por lei,
outros queriam seguir os usos e costumes adoptados em quase todas as empresas,
como nos tinham dito várias pessoas e mestres-de-obras com quem contactámos. O
tira-teimas foi o Presidente da Edilidade das Chocas-Mar que disse ao Adelino e
à Tabita que cada patrão seguia o sistema seguinte: estabelecer com os
assalariados um vencimento que contentasse ambas as partes.
A partir desta conversa,
decidimos e estabelecemos aumentar os vencimentos que tinham sido acordados
entre nós e todos os trabalhadores, no dia 20 de Agosto de 2002, em reunião
geral, na sala da casa grande e com a presença do Encarregado geral. Deste modo
ficou assim fixada a seguinte tabela de vencimentos mensais:
TABELA
DE VENCIMENTOS POR MÊS
|
|||
NOME
|
FUNÇÃO
|
SALÁRIO
2002-03
|
SALÁRIO
2003-04
|
João Amassi
|
Encarreg. Geral
|
1.420.000,00Mts
|
1.500.000,00MTS
|
Caria Jamal
|
Pedreiro
|
33.334,00Mts/dia
|
35.000,00Mts/dia
|
Amade Silali
|
Servente
|
17.500,00Mts/d
|
18.000,00Mts/dia
|
Chicova Mualeia
|
Guarda 1
|
17.500,00Mts/d
|
20.000,00Mts/dia
|
Abdul Salimo
|
Guarda 2
|
17.500,00Mts/d
|
20.000,00Mts/dia
|
Salimo Buana
|
Macute
|
17.500,00Mts/d
|
18.000,00Mts/dia
|
Chico Buanauassi[6]
|
Limpeza
|
17.000,00Mts
|
18.000,00Mts/dia
|
NB. :
- Até ao dia 30 de cada mês os patrões enviam o dinheiro
- Até ao dia 5 do mês seguinte o Sr. Ciríaco prepara o dinheiro para entregar ao João,
- No primeiro dia útil a seguir ao dia 5 de cada mês o João vai levantar o dinheiro junto do Sr. Ciríaco para serem pagos os vencimentos aos trabalhadores da plantação, devendo o João reembolsar o valor referente à sua deslocação e ao seu almoço do dia em que for buscar o dinheiro.
- O pedreiro e servente trabalham seis dias por semana; os guardas trabalham todos os dias ou noites,
Esta tabela e as funções que
foram atribuídas a cada trabalhador serão dadas a conhecer ao
Encarregado-Geral, João Amisse, amanhã, dia 19 de Agosto, devendo a folha que
lhe for entregue ser assinada por ele, pelo Presidente da Mossáfrica e pela
Proprietária da Plantação de Saua-Saua, para que conste no futuro perante quem
quer que seja e tenha responsabilidade civil ou outra afim.
Dívidas ao João
Tendo
acertado as contas com o João, verificámos que com o aumento de
580.000,00Meticais que lhe tínhamos prometido para perfazer o montante mensal
de 1.500.000,00Mts, e com a quantia referente ao período de 11 de Abril ao fim
de Agosto 2003 aos quais seriam adicionados os gastos de telefonemas e
deslocações ascendia a dívida a 11.612.500 meticais, na data de 19 de Agosto de
2003.
Demos-lhe
anteriormente 2.540.000 meticais aos quais foram adicionados, hoje, 2.000.000
do bolso do Zé Matias e 500.000 do bolso do Jorge, num total de 5.040.000
meticais que subtraídos da dívida de 11.612.500 dão 6.572.500, 00 (seis milhões quinhentos e setenta e dois mil e
quinhentos meticais).
Estimativa geral dos custos para Setembro 2003 – Setembro2004
Feitas as contas teremos:
João
Amissi =
1.600.000Mts
Caria
(35.000 x 22 dias) = 737.000Mts
Amadi
(18.000 x 22 dias) = 396.000Mts
Chico
(18.000 x 22 dias) = 396.000Mts
Chicova
(20.000 x 31) = 620.000Mts
Abdul
(20.000 x 31 = 620.000Mts
___________________________________________________
Total = 4.369.000Mts = 168 euros
Compromisso do Jorge em participar nas despesas
O Jorge Rodrigues, embora ainda
não sócio, comprometeu-se a entrar no custeamento das despesas, vindo, assim,
juntar-se ao Adelino e Carmo que pagavam entre os dois 100 Euros, Emídio e
Clementina que pagavam entre os dois a mesma quantia de 100 euros e a Tabita e
o Zé Matias que pagavam entre os dois 200 euros, num total de 400 euros a que
eram acrescida a taxa que foi uma vez paga pelo Emídio e todas as outras vezes
pelo Adelino e Tabita.
Como as despesas foram reduzidas
drasticamente, este ano, as despesas serão divididas por 7, ficando decidido
que cada um pagasse 35 euros por mês, de modo a que
ficássemos sempre com um fundo de maneio para as necessidades mais urgentes que
possam vir a surgir. Assim, viria para o Banco de Investimento de Moçambique a
quantia cambiada que resultasse desses sete empréstimos à Mossáfrica, depois de
incluída a taxa de conversão e transferência.
