Thursday, December 27, 2012

MOÇAMBIQUE 2003 (VII)




ÍNDICE


















CAPÍTULO III: CONTINUAÇÃO DO LEVANTAMENTO DAS CASAS

1- Visita De Reconhecimento

01 Agosto 2003 (6ª Feira) – Nas Chocas-Mar

·         Correios, Telefone, Transportes, Água,
·         Continuação do desenho da Casa Grande
·         Correios
Esta manhã, levantámo-nos uma hora mais tarde. O serviço a ser levado a cabo não exigia horário rígido. Saímos para a varanda a apreciar a paisagem – mar calmo com o sol bastante fraco e quase envergonhado.
Não sei, por que motivo o António perguntou onde eram os Correios. Suponho que foi mais por curiosidade. Eu nunca os tinha visto, nem sabia se e onde existiam. Recorremos ao nosso cicerone habitual quando se trata de coisas cá da Terra, o Raimundo. Ficámos a saber que, aqui, não existem. E o mais grave e para admirar (porque no tempo da outra senhora existiam, sim senhor), é que nem no Mossuril a gente de hoje não ouve falar em tal coisa. O Raimundo diz que os novos não sabem o que isso é. E quando lhe perguntámos se alguém escrevia ou recebia cartas ele riu-se, dizendo que tal luxo não é permitido, aqui. Só existem no Namialo.

Telefone

Quanto ao Telefone a situação é parecida. Em toda a Vila das Chocas só existe um posto de serviço com duas cabines sem telefone, mas um telefone sobre a mesa do oficial de serviço. É dali que se telefona, sem alguma privacidade. Ficha para Internet, não há o que não é para admirar. Estes bens, para nós indispensáveis, não existem nas residências em qualquer outro lugar desta vila. Na Vila do Mossuril existe também um posto público e, talvez, exista no posto de trabalho do Sr. Administrador. O que é mais incrível é que é um bem que não existe no Centro Médico de qualquer uma destas duas vilas.

Transportes

Transportes públicos não existem, praticamente. A circulação de pessoas e bens é feita, com dificuldade, por particulares através de carrinhas de caixa aberta – “Chapa 100”- que excedem habitualmente a lotação permitida. É usual verem-se carrinhas sobre as quais se amontoam material, e pessoas em número e peso deveras excessivos. Como eles se empoleiram uns em cima dos outros é que é para admirar e digno de ser registado por fotógrafos profissionais ou por simples amadores.

Estações de Serviço

Relativamente a Bombas de Gasolina, a situação é idêntica, distando sessenta quilómetros daqui. As que, em tempos idos, existiram, nas Chocas e no Mossuril estão agora, desactivadas. Os condutores de viaturas, têm de andar sempre com um depósito de reserva, atrás, se não quiserem ficar no caminho à espera de alguém que os possa e queira “desempanar”.

Estradas

Já agora, falemos um pouco das Estradas. De Nampula até aqui são sensivelmente 200km. O piso tem de tudo. Logo à saída da capital provincial temos vários quilómetros de estrada crivada de buracos. É certo que se vêem trabalhos de beneficiação, assim como montões de brita acumulada junto aquilo que entre nós se chamam bermas, mas tudo parece andar a passo de caracol. Do Namialo até Nacala e a variante que vai até à Ilha estão em bom estado, depois de terem sido renovadas. Desta variante até ao Mossuril temos 34 km de picada que, depois de ter sido beneficiada por uns benfeitores estrangeiros se vai degradando, de ano para ano. O mesmo vai acontecendo aos 14 km que medeiam entre essa vila e a das Chocas-Mar e aos dois quilómetros que vão do Mossuril à aldeia e Plantação de Saua-Saua.

Recursos hídricos – Água

Quanto a este bem necessário, as coisas parecem ainda piores. Falar de água canalizada nem chega a ser um sonho. A vila de Chocas-Mar possui um Reservatório que a distribui por 4 torneiras (agora apenas três funcionam) instaladas mesmo em frente ao reservatório, à entrada da vila, debaixo duma frondosa Borracheira, onde aflui uma grande parte da população.
Também, entre a Escola antiga, agora abandonada (embora ainda em estado razoável e apresente arquitectura melhor e mais funcional do que a actual, construída por americanos) e a Capela existem dois poços cujo nível desce e sobe consoante a variação das marés. Se antes estes forneciam água a um chafariz (hoje em ruínas), por meio de bombas elevatórias, actualmente continua a fornecê-la a todos aqueles que ali vão tirá-la por meio de cordas e canecos.
As pessoas dos povoados mais do interior percorrerem quilómetros com jarricans ou baldes para tirá-la dos poucos poços que estão de boca aberta no meio do matagal. A maior parte leva consigo um bambu ou um varapau em cuja extremidade se encontra atada ou espetada numa vasilha plástica cortada ao meio ou a parte inferior duma garrafa ou dum garrafão para o vasilhame de transporte. Essa água, porém, é imprópria para beber, na maior parte dos casos, necessitando, portanto, de ser fervida, caso contrário provocará diarreias e outras doenças
Nestas circunstâncias torna-se muito difícil, para não dizer impossível, transformar uma sociedade. Não admira, pois que muitos prefiram viver como e com a natureza!

Desilusão

A meio da manhã ouvimos buzinar. Cheios de esperanças, saímos para ver. Ao portão estava um carro azul. À primeira vista julguei ser o nosso carro, mas depressa desfiz essa ilusão pois, tanto o condutor como o seu pendura eram de raça negra. Viemos a saber, depois de terem saído, que eram emissários enviados pela Firma JFS do Namialo. Vieram trazer-nos batatas, cebolas, azeite carne, refrigerantes e carvão. A Dra. Fátima deve ter comunicado de Maputo com a sucursal do Namialo, depois de saber da partida da sua prima, Dra. Tabita.
Por meio deles soube o Raimundo que os nossos sócios tinham partido de Maputo quarta-feira e que, pelos cálculos que eles fizeram, tendo em conta o mau estado e a longa distância do trajecto, chegariam a Nampula lá para o dia oito de Agosto.

2- Desenho da Casa Grande

São, presentemente, 11 horas. O António continua à volta do desengano da Casa Grande. Depois do almoço dará por terminada esta tarefa. De facto a casa grande, é mesmo grande sob todos os aspectos. Os recortes e partes circulares complicam a tarefa.
São já a quinze horas e a tarefa não está concluída. Teremos de interromper os trabalhos e ir ver se temos alguma mensagem sobre os nossos sócios.
Houve uma mensagem do meu sobrinho Tiago para incriminar o pai de “se ter esquecidos dos filhos”. Nesse mesmo momento telefona a minha cunhada, Cândida, pela qual soubemos que tudo estava a corre bem, lá pela Guarda. Dos nossos sócios, porém, é que nem sombras de tipo algum.