19 Agosto 2003 – (3ª Feira) Chocas E Saua-Saua
·
Chocas-Mar
·
Saua-Saua
·
Reunião
com o João Amisse
Chocas-Mar
Logo
pela manhã, a Tabita levantou-se, mais cedo e transcreveu, na íntegra, a carta
de despedimento que a SODAN
(Sociedade de Desenvolvimento Algodoeira do Namialo, S.A.R.L. enviou ao João,
datada de 25 de Fevereiro de 2003 (N/REFª. -47/DRH/SODAN/2003, e com entrada em
vigor “a partir de 11 de Abril de 2003 (…)”,
pela qual se dizia que “deixará de fazer
parte do quadro do pessoal da Companhia Agrícola João Ferreira dos Santos, SARL
(…) em virtude de a Plantação de Saua-Saua ter outra proprietária que não está
interessada nos seus serviços (…)”. Para que conste e se admire o teor
desta carta, da qual não tinha conhecimento a proprietária, nem a Mossáfrica
que tinha pessoal a trabalhar na reabilitação de duas casas, debaixo das ordens
do João, transcrevemo-la, aqui, ipsis
verbis.
Carta de Despedimento
Feita
esta transcrição que nós aproveitámos, tomámos o pequeno-almoço, após o qual a
Tabita e o Adelino foram para a praia. Daí a pouco regressam alvoroçados, pois
a Tabita tinha apanhado um peixe-pedra com a sua cana de pesca. Mas o peixe
tinha sido tão lampeiro que engoliu, tanto o anzol, como o chumbo. Vieram pedir
ajuda ao Raimundo para sacar, cá para fora, os ditos cujos e voltaram à pesca.
Eu permaneci a escrever até agora, onze horas e vinte e seis minutos. A minha
tarefa, durante todas estas férias, foi, primordialmente, a de procurar ajudar
o meu irmão António no levantamento dos edifícios da Plantação e,
secundariamente, a de fazer a crónica de quanto, ali, se fez durante essas
férias que não me deixaram boas recordações! Vi e observei coisas que me
desagradaram e me marcaram profundamente!
Saua-Saua – Reunião com o João Amisse
À
tarde fomos falar com o João, à Plantação, com o qual acertámos todas as contas
como ficam explicitadas atrás.
Ao
chegarmos encontrámos um envelope com a lista dos trabalhadores que pretendia contratar,
seis ao todo, um a mais do que aqueles que tinha proposto e aceitámos, na
reunião. Este seria para a limpeza e a ser contratado lá mais para a frente.
Ficámos admirados com esta lisa, mas, de facto, uns dias antes ele tinha-nos
dito (ao Jorge e a mim) que, “por vezes, necessitaria de contratar mais um
homem para a limpeza, mas por curtos espaços de tempo”.
20 Agosto 2003 (4ª Feira): Partida das Chocas para Nampula
·
Pedido
de Telefone para a Plantação
·
Pedido
de Arma para os Guardas da Plantação
·
Entrega
de documentação ao Delegado do CPI em Nampula
·
Entrega
gorada de documentação ao Director Provincial de Turismo
Pedido de Telefone para a Plantação
Ao
deixarmos as Chocas e como já estávamos atrasados, não passámos pela Plantação.
É que tínhamos de falar com o Dr. Bonifácio Saulosse, Delegado do CPI em
Nampula e com o Arquitecto Marcelo Amaro, Director Provincial de Turismo.
Ao
chegarmos ao Mossuril, lembrámo-nos de perguntar ao oficial dos telefones se
era possível pedir o Telefone para a Plantação. Como a resposta foi afirmativa,
a Tabita fez logo ali o requerimento cujo teor aqui fica para memória:
“Área de Nacala – Agência das TDB – Mossuril
Assunto: Pedido de ligação de Telefone.
Havendo necessidade de ligar o telefone na
Plantação de Saua-Saua, vimos mui respeitosamente rogar a V. Ex.ª se digne
autorizar a sua instalação no referido lugar.
Sem mais, endereço as minhas cordiais
saudações.
Mossuril, 20 de Agosto de 2003”
(Assinado por: Maria Tabita Ferreira dos
Santos Rebelo de Almeida).
Pedido de Arma para os Guardas da Plantação
Como
nos Telefones estava um Guarda, perguntámos-lhe se era possível pedir uma arma
para os nossos guardas. Perante a resposta afirmativa ele aconselhou-nos a
dirigirmo-nos, pessoalmente, ao Posto da Polícia e falar, não com o Comandante
(Amade Aissa) que se encontrava ausente (por ser dia de visitas e de preparação
das eleições autárquicas), mas com o seu substituto. Metemo-lo no carro e ele
dirigiu-nos até ao Posto.