Preocupação com os nossos sócios

Após o almoço o trabalho continuou até às dezasseis horas, altura em que nos levantámos e fomos aos correios. Telefonámos ao Sr. Raul Amarchande através do qual soubemos que os nossos sócios não tinham comunicado com Nampula. Ele supunha-os ainda em Maputo enquanto a nós nos tinham dito que teriam partido daí na quarta-feira (já passada). Soubemos também por ele que a viagem do Eng. António Matias estava já confirmada para o dia oito de Agosto e garantiu-nos que, se necessário, providenciaria o nosso transporte para o dia anterior à partida daquele, de modo a que as coisas se desenrolassem nas calmas.
Nos correios ainda nos rimos bastante com o oficial, Valentim, um jovem sportinguista que torce para que, esta noite, o Benfica sofra contra o Boavista.
De caminho a casa comentámos o atraso e contratempos que devem ter tido e pelos quais estarão ainda a passar presentemente os nossos sócios por via do malfadado carro. Será que procuram solucionar o caso da legalização? O mal é se ficaram por lá no meio dalguma picada, sem gasolina ou com alguma avaria. E o pior é que, mesmo que sejam três, um apenas a mais do que grupo que veio à frente, não têm com eles nenhum nativo que os acompanhe! Isto fez-me lembrar as recomendações que a Tabita nos deu: “Nunca andem sozinhos....levem sempre o Raimundo convosco”. Imaginem, vocês.... Tanta preocupação por quem está praticamente em casa e entre os seus e eles a fazerem-se valentes entre um mundo desconhecido: estradas, caminhos ou picadas de mais de dois mil quilómetros, povoados de imprevistos, aos montes! Bem, cada um sabe de si!
Agarrados, de novo, ao trabalho, eu escrevi para você estes apontamentos e o meu irmão António deu os últimos retoques ao trabalho que o trouxe a estas terras africanas. São as dezassete horas e vinte e cinco minutos. Parabéns! É tempo de descansar, de passear e de aproveitar da praia. Mas, desta, só a partir de amanhã, pois hoje já é noite. Esta chega aqui muito cedo!
José Matias saboreando um coco
Foto de Eng. António Matias
Estado lastimoso da Plantação
Foto de Eng. António Matias


Planta de implantação (Eng. António Coelho Matias)

 Legenda:

CASAS
RESTANTES EDIFÍCIOS

Nº 1= Câmara Frigorífica
Nº 03 = 4ª Casa
Nº 2 = Armazém de Nascente
Nº 04 = 3ª Casa
Nº 5 = Nascente principal da Água
Nº 06 = 5ª Casa
Nº 7 = Fábrica do Algodão
Nº 10 = Casa/Recepção
Nº 8 = Casa das Máquinas
Nº 13 = 2ª Casa
Nº 9 = Posto Médico
Nº 14 = 1ª Casa
Nº 11= Fábrica de Arroz
Nº 17 = Casa Grande
Nº 12 = Oficinas de Automóveis

Nº 15 = Armazém do Algod

Nº 16 = Carpintaria

02 Agosto 2003 (Sábado) – Nas Chocas-Mar
·         Sem novas,

Continuamos sem novas

Enquanto nós os dois, António e José continuamos em Chocas-Mar, separados de tudo por falta de transportes, os nossos sócios debatem-se, possivelmente, com dificuldades e obstáculos, sem conta, nas picadas que medeiam Maputo e Nampula. O que lhes tem acontecido é por nós ignorado em absoluto, pois desde a terça-feira, dia em que ainda se encontravam na capital até ao momento, nunca mais foi possível contactá-los nem por mensagens gravadas, nem por outro meio qualquer.
Secagem do Polvo
Foto de António Matias
Também aqui tem havido dificuldades no alcance dos telemóveis como no sistema de abastecimento de água e luz. Vários têm sido os cortes de luz e a bomba que nos eleva a água para o depósito da residência está avariada. Só na segunda-feira é que os técnicos responsáveis poderão ser avisados.
E como, o trabalho que nos competia já está terminado, resolvemos contactar o Sr. Adamo para nos levar de visita à Ilha, amanhã e ir connosco comprar material de construção a Nacala, na segunda-feira. Por outro lado, se, no dia sete ainda não tivermos o nosso carro, aqui, trataremos com o Sr. Amarchande para nos providenciar transporte para Nampula, de modo a que o António tome o avião, às dez horas e trinta para Maputo e Lisboa, no dia seguinte.
 “Horta-rua” nas Chocas-Mar
Foto de António Matias
Entretanto, e com todas as calmas, vamos dando os nossos pequenos passeios na praia, e na “rampa das telecomunicações” na expectativa de captarmos alguns sinais de esperança tanto deles como de outros nossos familiares. A partir de alguns populares soubemos que o Benfica tinha ganho, ontem, ao Boavista por dois a zero, golos de Cristiano e Simão Sabrosa. Mas, como hoje os telemóveis não conseguem captar nada, devido a avaria no sistema nacional, segundo o oficial dos telefones da Vila, resolvemos utilizar o posto público, tendo ficado a chamada em 79.000,00Mts.
Construção de uma casa moderna
Foto de António Matias

CAPÍTULO QUATRO: NA ILHA DE MOÇAMBIQUE

03 DE AGOSTO DE 2003 (DOM.): ILHA E CHOCAS

·         Distância entre Chocas e Ilha de Moçambique,
·         Postos de abastecimento de combustível,
·         Na Ilha,
·         Contacto com os nossos sócios

Distâncias entre Chocas e Ilha de Moçambique

Como os nossos sócios ainda não comunicaram connosco depois que saíram de Maputo, e supomos que isso aconteceu na quarta-feira, dia 27 de Julho, e como o António deve partir de Nampula para Maputo na sexta-feira, às dez horas, estamos em crer que não terá tempo para dar umas voltas por estas bandas. Por isso resolvemos ir visitar a Ilha, neste dia três de Agosto
Deste modo, combinámos com o Adamo para vir buscar-nos às Chocas, por volta das seis da manhã e levar-nos à Ilha, andando ele connosco até ao meio-dia.
Partimos, pois das Chocas às seis e meia e percorremos 12 km até ao Mossuril, onde existem dois desvios de 2,5 a 3 km para a Plantação de Saua-Saua. Daqui arrancámos para Naguema pela Estrada Nacional 222, fazendo 20 km.
Estes 22 quilómetros foram percorridos durante uma boa hora e meia, porque parava em todos os lugarejos e ao longo da picada para pegar e largar passageiros que se iam amontoando como bolas e lâmpadas numa árvore de Natal. Em Naguema saíram cerca de trinta, sem exagero.
Picada entre Naguema e Chocas-Mar, depois de arranjada
Foto de António Matias
De Naguema ao Lumbo, onde existe um Aeródromo medeiam 18 km pela Estrada Nacional 105 e a partir daqui até à entrada na Ponte que leva à Ilha são mais 2 km aos quais se devem adicionar 3,250 km de ponte, para pisar a Terra que em 1498 foi palco da chegada dos primeiros portugueses.

A partir destes números podemos estabelecer a distância que vai da Plantação de Saua-Saua ao Aeródromo (3+20+18 = 41km) e a que vai da mesma até à Ilha de Moçambique (3+20+18+2+3,250= 46,250 km). Do Aeródromo do Lumbo voa uma avioneta com destino a Nampula e Pemba, fazendo o trajecto em forma triangular, às terças e quintas-feiras. Parte de Nampula e passa pelo Lumbo, indo, finalmente a Pemba, onde permanece até à quinta-feira, dia em que refaz o mesmo trajecto de regresso.

Postos de abastecimento de combustível, maneira e preços

O que aqui se pode chamar “postos de abastecimento” não podem vocês imaginar aí o que seja. Talvez pensem que são como as nossas estações de serviço ou, pelo menos, como as nossas bombas antigas. Aqui, na zona, bombas parecidas às vossas, mas ainda mais modestas só existem duas: uma no Monapo e outra na Ilha. Entre as outras localidades existe outra espécie de postos: os de garrafões de cinco litros, garrafas de litro e meio ou de litro sobre uma tábua, à beira da estrada, nas pequenas localidades. E sirva-se o cliente porque senão terá de ficar em terra ou à espera horas e horas por alguém que o venha desempanar.

Os preços, aqui praticados, são um tanto mais elevados do que nas Bombas normais mas compensa quando se têm estas a longa distância. O litro do gasóleo custa nestes postos entre 11.000,00 meticais (no Lumbo) e 12.000,0 meticais (nas Chocas), enquanto nas Bombas normais custa 10,250,00 meticais; o óleo para o motor para ambos os tipos de motor custa nas Bombas e nestes postos 30.000 meticais.


Regresso da fonte
Foto de António Matias
Ao chegarmos à Ilha, o Eng. Matias ficou maravilhado com a Ponte que lhe dá acesso.
Ponte de acesso à Ilha de Moçambique
Foto António Matias
Depois de a atravessar, seguimos, de carro, pela marginal do lado esquerdo de quem entra na Ilha. À medida que íamos avançando abriam-se-nos os olhos de admiração perante o que víamos à nossa frente: ruas sem concerto, casas fantasmeadas, crianças, adultos, jovens e anciãos em trajes reveladores das necessidades mais básicas.
 Seguindo mais adiante fomos dar ao Estaleiro que fica por detrás da Mesquita principal. Mas coisa inaudita e inacreditável! A praia de areia que, um dia, fora branca, encontrava-se agora conspurcada com lixo, algas e excrementos humanos em tal abundância que avançar sem ver bem onde se punham os pés seria arriscado e imprudente. Tais cogumelos imprevistos pululavam por todo o lado, exalando um cheiro nauseabundo.
Um dos edifícios já recuperados
Foto de António Matias
 Deixando para trás esta visão dantesca acelerámos a nossa descoberta. Chegámos à praça ou largo da Alfândega e ao Palácio Governamental. Este, servindo hoje em parte de museu, com a Igreja soberba que se levanta ali contígua, foi, na sua origem, construída pelos Jesuítas para seu primeiro Colégio[1] na Ilha. Em frente ergue-se a estátua de Vasco da Gama à qual lhe faltam ainda as placas comemorativas e respectivas inscrições[2].
Palácio do Governo
Foto de António Matias
Visitámos, também, a casa que, nos tempos áureos da Família Ferreira dos Santos, serviu de centro do seu empório africano, mas que, neste presente se encontra praticamente abandonada, sendo utilizada por alguns inquilinos sem que nem renda pagam a ninguém.
Casa-mãe da Firma João Ferreira dos Santos
Foto de António Matias
Seguimos, depois para a Fortaleza. Ali e mesmo já antes, o meu irmão António fez uma série de fotografias que ficarão para memória da nossa passagem.
 Entrada da Fortaleza
Foto de António Matias
Finalmente fomos até ao Mercado, onde pudemos presenciar a pouca variedade e abundância de víveres e Meneses fregueses ainda. Lá fizemos as nossas compras, que não foram além de batatas, fruta e limões. A propósito leia o parágrafo que se segue e aprenda a fazer compras.
Maqueta do Forte
Foto de António Matias
 No topo da Fortaleza
Foto de José Coelho Matias

4- Costumes a conhecer

 Sabe o que significa a expressão “cinco conto cada lugar”? (sic). Talvez saiba ou talvez julgue que sabe. Seja como for, aqui vai a explicação. Esta manhã, já sobre as onze e meia, dirigimo-nos ao mercado. Ao apreçarmos a fruta, neste caso a tangerina perguntámos:
- Quanto custa a tangerina?
- Cinco conto cada lugar.
- Está bem, meta no saco
Reparámos e ficámos boquiaberta quando vimos a mulherzita a meter dentro do saco apenas 4 tangerinitas de casa verde como a lima.
- Só, perguntei?
- Sim, cada lugar custa cinco conto (sic), respondeu a mulher apontando para os vários montículos de tangerinas.

Reparando melhor, olhámos e vimos que, de facto, as tangerinas estavam todas agrupadas em conjuntos de 4, colocadas umas sobre as outras em forma de cone. Este conjunto (vejam bem os de matemática!), chama-se, aqui, “um lugar”. Ainda rimos, no momento juntamente com a mulher e vizinha, e continuamos a repetir a risada, cada vez que nos vem a memória o caso.

Contacto com os nossos sócios

 Finalmente, conseguimos contacto. Eram 21,30 horas quando conseguimos contactar com o Adelino que se queixava de nunca nos apanharem. Claro. O nosso posto de telecomunicações é variável consoante o vento. Nem sempre que ali nos deslocamos, e são muitas as vezes que o temos feito, conseguimos rede.

Estão em Quelimane e desta cidade até Nampula vão ainda uns bons 200 quilómetros. Será que chegam amanhã, ou depois de amanhã?

Neste momento o Benfica está a ganhar ao Leixões por uma bola a zero, golo de Tiago, depois do jogo ter começado há poucos minutos. Agora, mesmo, marca o segundo golo, feito por Hélder. Mais alguns minutos e está feito o resultado de três a zero na primeira parte.

É a final do torneio realizado no estádio do Beça para comemorar o seu 1º centenário de existência como clube. Os clubes que tomaram parte nele foram Benfica (2) contra o Boavista (0); Leixão (5) contra o Sporting (4), indo à final o Benfica contra o Leixões, tendo já sido apurados os 3º e 4º lugares (Sporting e Boavista respectivamente). Tudo leva a crer que a taça seja ganha pelo Benfica.