Aqui chegados, conduziu-nos para
dentro de um lugar que, em tempos idos, tinha sido um edifício habitável, mas,
hoje em ruínas: tectos esburacados, janelas sem vidros. Existia ainda, no
entanto, uma ou duas dependências que tinham sido minimamente arranjadas para
dar guarida aos efectivos da Polícia da República de Moçambique que, para ali,
tinham sido destacados.
Depois das acostumadas
apresentações, o substituto ditou-nos a seguinte minuta:
“Eu, Maria Tabita Ferreira dos Santos Rebelo
de Almeida, portadora do Passaporte, nº G328784, emitido no dia 14/03/2002 pelo
Arquivo Civil da Lisboa, Portugal, filha de Raul Rebelo de Almeida e de Maria
Tabita Domingues Ferreira dos Santos, natural de Maputo, residente na Casa
Grande – JFS – Nampula, telefone .................,
Vem mui respeitosamente requerer a V. Ex.ª
de digne autorizar uma afectação permanente de uma arma do tipo AK-47 destinada
à guarnição da Plantação de JFS, situada no distrito do Mossuril, na área de
Saua-Saua.
Pelo que
Pede deferimento
Mossuril,
20 de Agosto 2003”
Entrega de documentação ao Delegado do CPI em Nampula
Depois de termos resolvido, no
Mossuril, esses assuntos pendentes, partimos para Nampula. No caminho, porém
procurámos telefonar ao Dr. Bonifácio Saulosse para o advertir do nosso atraso.
Conseguimos contactá-lo, mas não nos poderia receber porque estava a acompanhar
uma comitiva importante, ligada às eleições autárquicas. Pediu-nos para deixar
a documentação no seu Gabinete.
Dirigimo-nos,
então, ao CPI de Nampula para ali deixar a dita documentação que consistia num
Resumo do projecto, nele constando tudo o que julgámos necessário, assim como a
Fotocópia dos Estatutos da Mossáfrica que deveriam juntar-se ao Estudo de Viabilidade que recebera
directamente do Dr. Rafique.
Entrega gorada de documentação ao Director Provincial de Turismo
Logo
a seguir e sem perder tempo dirigimo-nos à Direcção Provincial de Turismo na
expectativa de falar com o seu Director, Arq. Marcelo Amaro, pois por meio do
telefone ou telemóvel não nos foi possível contactá-lo. Ao chegarmos, demos com
os funcionários a fechar a barraca, dizendo-nos que estava o ponteiro sobre as
15,30, que era a hora de largar o serviço. Terão de voltar cá amanhã. Além
disso o Sr. Director só estaria no serviço no dia seguinte.
Jantar no Sporting Clube de Nampula
À
noite fomos jantar ao Sporting Clube de Nampula, estando a decorrer o desafio
de futebol dos 17 anos, entre Portugal e Camarões. Depois de chegar a estar a
ganhar por 5 a 0, Portugal deixou-se empatar, ficando, no entanto, apurado para
discutir com a Espanha a eliminatória seguinte.
O
restaurante é razoável e a comida também, mas os preços são, praticamente, os
mesmos que se praticam em Portugal. Eu mandei vir um Bife com cogumelos, mas só
comi metade dele porque estava demasiado rijo para os meus dentes e, olhem que
ainda não tenho nenhum “postiço”!
Ao
regressarmos a casa, o Adelino e eu ficámos no salão nobre da Casa Grande a ver
o desafio de futebol sénior entre Portugal e o Kazaquistão, que veio a terminar
com a vitorio de Portugal com um único golo, marcado pelo benfiquista, Simão
Sabrosa. O Jorge Rodrigues foi despedir-se da família Vasconcelos, e
solicitar-lhe a amabilidade de levarem um saco de cal para a Plantação, no
próximo fim-de-semana.
21 Agosto 2003 – (5ª Feira): Em Nampula
·
Partida
para o Aeroporto
·
Entrega
do Carro na Técnica Industrial
·
Partida
para Portugal de três elementos,
·
Entrega
da Documentação ao Director de Turismo
·
Preparação
do Documento a ser entregue ao Sr. Ciríaco,
·
Jantar
com a família Vasconcelos
Partida para o Aeroporto
Após
o pequeno-almoço, servido na Casa Grande, esperámos pelo Sr. Figueiredo para
lhe entregarmos a lista do material em pau-preto, conchas e corais para ele ir
tirar uma certificação e pagar os devidos direitos alfandegários. Já estávamos
impacientes por se ter atrasado (pois nós teríamos de ir ao Aeroporto deixar a
bagagem e regressar à Técnica Industrial para ali entregarmos o nosso carro e
voltar, de novo, para o aeroporto para tomarmos o avião para Maputo), mas estes
atrasos são proverbiais em Moçambique!
Logo
que ele chegou foi-lhe entregue a lista e partiu imediatamente fazer o seu
serviço, continuando nós à espera que regressasse. Logo que regressou,
carregámos a bagagem no nosso carro e fomos para o aeroporto.