CAPÍTULO CINCO: NAS CHOCAS-MAR E EM NACALA

04 Agosto 2003 (2ª Feira) Em Casa nas Chocas-Mar

·         O 1º Mergulho,
·         Sinal da antena mudado ou....

1º Mergulho do ano

Hoje foi o dia do meu primeiro mergulho deste ano, nas Chocas. De manhã o tempo parecia desagradável, mas aí pelas nove horas, irrompeu o sol com coragem e começou a aquecer. Levados por este “aquecimento” e livres já dos compromissos assumidos perante a Direcção da Mossáfrica e da Patroa, fomos ver a praia e decidimos dar por ela um passeio.
Belas e antigas Casuarinas na Praia das Chocas
Foto de António Matias
Daí a pouco eu não resisti e lancei-me à água por duas ou três vezes, desenferrujando os meus músculos dos membros e do tórax. A água, aqui, é límpida e azulinha, principalmente quando está sem algas, como era o caso de hoje.
Praia das chocas
Foto de António Matias
De quando em vez passavam barcos, tanto à vela com remadores a cantar para acertar o esforço dos remadores, como pirogas de menor porte com dois pescadores ou um apenas, de camarão no anzol e este na ponta da linha em busca de enganar um peixe desprevenido ou faminto.

Sinal da antena mudado ou enfraquecido

Já desde sexta-feira, à noite, que notámos diferenças quanto à captação das ondas que permitem o contacto humano, via telemóveis. Hoje, assim como nesses dias anteriores, tentámos várias vezes ligar o telemóvel, mas sem resultados palpáveis. Tornou-se quase impossível o contacto. Perguntamo-nos várias vezes se o defeito seria do alcance da antena, ou se, pelo contrário, teria havido alguma avaria, ou, mesmo, se teria havido mudança de direcção dessa mesma. Não sabemos o que terá acontecido. Só sabemos que, nos lugares onde normalmente tínhamos rede, nestes dias não existiu predicamento. Ainda depois do almoço, que hoje foi apenas às 15.45 horas (!?) experimentámos, mas nem sinal conseguimos ter.

Deste modo, será difícil saber quando é que chegam os nossos sócios. O Raimundo tem para si que chegarão esta noite...., lá sobre a madrugada! “Feelings” de quem espera pela “patroa” que prometera ser a madrinha do seu Joãozinho.

São precisamente dezoito horas. O meu irmão lê tudo o que vem nas poucas revistas que vieram de Lisboa, mesmo aqueles artigos e notícias que já sabe quase de cor. É que não há nada para ler, o trabalho está terminado e não temos meios de nos deslocarmos senão alugando “Chapas 100” que nunca nos levam sem sermos acompanhados por um magote de gente que, ora sobe aqui e ali, ora desce lá e acolá. E, nós os dois, na cabine com o motorista, apertadinhos como varas atadas num molho! Quando o nosso carro chegar já não haverá tempo para darmos umas voltinhas com o meu irmão que tem sido um santo de paciência a ser devidamente enaltecida! Desta vez a sua experiência em terras africanas ficou-se pelo trabalho e pela pobreza que por aqui tem visto!

05 Agosto 2003 (3ª Feira) Ida a Nacala

·         Chegada dos nossos sócios,
·         Ida a Nacala,
·        Estado lamentável da picada

Chegada dos nossos sócios


Por volta das quatro horas da manhã, chegam às Chocas-Mar, a Tabita Almeida, o Adelino Torres e o Jorge Rodrigues, depois de uma viagem longa, atribulada, mas de recordações para o futuro. Vinham num belo Nissan, 4x4, que adquiriram em Joanesburgo, entrando na aquisição Tabita Almeida, Jorge Rodrigues, Adelino Antunes e José Matias. Esta viatura vai ser de muita utilidade a todos os que por aqui passarem. Depois de uns momentos de conversa fomo-nos deitar para nos levantarmos, por volta das sete, no intuito de irmos a Geba ver as fábricas do caju e do sisal.

4- Ida a Nacala


Como nos atrasámos por diversos motivos, a nossa programada ida a Geba teve de ser protelada para o dia seguinte. Passámos, por isso o resto do tempo apenas em Nacala. Como não pudemos falar com o Sr. Ciríaco antes do almoço, pois já chegámos a horas deste, fomos almoçar ao complexo turístico Napala que se situa na Praia Fernão Veloso, onde uns comeram camarão frito, outros camarão grelhado e outros ainda um T bone, à sul-africana.

Preços de Alojamento


  1. Tipo 1 -  40 USA $,
    • 1 cama de casal
  2. Tipo 2 – 70 USA $
    • (1 Cama de casal,
    • Dois beliches,
    • Suite 1 Cama de casal grande – 55 USA $
    • WC,
    • Sala,
    • Cozinha


Falámos com o Sr. Ciríaco e o seu novo colega que com ele fica a gerir a Empresa JFS. Encontrámos igualmente o Eng. Frederico que foi transferido do Gurué, onde o encontramos o ano passado, para Geba. Ainda antes de termos esse rendez-vous, encontramo-nos com o Sr. Domingos, condutor da mesma Empresa, esse mesmo que, há três anos (Agosto 2001), nos serviu de condutor durante a nossa estada nas Chocas e Saua-Saua.
Na conversa tida com o Sr. Ciríaco, ficámos ao corrente das contas relativas aos gastos com os trabalhadores e materiais para Saua-Saua e da situação em que ficou esta mesma a partir do mês de Abril, isto é: sem guardas, por terem sido todos despedidos. Despedimento esse que sucedeu sem a Tabita ter sido informada por parte dos Gerentes da Firma JFS, procedimento que nos causou muita admiração.

Estivemos também na Casa Comercial Rassul Trading, onde conversámos com um empregado Português, chamado Fernando Cunha. Esta Casa comercial deverá pertencer ao grande complexo Rassul que se encontra à entrada de Nacala, do lado esquerdo.
Pelos preços que notei nas bombas de água, parece-me que não compensa levar daqui material, a não ser que vá num contentor. Em pequeno número não merece a pena.

Estado lamentável da Picada até ao Mossuril

A picada que vai de Naguema até ao Mossuril e daqui às Chocas encontra-se muito mal conservada. E o seu mau estado agrava-se de dia para dia. Se não houver quem lhe dê a mão, daqui a dois ou três anos ficará completamente intransitável. É que as chuvas não perdoam e o tráfego é cada vez mais intenso.

CAPÍTULO SEIS: VISITA A GÊBA E PREPARATIVOS DO REGRESSO A LISBOA DO ENG. ANTÓNIO MATIAS

06 Agosto 2003 (4ª Feira) Ida A Gêba

·         Percurso de Naguema a Geba,
·         Visita à Fábrica do Caju,
·         Regresso e sessão de anedotas

Percurso de Naguema a Geba

Saindo às oito horas, dirigimo-nos a Geba, passando por Nacala Velha, antigo porto natural, utilizado pelos portugueses. A estrada que ali ia dar e que, no ano passado estava em muito mau estado, encontra-se, agora, remendada tendo transformado o seu visual e concedendo percorrer todos aqueles quilómetros em muito menos tempo e mais segurança. A própria picada que vai dali a à vila “Sete de Abril” também se encontra em estado bastante bom. Mau está o troço que vai dessa vila às Fabricas de Caju e de Sisal de JFS.