Ali
chegados esperámos pelo Sr. Figueiredo. A determinada altura, como víssemos que
o relógio não parava de andar e que o Sr. Figueiredo não conseguia chegar, o
Jorge foi buscar o carro, estacionando-o em frente às portas do aeroporto. Mal
abriu a porta da bagageira para tirarmos as malas, apareceu um polícia com a
disposição inabalável de o multar em um milhão de meticais, dizendo que
desligara o carro e, nestas condições supunha-se que ele estacionara o carro, o
que era proibido!
Foi
uma carga de trabalhos para convencê-lo de que o sinal que ali estava proibia o
estacionamento e não a paragem para descargas. Mas o polícia continuava a dizer
que “se desligou o carro significa que
estacionou”..... Ao cabo de muita conversa e ajudados pela Julieta, o
polícia lá cedeu e deixou o Jorge em paz, mas não sem o olhar de esguelha e à
espera de algo que saísse do bolso ou da carteira!
Entrega do Carro na Técnica Industrial e encrencas com as malas
Enquanto
o Adelino fazia o check in, ajudado
pelo Sr. Figueiredo, o Jorge, a Julieta, a Tabita e eu, fomos deixar a minha
mala ao apartamento JFS e o carro à Técnica Industrial. Tendo falado com o Sr.
Raposo, ali, fizemos fotocópias da documentação da viatura e trocámos de carro,
emprestado pela Firma para nos ir levar, de novo, ao aeroporto.
Entretanto, a Tabita recebe um
telefonema do Adelino dizendo que havia excesso de bagagem, surgindo, portanto,
um novo problema, à primeira vista insolúvel.
Regressados ao aeroporto
mandámos pesar de novo a mala do Adelino que era o peso que estava a mais no
conjunto da bagagem dos três “típicos” viajantes de avião que ainda não sabem
distinguir malas de barco ou comboio de malas de avião! A mala, só ela, pesava
33 quilos pelos quais teriam de pagar 3 milhões de meticais se quisessem
levá-la juntamente com a outra bagagem que era constituída por malões, saquitos
e saquitos (!), ou, como se diz usualmente, “pequenos volumes” de “quase grande porte”!
Felizmente
que a Julieta estava ali, e o seu filho partia, no dia seguinte, para Portugal
com pouca bagagem. A esta ventura juntava-me eu, o José Matias que, por minha
infelicidade ainda tinha de pernoitar duas noites mais em Nampula, à espera do
meu voo de regresso a Lisboa! Malfadada sorte a minha! Tinha vindo com o meu
irmão, antes dos outros todos, e teria de regressar, sozinho, depois deles
todos! Não quis comprar nada para voltar mais leve e tenho de carregar com a
tralha, amontoada “sem peso nem medida” por queles meninos que, se pudessem,
levavam Moçambique inteiro para o pôr em prateleiras decorativas!
A
matutar como levar as malas deixadas pelos outros companheiros, já de viagem, a
Julieta transmite-me a ideia brilhante que tivera: repartir o peso pelo seu
filho e por mim. Se assim ela o pensou, melhor o fizemos os dois! Levámos
connosco a mala do Adelino e o embrulho dos fatos do Jorge indo deixá-los
em casa da Julieta com a intenção de, à noite, o seu marido, Vasco, vir buscar
a minha mala para dividirmos o peso entre as malas do seu filho, a minha e a do
Adelino. Espero bem que o peso referente aos quatro passageiros não exceda o
que é permitido só a dois que é o presente caso: bagagem do Jorge Rodrigues,
Adelino, Jorge Vasconcelos e José Matias a ser repartida apenas por estes dois
últimos.
Partida para Portugal de três elementos
À
hora do embarque estava próxima e o condutor da Técnica Industrial à nossa
espera para nos levar (à Julieta e a mim) juntamente com a mala do Adelino.
Despedimo-nos, o que me custou bastante e deixámos no aeroporto a Tabita, o
Adelino e o Jorge.
Entrega da Documentação ao Director de Turismo
Logo que cheguei ao meu apartamento,
peguei da documentação que tínhamos preparado para o Sr. Arquitecto Amaro,
Director Provincial de Turismo, e fui entregar-lha, não fosse ele sair e
deixar-me, mais uma vez, pendurado. É que amanhã é feriado, o dia da Cidade de
Nampula e no dia seguinte é sábado, estando fechadas todas as Repartições
públicas.
Ao
chegar, o Sr. Director recebeu-me amavelmente e desculpou-se de não ter podido
receber-nos no dia anterior por estar integrado numa comitiva partidária em pré
campanha eleitoral para as autárquicas. Recebeu a documentação (Resumo do
Projecto Saua-Saua e Estudo de Viabilidade desse mesmo projecto. Ofereceu-nos,
como havia prometido, um CD com documentação muito útil da Província de
Nampula.
Preparação do Documento a ser entregue ao Sr. Ciríaco sobre os trabalhadores de Saua-Saua
Uma
vez chegado ao apartamento, preparei o documento para o Sr. Ciríaco, fui
imprimi-lo e entregar uma cópia ao Sr. Amarchande que se predispôs a ser-me
útil sempre que necessário, durante a minha estadia em Nampula e mesmo em
Portugal. Para contactá-lo deu-me três números de telefone: o celular, o de
casa e o do escritório.
Quando
vinha do Sporting Clube de Nampula onde fui almoçar, recebi um telefonema da
Tabita a dizer-me que tinham chegado bem a Maputo
Jantar com a família Vasconcelos
À noite, o casal Vasconcelos
veio ter comigo ao apartamento. Levámos a minha mala para sua casa e ali
fizemos a divisão da bagagem.
Que isto sirva de lição, meus
caros companheiros de viagem e que não se repita a ousadia! As malas de avião
são diferentes das malas de barco ou de comboio, tanto quanto às medidas, como
quanto ao peso! Ter malas grandes é uma tentação para comprar e atafulhar e
estas acções provocam o aumento do peso sem darmos por isso e, depois, é o que
se vê (....)! Ai, tio (....) Veja lá se tem ainda aí um pequeno espaço! Só que,
às vezes, embora haja espaço, não há possibilidade para mais peso. E (...)
vejam o que tem acontecido! Muitos aviões têm caído. Talvez o excesso de peso
tenha contribuído ou possa vir a contribuir para isso.
Um
problema que pode surgir ainda é aquele que se relaciona com a bolsa do fato do
Jorge. Além de cheirar muito mal, devido às conchas terem os animaizinhos
dentro de si, a parte central está trancada a cadeado. Mas a chave ficou com o
dono! Que vai ser de mim, no aeroporto se me mandarem abri-la?! Além de não ter
chave, não sei o que está lá dentro! Querem ver que ainda me tomam por ladrão
ou passador de droga e me levam para a prisão! Só depois de me encontrar em
minha casa é que fico descansado. E sirva-me de lição: malas ou sacos de
viagem, só se forem cá do patrão.
22 Agosto 2003 – (6ª Feira): Em Nampula
·
Comunicação
com o Adelino
·
Festa
de Nampula
·
O
cantinho Português
·
O
desvelo do Sr. Figueiredo
·
Almoço
no Sporting
·
Visita
do Museu e ao grupo de artesãos
·
Visita
ao Monte Carmelo do Bom Jesus
·
Problemas
nas malas dos meus colegas
·
Finalmente
chega a chuva
Comunicação com o Adelino
Por volta das 07.30 horas,
telefonei ao Adelino. Mal eu sabia onde e em que condições se encontrava.
Estava em Paris e sozinho, à espera de embarque para Lisboa! A Tabita e o Jorge
Rodrigues já tinham arrancado, enquanto ele tomaria o voo seguinte! Desta vez a
viagem foi mesmo aos bochechos, para não dizer às mijinhas. Em primeiro lugar partiu o António Matias, depois os três
(Tabita, Adelino e Jorge) até Paris, dividindo-se, aqui, em dois grupos e
finalmente, eu que espero partir, amanhã, com o seguinte horário:
·
Partida de Nampula para Maputo, às
12.50h, no voo TM193 da LAM,
·
Chegada a Maputo, às 15.40h;
·
Partida de Maputo, às 23,45 no voo
TP1283;
·
Chegada a Lisboa, dia 24, às
09.30h.
Festa de Nampula
A
cidade está em festa. Celebra-se o 48º aniversário da sua elevação a cidade.
Logo pela manhã começa a notar-se uma vida diferente nas ruas, especialmente
junto ao Palácio do Concelho Municipal e nas imediações da Praça dos Heróis.
São peões ou transeuntes em fatos domingueiros que passeia despreocupadamente
pelas ruas; são ranchos folclóricos que passam em camionetas engalanadas das
quais irrompem cantos e gargalhadas; são senhores de porte altivo e fatiotas de
cerimónia a quererem distinguir-se da arraia-miúda e a deixar crer pertencerem
à classe privilegiada dos governantes ou com estes directa ou indirectamente
relacionados! Uns e outros, no entanto, sentem-se unidos por sentimentos
idênticos, mas dificilmente iguais: os sentimentos de “filhos” de uma mesma
família, mas que, por razões insondáveis, dormem em berços diferentes e
sentam-se em mesas desiguais!
O cantinho Português
Sentado na explanada do Café Primavera, contemplava, eu, esse
burburinho matinal, tendo diante de mim o Palácio do Concelho Municipal, à
esquerda, o Palácio de Sua Ex.ª o Governador, à direita e, logo a seguir nesta
mesma direcção, a Igreja principal. Esperava pelo casal Vasconcelos.
Entretanto, ia notando quem entrava e saía do mesmo Café. A maior parte eram
estrangeiros: sul-africanos, italianos e portugueses. Ouvi um dizer: “South African corner”, indo juntar-se a
mais dois que se encontravam sentados na última mesa da explanada. E, como eu
me encontrava no canto oposto, pensei que, daí a pouco, lhe poderia chamar “O cantinho Português”.