Visita à Fabrica do Caju

À chegada à Fábrica de Caju demos com o Sr. Vítor Pires e seu colega a sair, de camioneta. Ao verem-nos chegar voltaram para trás para nos receberem e nos acompanharem na visita à fábrica.
Residência da JFS em Geba
Foto de António Matias

A visita era motivada pelo interesse que o Eng. António Matias tinha mostrado em ver como o caju era tratado. Algo de diferente que encontrámos comparativamente ao ano passado foi a eliminação da calibragem, ou seja, da separação do caju por tamanhos, feita por meio dum crivo em forma de tubo e rotativo como explicámos na crónica do ano passado.
Máquina de descasque do caju
Foto de António Matias

Regresso e sessão de anedotas

A regressaremos às Chocas o caminho estava a parecer-nos um tanto cansativo e o ambiente ia-se tornando pesado, à medida que a noite se aproximava. Para evitar o sono da condutora, comecei por contar anedotas, o que motivou um outro ambiente. Era ver o Raimundo a desfazer-se em riso e a fazer comentários à anedota que ouvira. Daí em diante e até às Chocas as anedotas foram-se sucedendo de maneira hilariante. Ainda hoje, o Raimundo se ri quando me vê e recorda essas horas que, afinal se tornaram inesquecíveis.

07 Agosto 2003 (5ª Feira) Ida a Saua-Saua

 Fixação de funções para os diversos edifícios,
Saída do Eng. António Matias

Fixação de funções para os diversos edifícios

Pela manhã dirigimo-nos a Saua-Saua, com a intenção de fixarmos a função a desempenhar no futuro por cada edifício. Fizemos ainda a medição interior das casas A, B, C, D, E, tendo chegado à conclusão de que todas elas podiam ser divididas em duas belas suites. O Eng. António tomou nota de todas as modificações a serem introduzidas. Esperamos que, em breve, nos apresente o projecto de construção, neste caso de reabilitação.

Após este trabalho, todos nós bebemos um refrescante e delicioso líquido que é o produto dos coqueiros da Dra. Tabita e regressámos a casa para almoçar.

Saída do Eng. António Matias para Nampula


Depois do almoço preparámo-nos, a Tabita, o António e eu para partirmos para Nampula. Aqui ficaríamos a dormir, num pequeno apartamento da Firma JFS. Fomos jantar ao Hotel Tropical, onde nos foi servida uma bela lagosta.

Prédio JFS em Nampula
Foto de António Matias

08 Agosto 2003 (6ª Feira) Partida do Eng. António Matias para Maputo e Lisboa

·         Visita à cidade de Nampula
·         Visita ao Sr. Raposo
·         Contas em dia

Visita à cidade de Nampula: custo de blocos e brita


Hoje fomos falar com o Sr. Figueiredo a quem a Tabita ofereceu dois bonés e este encarregou-se de expedir a mala de meu irmão e foi-nos servir de “intérprete” no aeroporto. Mas sempre acompanhado dos seus auxiliares.

Demos umas voltas pela cidade; fomos ver a Barragem, mas não podemos entrar, visto estar em recuperação todo o complexo anexo. Nesta visita pudemos verificar:
  1. A localização do Instituto Superior do Magistério Primário (ISMA), logo quase à saída de Nampula
  2. A Fábrica de Coca-Cola,
  3. A feitura de blocos de cimento com máquinas rudimentares e na proporção de 1 carro de mão de cimento para cinco de areia (a mistura é feita com quase nenhuma água. A massa fica quase seca; Cada bloco custa 4.000,00 Mt.
  4. Partida de pedra para fazer brita: Cada “lugar” (monte que encheria uma lata de 20 litros), custa 20.000,00 meticais;
  5. Duas pedreiras, utilizadas para dela se fazer brita, mas tudo, ali, é feito manualmente.

O complexo da barragem e anexos, como a piscina e restaurante, estavam, agora vedados aos visitantes e parece que, ou andavam a remodelar tudo, ou já o tinham feito. Pelo menos a entrada não apresentava o aspecto desolador do ano anterior.

Embarque do Eng. António Matias


Acompanhámos o Eng. António Matias até ao Aeroporto. Ao passar pela alfândega revistaram-lhe o saco e o computador. Este foi visto e revisto, por dentro e por fora. Mas não encontraram nada. Pudera! Reservou as compras para Maputo. No aeroporto de Maputo deveria encontrar-se com o Eugénio, oficial da JFS e com o Eng. Pedro Loforte.

Visita ao Sr. Raposo

A Dra. Tabita quis ir visitar o Sr. Raposo que se encontra, actualmente em Nampula como gerente da Técnica – Venda da FORD -. Conversámos por algum tempo e disse-nos que fizemos uma boa compra, relativamente ao carro NISSAN e que, da sua parte, e desde que falemos com a Dra. Fátima, poderemos deixá-lo nas garagens de que ele é responsável, garantindo-nos que ele se encarregaria dele: de o lavar, alinhar a direcção.
Catedral de Nampula
Foto de António Matias

Compras para casa


Fomos, de seguida fazer algumas compras para casa e seguimos para as Chocas, via Namialo onde parámos para ir cumprimentar o novo administrador ou Director-Geral da Fábrica do Algodão: Eng. Garoupa e o Sr. Virgílio Francisco. Soubemos também pelo Sr. Figueiredo que, para ali, tinha ido o Sr. Raul Amarchande. Ao chegarmos não encontrámos nenhum deles, o que não admira, pois a hora da nossa chegada era hora incómoda. Era a hora do almoço. Não o fizemos de propósito, mas tudo se deveu ao mau estado da estrada
Concelho Municipal de Nampula
Foto de António Matias
Avenida do Palácio de Nampula
 Foto de António Matias
Ao chegarmos a casa, esperava-nos uma bela travessa de caranguejos que foram bem regados com cerveja nacional e portuguesa, após o qual os meus colegas que vieram de Joanesburgo se puseram a fazer as contas do que gastaram nessa viagem e a porem no branco tudo bem certinho. Efectivamente, se guardassem para mais tarde, muita coisa ficaria no “olvido”, o que não deixaria de causar aborrecimentos e trabalhos futuros.

CAPITULO SETE: PRIMEIRA VISITA DO JORGE À ILHA

09 Agosto 2003 – (Sábado): Visita à Ilha de Moçambique

·         Passagem pelo aeródromo do Lumbo
·         Ronda pelas ruas
·         Almoço no “Relíquia”,
·         Todo o dia sem luz nas Chocas
·        Arlindo suspenso

Passagem pelo aeródromo do Lumbo


Como o Jorge ainda não tinha visitado a Ilha, resolvemos ir hoje vê-la. Logo ao sair das Chocas, ele notou que o carro não puxava como antes. Havia um pequeno problema no escape.

Pela estrada boa esticou-o bem, mas, de facto, havia um problema no escape. Ou está roto, ou desencaixado nalguma junta. Ao chegarmos ao Lumbo fomos ver a pista e instalações do Aeródromo do mesmo nome, antiga base militar portuguesa para aviões de pequeno porte. A pista ainda está razoável e as instalações também, mas, actualmente não estão em funcionamento. Parece que, no ano passado, ainda houve alguns voos, mas nos últimos meses, disse-nos um jardineiro que andava a cortar as sebes, não tem havido voo nenhum. Pertence à Shell e à BP.

Perante o estado actual do aeródromo, pensámos que, em Saua-Saua, poderíamos ter um hidroavião. Este podia planar na baía e subir pelo areal, ou construir-lhe um porto de- atraque. Prescindíamos, assim, de uma pista na plantação.

Ronda pelas ruas

 Ao entrarmos na ponte houve uma sessão de filmagem. Todos estavam admirados com a estreiteza da ponte e com a sua estabilidade ainda à prova, depois de tantos anos de ser construída. No entanto, os trabalhos que vão desenvolver-se na Ilha exigem que seja alargada e que tenha alicerces mais fortes.

Ao entrarmos fizemos a ronda pela contra-costa. Vendo em primeiro plano a Igreja de Stº António, a estátua de Camões, as escolas, o cinema, a antiga piscina que está completamente em ruínas. De seguida, enquanto o Jorge e a Tabita foram visitar a Fortaleza, o Adelino e eu ficámos no carro, à espera, fazendo as nossas considerações perante o cenário que víamos à nossa afrente.

Almoço no Restaurante “Relíquias”,

 Após a visita da Fortaleza dirigimo-nos ao Restaurante “Relíquias” para almoçarmos. Não há grandes alternativas, pois além deste restaurante, existe apenas o hotel que é muito careiro e um outro restaurante típico que não tem grande apresentação. Comemos bastante bem e gostámos da apresentação do restaurante em geral, mas não das instalações da cozinha que são muito pobres e apresentam pouca higiene. O jardim que dá para o mar está razoavelmente tratado.

Todo o dia sem luz nas Chocas

 Este dia foi um dia completo sem luz nas Chocas. Não havia luz quando saímos e ainda a não tínhamos quando regressámos. Passou-se a tarde e a noite sem que ela viesse e nós com o medo que as coisas que tínhamos no frigorífico, se estragassem. Felizmente nada se estragou.

Arlindo suspenso no Lar.

 Ao chegarmos a casa tivemos a visita do Arlindo, filho do nosso cozinheiro. Veio cumprimentar-nos e a dizer-nos que tinha ficado suspenso no Lar por falta de pagamento da última prestação. De facto, faltava pagar 500.000,00 meticais. O pai tinha pago apenas 400.000,00 meticais.

10 Agosto 2003 – (Domingo): Em Saua-Saua

·         Ida a Saua-Saua e Ronda pela propriedade,
·         Contas com o João Amisse
·         Novos Guardas e suas petições

Ida a Saua-Saua e Ronda pela propriedade,


Neste dia, determinámos ir até à plantação e ali passámos o dia todo para vermos como as coisas estavam. Assim o fizemos e levámos connosco o Raimundo e o filho, dando boleia, até ao Mossuril, à sua mulher e bebé, que ia receber instrução à Igreja Evangelista.

Contas com o Amisse João

 Ao chegarmos, demos umas voltas pela plantação, fazendo várias conjecturas sobre o que estava feito e o que deveria ser feito daqui para o futuro.

De seguida sentámo-nos com o João para nos apresentar as suas contas. Vimos tudo e pareceu-nos tudo correcto. Depois fomos confrontar as suas contas com as do Sr. Ciríaco e verificámos que havia pequenas discrepâncias. Para desfazer as dúvidas e acertar tudo considerámos mais acertado trazer a documentação do João e confrontá-la com a do Sr. Ciríaco, através do Excel. Como à noite, também não tivemos luz eléctrica, tivemos de deixar este trabalho para o dia seguinte. Deste modo o programa traçado ontem: ida a Nacala falar com o Sr. Cirenaico sobre a legalização do carro e sobre as contas teve de ser adiada. Faremos as constas, primeiro na segunda-feira e só depois nos deslocaremos a Nacala e a Nampula, onde veremos também quanto dinheiro enviámos de Portugal e quanto temos ainda no banco.

Pagamento ao Lar da última prestação do Arlindo

 Ao irmos para a Plantação passámos pelo Lar do Arlindo para que o pai pagasse a última prestação do Lar. Apareceu à parta a directora do lar que recebeu a quantia que estava em falta (500.000Mts). De referir que esta quantia foi paga, em partes iguais por todos os nossos sócios que aqui se encontravam, no memento, isto é, Tabita, Adelino, Jorge e José Matias.

Novos Guardas e suas petições

 Combinámos com João relativamente ao número de guardas que ficariam ao nosso serviço. Segundo ele e nós, dois sob as suas ordens, chegariam para guardar a Plantação, este ano. Para o ano e quando os trabalhos começarem em grande necessitaremos de mais um ou dois.

Pediram-nos que lhes adiantássemos vales para comprarem uma bicicleta, cada um, para se deslocarem mais rapidamente. Pediram também que lhe oferecêssemos botas (nº 43, 40, 39) de borracha, capas e calças de chuva e 20.000 meticais para comerem. Demos-lhes 50.000 meticais e concedemos-lhe o adiantamento de vales para as bicicletas. Quanto às botas, capas e calças de chuva prometemos-lhes trazê-las de Portugal, quando regressássemos, na próxima vez, talvez em Dezembro.

11 Agosto 2003 – (2ª Feira) Nas Chocas-Mar

 Contas de Saua-Saua em dia

Contas de Saua-Saua

 Hoje pusemos as contas de Saua-Saua em dia. As contas não batiam certas. Faltava dinheiro para pagar os vencimentos e gastos extras do João.

Devemos-lhe cera de 10.552.500,00Mts. Tal montante resultou dos seguintes factos:
1.      Ele foi despedido da Firma JS em 11 de Abril por quem era pago, onde ganhava 920.000,00Mts;
2.      Tinha a nossa promessa feita em 20 de Agosto de 2003, de que lhe daríamos mais 500.000,00Mts indo auferir 1.420.000,00Mts.
3.      Donde seriam 500.000 vezes 11 meses (Setembro 2002 até Agosto 2003) que é igual a 5.500.000,00Mts;
4.      A este montante devem adicionar-se 920.000,00Mts vezes 4 (Vencimento que devia receber do JFS e não recebeu a partir de 11 de Abril 2002) que é igual a 3.680.000,00Mts;
5.      Chegamos, pois a um total de 9.180.000,00Mts.