De facto, passados quinze
minutos aparece o Carlos Vasconcelos e a Julieta, sua esposa com a sua
pequenita, que, depois dos habituais cumprimentos se sentaram à minha mesa.
Ainda não eram passados cinco minutos quando aparece mais uma portuguesa de
nome Ana Maria[7]. Apresentámo-nos e desta
apresentação fiquei a saber que se tratava de uma Irmã religiosa dedicada à
Educação, dizendo-se também “Teóloga”.
Conversa puxa conversa e, daí a instantes, estávamos já a falar da aprendizagem
da língua Macua. Ofereceu-se para me apresentar a um professor desta língua que
faria o trabalho por pouco dinheiro e com eficiência.
Quando lhe perguntei se conhecia
alguma gramática, respondeu-me que “gramática sistematizada” não deveria
existir, mas que havia apontamentos muito úteis que me poderia fotocopiar, não
agora, mas mais tarde. Disse-nos que fôssemos ter com ela ao Carmelo
do Bom Jesus, onde se encontra hospedada. Aí nos ofereceria
documentação sobre a História do Povo Macua. Perante esta liberalidade da parte
de quem já vive entre a comunidade macua há mais de doze anos, aceitámos o
convite, ficando determinado ir ter com ela depois do almoço no qual ela não
poderia participar como lhe propus por falta de disponibilidade. Mas prometeu
que poderia ficar para a minha próxima vinda a Nampula.
O desvelo do Sr. Figueiredo
Como
havia sido combinado, o Sr. Figueiredo apareceu na Firma JFS para falar comigo
sobre as prendas que tencionava levar para Lisboa e que necessitariam de
“Declaração” de modo a ser mais fácil a passagem nos Serviços aduaneiros.
Quando eu lhe disse que só levaria umas conchas malcheirosas do Jorge e uma
águia do Benfica em pau-preto ele riu-se, dizendo que se dispensava toda e
qualquer declaração para isso e contou-me a história da sua carta de condução.
O exame para a obtenção desta foi tão simples como isto:
-
O Sr. tem problemas com as cores?
- Muitos, respondi eu. Só
reconheço duas cores: a vermelha e a verde da Bandeira Nacional e a encarnada,
a do meu Benfica.
- Não me diga que o Senhor é do
Benfica!?
- Com certeza! De quem mais
poderia ser?!
- Então, meu amigo, pode-se ir
embora, que o seu exame está feito e com excelente classificação.
E, continuou o Sr. Figueiredo,
“Nem entrei no carro para fazer
o exame, nem nada”! Exames destes vale a pena fazer!
“Mas, tais atenções só podem ser
dispensadas a quem homenageia o “Glorioso”,
rematou o Sr. Figueiredo!
Almoço no Sporting com o casal Vasconcelos
Por
volta do meio-dia, o Carlos e a Julieta vieram com os miúdos buscar-me par
irmos almoçar ao Sporting Clube de Nampula. Foi-nos servida uma bela feijoada à
transmontana e, como sobremesa, tivemos uma salada de fruta em que abundava na
papaia, a banana e a laranja.
Trouxeram-me
o Dicionário
Português-Macua da autoria do Pe. Prata, edição da Sociedade
Missionária Portuguesa; composto e impresso na Escola Tipográfica das Missões de
Cucujães, para o poder ver, apreciar e fotocopiar, se achasse que valia
a pena.
Visita do Museu e ao grupo de artesãos
Após
o almoço fomos visitar o Museu de Nampula, onde apreciámos, tanto as diversas
colecções, como a exposição de peças de artesanato ali existentes.
Finda a visita ao Museu tivemos
a oportunidade de falar com os artesãos que trabalham, em grupo, nas costas
desse mesmo edifício. Vi um dos artistas a desbastar um tronco de árvore de
pau-preto e a dar-lhe a forma, ainda tosca, da águia que eu havia encomendado.
A Julieta, afinal, foi uma das animadoras desse grupo e quando a viram
lamentaram-se de não ter aparecido mais vezes por ali, manifestando grandes
saudades e apreço por ela. Irei buscar a águia, amanhã de manhã, antes de
partir para o aeroporto.
Um dos artesãos mostrou-me duas
estatuetas, em bruto e com cola negra a tapar rachas ou fendas da madeira e com
a parte negra no centro, enquanto as camadas exteriores eram de cor amarelada
dizendo que estavam assim para que quem não conhecesse o pau-preto, visse como
era na realidade. Até determinada grossura, o tronco não tem nada de preto; a
partir daí começa a surgir o preto no interior crescendo à medida que o tronco
vai engrossando e tornando-se adulto. Será que a raça negra seguiu o mesmo
processo em relação à branca? Neste caso vejam quais as ilações a serem tiradas
em relação a uma e à outra no que respeita à cultura e ao desenvolvimento!