6.      A este montante deve ser adicionado o montante referente às deslocações (320.000,00Mts e Comunicações telefónicas (1.052.500,00Mts) equivalentes a 177 minutos de chamadas em 44 recibos diferentes.

  1. Temos, portanto, os seguintes números:
                                        5.500.000,00Mts (Aumento acordado e nunca recebido)
                                       3.680.000,00Mts (Ordenado a partir de 11 de Abril-11 Agosto em vez de JFS)  
 1.052.500,00Mts (Chamadas telefónicas)
   320.000,00Mts (Deslocações)
                                           ______________________
10.552.500,00Mts = Total.

12 Agosto 2003 – (3ª Feira): Nas Chocas-Mar

 ão se fez nada de especial. Gozámos da praia e preparámo-nos para, no dia seguinte, partirmos para Nampula a fim de sermos recebidos pelo Delegado do CPI e pelo Director Provincial de Turismo.

CAPÍTULO OITO: NO CPI EM NA

13 Agosto 2003 – (4ª Feira) – Nampula

Reunião com o Advogado Dr. Ventura
Recepção do Director Provincial de Turismo

Recepção do Dr. Saulosse, Representante do CPI em Nampula[3]

 Depois de lhe termos exposto a nossa ideia, ele que o projecto era aliciante e deixou-nos cheios de esperanças. Pediu para lhe mandarmos um resumo para que ele o distribua aos diferentes responsáveis das secções ministeriais em que se inserem as necessidades que sentirmos mais urgentes, tais como: Direito de residência, electricidade, telefone, estradas, isenção de taxas aduaneiras e benefícios fiscais.

Pediu também para lhe mandarmos uma cópia do projecto de electricidade que temos já em nosso poder. Tudo isso poderá ser enviado para: Delegação Provincial de Turismo de Nampula, C.P. 473, Nampula, Moçambique, à atenção do Dr. Bonifácio Saulosse.

Garantiu-nos que reuniria com os responsáveis dos Telefones, electricidade, Alfândegas e direcção de estradas no sentido de que tudo seja facilitado à Mossáfrica. E acrescentou ainda que o Governo de Moçambique deseja, a todo o preço, desenvolver o Turismo e facilitar os investimentos vindos de fora.

 Falou também sobre a necessidade e utilidade de se montar uma Fábrica de calçado e de se fazer uma parceria com a Fábrica de cerâmica de Angôche.

Mostrou-se também muito sensível à importância que dissemos dar à protecção do meio ambiente, garantindo que tudo fará para que acabem na praia os dejectos humanos e outros.

Recepção do Arquitecto Marcelo Amaro, Director Provincial de Turismo

Fomos igualmente recebidos pelo Arquitecto Amara Marcelo, dorector provincial de Turismo, o qual nos forneceu

Os seus Contactos:

 Direcção Provincial do Turismo – Nampula, Avenida do Trabalho, nº4508-

Apontou-nos e as prioridades de Nampula.

Prioridades da Província de Nampula

 Para este o principal é o Turismo,
Aconselhou um Complexo Turístico de 5 estrelas para o que deverá incluir

As Componente a ter em vista:

 Piscina,
Heliporto,
Vestiários,
Posto médico.

E as Facilidades disponíveis

 Nacala: vai ter voos a partir de Agosto (LAM):
Nacala: Porto Franco, em breve.

E pediu:

 Que lhe façamos chegar um exemplar do Estudo de Viabilidade do Projecto Saua-Saua e prontificou-se a dar-nos todo o apoio no que diga respeito à parte de arquitectura.

14 Agosto 2003 – (5ª Feira): Nas Chocas

15 Agosto 2003 – (6ª Feira): Saua-Saua e Nacala

 Em Saua-Saua (Jorge e Matias)
Em Nacala (Tabita e Adelino)

Em Saua-Saua (Jorge e Matias)

                                            - Preparação da Cal,
                                           - Preparação das madeiras de portas e janelas da 5ª casa
                                           - Raspagem do arco e prepará-lo para ser caiado
                                           - Ordens ao João para
                                               . Limpar o espaço em volta da casa grande,
                                               . Plantar palmeiras ao longo da rua à esquerda antes e chegar ao arco
                                               . Velar pela limpeza da praia.
                                           - Conselho do João sobre trabalhadores a despedir e a guardar apenas:
                                               . O mestre pedreiro,
                                               . O Cabo que ajudará o pedreiro e regará,
                                               . Dois guardas

Em Nacala (Tabita e Adelino)

 A Tabita e Adelino foram a Nacala tratar dos assuntos do Banco e falar com o Sr. Ciríaco. Puseram as contas em dia com ele e ficou o nome dele a fazer parte da nossa conta, para puder movimentar mais facilmente o dinheiro que vier de Postural. Foram almoçar ao Hotel, convidando o Sr. Ciríaco.

Fizeram algumas compras e regressaram a Saua-Saua para nos ir buscar. Já a caminho das Chocas lembrámo-nos de que teríamos de dar ao João o diluente para a lavagem dos pincéis e dissemos aos “patrões” que os trabalhadores estiveram, até noite, à sua espera para receberem o vencimento de Julho!!. Ficámos admirados, porque pensávamos que já tinham sido pagos: Resolvemos, pois, juntar o dinheiro que ali tínhamos e demos ao João seis milhões de meticais para que pagasse aos trabalhadores. Este, no entanto, ficou sem o seu vencimento, até mais alguns dias.
 Na Baía Fernão Veloso
Foto de José Matias (08-08-2004)
Pontão da Baía Fernão Veloso
Pôr-do-sol na Baía Fernão Veloso
 
Foto de José Matias (08-08-2004)

16 Agosto 2003 – (Sábado): Visita ás Cabaceiras

·         Complexo turístico na Cabaceira Pequena
·         Restos da Civilização Portuguesa na Cabaceira Grande

Complexo turístico na Cabaceira Pequena

 Hoje fomos às Cabaceiras. Não pudemos visitar toda a Cabaceira Pequena porque havia zonas do mangal que não ofereciam segurança na passagem do Carro. Ficámos, no entanto, admirados quando, a poucos quilómetros das Chocas, encontrámos um portão a vedar a passagem e a delimitar uma propriedade semi-particular. E, em toda a zona costeira, até bons quilómetros após a Carrusca, havia umas 9 Varandas, isto é 9 cabanas para repouso com uma mesa ao centro e um pequeno terreiro próprio para a montagem de uma ou duas tendas. Viemos a saber, por meio do guia de um pequeno grupo, que se destinavam ao aluguer de quem quer que estivesse interessado.