Antes
de sair desse espaço, apreciámos os trabalhos de ourivesaria que se encontram
numa palhota ao lado. Tinha lá um cinto feito em moedas de cinco escudos, um
colar com um medalhão de Jorge V, uma pulseira da largura de 5 centímetros, uma
corrente de relógio de bolso, um par de brincos, uma pulseira e um medalhão em
bronze.
Pelo
colar e medalhão pediu 750.000 e pela pulseira 500.000.meticais. Depois de bela
conversa entre ele e a Julieta, chegou a dar as duas peças por 750 mil
meticais, sem que eu lhe oferecesse nada. Eu só lhe perguntava qual o último
preço. No fim, disse-lhe que pensasse melhor, durante a noite, que eu ia fazer
o mesmo. Amanhã veremos por quanto vai ser vendido. Mas vou-lhe fazer a
proposta de 600 e sou capaz de ir até 700 mil.
Visita ao Monte Carmelo do Bom Jesus
Como
este dia era o último da minha estadia em Nampula, procurei aproveitá-lo da
melhor maneira e este aproveitamento teve como fruto visitas. Assim, depois
daquelas feitas e já mencionadas, dirigimo-nos ao Monte Carmelo a convite da
Irmã Ana Maria que pertence à Comunidade das Carmelitas calçadas, do ramo
activo e que faz parte da Comissão diocesana para a Alfabetização, entre
outras. O Carmelo situa-se à saída de Nampula, via Nacala, do lado esquerdo.
Ao
chegarmos, recebe-nos com muita alegria e acompanhou-nos na visita, tanto do
jardim e capela, como de uma irmã espanhola que tinha o braço engessado desde a
clavícula. Esta está em Moçambique desde 1975 e contou-nos que pôde presenciar
três fazes neste país: a primeira, em que havia de tudo, a segunda que levou o
país a zero e a terceira que está no caminho da sua recuperação.
A
Ana Maria ofereceu-me dois exemplares de histórias tradicionais sobre a
comunidade ou povo macua. Trata-se de uma recolha oral, por meio de gravações,
ao vivo, e entre as populações nativas de 10 contos tradicionais, mas,
portanto, em língua macua. A sua edição pertence à Comissão Diocesana de Terras
Arquidiocese de Nampula, edição de 2002. O seu autor é ITHALE AS MULAPONI SINÀLELIWA N’ATTHU, com o apoio financeiro de
Trocaire; desenhos de João Travessa. Foi impresso na Novagráfica de Nampula,
Lda.
A
Ana Maria que parece muito dinâmica apresentou traços profundos de quem é
verdadeiramente idealista, empenhada na busca de horizontes mais vastos cujo
alcance deverá passar pelo árduo trilhar de um caminho diferente, mas nem por
isso, mais fácil do que aquele por onde tem caminhado. A busca, porém, é sempre
digna de apreço e espero que, uma vez começado esse caminhar, consiga chegar ao
topo da felicidade que tanto almeja.
Problemas nas malas dos meus colegas
Quando
regressávamos dessa visita recebi um telefonema do Jorge Rodrigues.
Confirmou-me o que já sabia por telefonema da Tabita, isto é, que as suas malas
não tinham seguido para Lisboa no mesmo avião. Não sabiam, por enquanto, onde
elas teriam ficado ou para onde elas teriam ido.
Ao
mesmo tempo, a Julieta recebia um telefonema do seu filho, Jorge, a dizer-lhe
que, afinal, o peso permitido a cada passageiro não era o de 30kg como julgavam
e como diziam os colegas que já tinham partido, mas sim de 20 kg apenas, como
eu afirmava, antes de partirmos de Lisboa. O problema que agora se lhe colocava
era o de pagar os quilos que levava a mais e que pertenciam ao Adelino. Eu
disse-lhe que pagasse que depois eu lhe daria o dinheiro logo que chegasse a
Lisboa. O problema agravou-se porque o miúdo não levava dinheiro para essa
eventualidade. Valeu-lhe um amigo da família. Teremos de fazer contas com este senhor,
logo que eu chegue a Lisboa.
Enquanto
eu estava a escrever este último parágrafo, recebi um outro telefonema da
Clementina que procurava a Tabita. Engano, pois o cartão do telemóvel desta
está comigo e o do meu com ela. Foi bom, no entanto, ouvir a sua voz.
Ao
meu lado e não muito longe, talvez a 200 metros está a decorrer um jogo
realizado com alunos das escolas. Este jogo consiste em responder a questões
que lhes são colocadas sobre a história da Cidade de Nampula. Neste momento a
apresentadora está a apresentar os agradecimentos a todos os que colaboraram
neste evento.
Finalmente, chegou a chuva
Afinal
a chuva sempre veio. Eram as seis horas e meia, sensivelmente quando ela
começou a cair. E que bem está caindo! Não sopra o vento e ela cai em grossas
gotas, sendo absorvida avidamente pela terra ressequida dos campos ou lavando
as ruas sujas da cidade.
Ainda
depois do almoço comentávamos que o tempo parecia mesmo de chuva. A Julieta
dizia que talvez o vento levasse as nuvens, mas não. Ela veio e veio forte e
por longo tempo.
São
agora, precisamente sete horas e cinco minutos e as gotas cristalinas batem
forte fortemente nos telhados e cantam, as goteiras, um som parecido ao das
cascatas principiantes, jorrando ao longe, desfiladeiro a baixo... Até quando
durará esta canção de embalar, esta bênção dos céus que vai fertilizar jardins,
prados, machambas e plantações de cajueiros, mangueiras e papaieiras? Os
serviços meteorológicos parece que não acertaram lá muito bem, a não ser que
Nampula seja considerada região centro, pois para o dia 22 de Agosto previa:
-
Para Norte: “... céu pouco nublado temporariamente muito nublado: Neblinas ou
nevoeiros matinais locais. Vento de nordeste a leste fraco a moderado soprando,
por vezes, com rajadas.
-
Para o Centro: “... céu pouco nublado com períodos de muito nublado.
Possibilidade de ocorrência de aguaceiros fracos dispersos na faixa costeira
das províncias de Sofala e Zambézia. Vento de sueste a leste fraco a moderado
soprando, por vezes, com rajadas”.
-
Para o Sul: “....céu pouco nublado localmente limpo. Neblinas ou nevoeiros
matinais locais. Vento de sueste fraco a moderado. Vento de sueste a leste
fraco a moderado.”
Para
o dia 24 de Agosto, as mesmas previsões meteorológicas acenam para “aguaceiros fracos e dispersos”, tanto
para o Norte, como para o Centro do país.
Bem
fiz ter lavado, ontem à noite, a minha roupa suja. Assim pôde secar e ser
dobradinha antes de vir a nossa amiga chuvinha. Não cheirará mal quando a
polícia alfandegária abrir e vasculhar a mala. Eles merecem tal atenção, mesmo
se não utilizarem luvas brancas como manda a lei. Mas sabem? Esta só vigora, às
vezes, e para alguns! E, em certos casos (poucos ou muitos), ainda há gente
que, se não segue a lei, é porque não a aprendeu ou nunca ninguém lha ensinou!
23 Agosto 2003 (Sábado): Minha Partida Para Lisboa
·
No
Aeroporto
·
Chegada
a Lisboa
No aeroporto de Nampula: reencontro com a Isabel
Aqui,
reencontrei-me com a Isabel que se encontrava acompanhada pela irmã do Dinho,
ambas apresentando uma cara desventurada. Aparecera no aeroporto, em vez do
irmão, para se despedir da Isabel, alegando que ele não se encontrava com
coragem de enfrentar uma tal despedida. Que cegueira, meu Deus! Estamos perante
o desfecho ou o corolário de um romance começado no ano de 2002? Ou ainda se
seguirão outros episódios afins? É muito possível, tendo em conta a tenacidade
do amor colhido à primeira vista!
Pouco
tempo depois, ao embarcarmos, encontrei o Jorge, filho da Julieta Vasconcelos.
Afinal não tinha partido no dia anterior, como estava previsto.
Depois
de embarcarmos, sentei-me no meu lugar que ficava distante dos outros dois
companheiros e passei o tempo a ler revistas, jornais e um livro sobre
Moçambique.
Chegada a Lisboa
À
chegada ao aeroporto da Portela, esperava-me a Tabita.
[1] A Restauração
dos edifícios do actual museu( Tel. 610081; Fax 610082) começou nos finais do
ano 1998, no primeiro andar do Palácio de São Paulo (construído, no século
XVIII/XVIII, para residência e colégio dos Jesuígtas), onde já funcionava o
Museu de Artes Decorativas e onde se procurara reconstituir a época em que o
Palácio fora residência dos capitães-generais” (Alda Costa, Os
Museus da Ilha de Moçambique e os Tesouros que encerram, in INDICO,
Revista de Bordo da LAM, Série II, nº 19, 2002, p.41).
O primeiro Museu foi criado por Portaria de 22 de Fevereiro de 1889 e a
sua Instalação teve lugar na Praça de S. Sebastião e foi inaugurado poucos
meses depois, incluindo objectos considerados de valor histórico tais como
armas, bandeiras, tambores e bastiões pertencentes a autoridades locais”.
(Ibidem).
[2] Comemora a chegada de
Vasco da Gama, em 1498, a essa localidade.
[3] (Telf. 082-601-334)
Email: mop21332@netcabo.pt
[4] Eu adverti ao encarregado para avisar o Hélder de que era necessário
convidar um agrónomo para vir ver e curá-los.
[5] Eu adverti ao encarregado para avisar o Hélder de que era necessário
convidar um agrónomo para vir ver e curá-los.
[6] O Chico Buanauassi será contratado, à jorna, quando for
necessário cortar o mato e fazer a limpeza de áreas determinadas do terreno
[7] E-mail: consultana@hotmail.com
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