Quanto ao modo do aproveitamento duma zona que se supunha pública, disse-nos o guia que é o fruto de um convénio entre um particular holandês, a Comunidade e a autoridade política do Lugar.

Restos da Civilização Portuguesa na Cabaceira Grande

 Voltámos a trás e, prosseguindo o nosso trajecto, fomos dar à Cabaceira Grande, onde pudemos admirar, em estado de reabilitação, a grandeza de uma Missão Católica, com Igreja, Escola, Creche e um grande terreno de cultivo, o Palácio de Verão do Governador da Ilha de Moçambique, construído em 1765, quase em ruínas e um grande complexo que foi, em tempos, o Instituto para Meninas

Diz-se que por ali existem ainda hoje, os poços que abasteceram os nossos marinheiros portugueses quando aportaram à Ilha e durante os primeiros tempos que ali viveram. Dali segue uma estrada que vai dar ao Mossuril, ladeada até certo ponto por salinas em estado muito precário. Tivemos que voltar atrás, porque, a determinado momento, apareceu-nos, à frente uma queimada que obstruía a picada.

À tardinha fomos até à propriedade do Eng Carlos Vasconcelos, um ex-colega do Jorge nos tempos da universidade de Vila Real. Moçambicano e, que poderia ter sido chamado Romeu, estava casado com a bela artista Julieta, de Trás-os-Montes. Ele trabalha em Nampula no sector algodoeiro e adquiriram uma porção de terreno com uma bela praia em frente. Convidaram-nos a presenciar o pôr-do-sol naquele pequeno paraíso, ao que nós acedemos. Tanto as cabanas que eles engendraram para viver enquanto não se fizer a casa, como as cadeiras e meio ambiente, apresentam verdadeiramente um cariz idílico.

Pôr-do-sol nas Chocas (Cabana dos Vasconcelos)
Foto de José Matias (04-08-2004)
Convidados a juntar-se a nós para o jantar, vieram ter connosco, às Chocas-Mar. Ali se passaram umas belíssimas horas em conversa amena à volta de uma mesa recheada de camarão, caranguejos e amêijoas. Esperávamos também pelo Dr. Raul Ventura, esposa e filhos, como nos tinham prometido, mas, certamente, devido a qualquer contratempo, não apareceram.

Outro aspecto do Pôr-do-sol
Foto de José Matias (04-08-2004)

17 Agosto 2003 – (Domingo): Saua-Saua E Chocas

 ·         Visita a Saua-Saua
·         Desfrute da praia das Chocas-Mar
·         Conversa com o Sr. Victor Cochefeld, mestre-de-obras
·         Evitar avanço de vales
·        Aquisição de terrenos

Visita a Saua-Saua

 Depois de um serão, que foi bem acompanhado e regado, passámos uma noite agradável e não demos oportunidade ao despertador para funcionar na manhã seguinte. Assim, uns dormiram até às sete e outros até muito mais tarde. Não posso precisar, por exemplo, até que hora dormiu o “patrão” Adelino, pois o Jorge e eu saímos à procura de óleo queimado para tratarmos as colunas e barrotes exteriores da Casa nº 5. Encontrámos apenas dois litros que pagámos a 30.000 meticais o litro, apesar de debatermos o preço. Assim, depois de o termos comprado com o auxílio do Sr. Ernesto Sousa fomos levá-lo ao João para que este o desse aos trabalhadores para o efeito pretendido.

Apreciámos o trabalho que já tinha sido desenvolvido. As janelas da casa nº 5 já foram tratadas e foram raspadas e tratadas algumas da Casa Grande. Hoje, andavam lá apenas dois trabalhadores: o segundo mestre pedreiro e o trolha. Estavam a caiar a casa nº 5. Indicámos ao João o trabalho que deveria ser feito, inclusive, caiar os troncos dos cajueiros e mangueiras à altura de um metro, sensivelmente para os proteger contra a lagarta e as formigas. Ao regressarmos a casa, no caminho, comprámos tomate, para a salada do almoço e jantar.

O Jorge saiu, de novo, com destino à plantação do Eng. Vasconcelos e de sua esposa Da Julieta e eu fiquei em casa a escrever: aperfeiçoamento do resumo do projecto “Saua-Saua” para ser entregue ao Dr. Bonifácio Saulosse, Representante do CPI em Nampula, no dia 20 do corrente mês e na elaboração deste texto.
 Da Julieta Vasconcelos e sua filha
Foto de José Matias (02-08-2004)

Desfrute da praia das Chocas-Mar

Aqui ficaram o Adelino, ainda a dormir e a Tabita, já levantada e preparada para ir à pesca. Mas, como começou por se queixar das dores de cabeça, teve que recorrer às massagens do Jorge e adiou a pescaria para outra altura. Seja como for, o Jorge e eu fomos a Saua-Saua enquanto a Tabita e o Adelino ficaram na casa das Chocas. A primeira com dores de cabeça e o segundo, supostamente, a dormir!
Quando nós regressámos de Saua-Saua, eles, os dois, tinham ido para a praia a fim de gozarem do sol que se espelhava preguiçosamente sobre as ondas. Pelos vistos, o Adelino já tinha dormido tudo e a Tabita, já não tinha mais dores de cabeça! São dois companheiros exemplares! Não perdem nenhuma oportunidade que se lhes apresente! E o jogo das cartas e o de voar são também seus divertimentos de grande interesse!
O almoço está quase pronto e nós com apetite! Tomate farci (recheado com camarão), lagosta, batata cozida, pão e cerveja. Terminado o Almoço fomos tomar café, como de costume, ao complexo turístico do Sr. Hélder. O que acontecerá depois disto, ver-se-á, de seguida.

O Sr. Victor Cochefeld e a maneira de contratar mão-de-obra

Ao regressarmos do café desse complexo turístico cujos coqueiros estão todos com malina[4]), demos com o Sr. Victor Cochefeld, mestre-de-obras do construtor Nasser e que está a dirigir a recuperação da casa que fica à entrada da povoação, do lado esquerdo e que virá a ser o centro do Fundo do Turismo.
Conversámos com ele sobre vários assuntos, entre os quais os vencimentos. Estes vão de 1.250.000 para um pedreiro ou carpinteiro de primeira, 675.000 meticais para um trabalhador normal e 300 a 350 para um servente. Acrescenta, porém que o que aqui se pratica, ao começar uma obra, é pôr um anúncio dizendo que se precisam trabalhadores e combinar com eles o ordenado a receberem. Diz também que é preferível combinar com eles à tarefa e marcar o tempo. Há também o costume de, além do vencimento, dar de comer, mas o melhor será dar um vencimento superior, sem dar a alimentação.

Evitar avanços de vales

Alertou-nos, também, para o facto de os preços que se praticam aqui, dependerem muito da cara do proprietário. Se os trabalhadores virem que o proprietário é branco, vindo de fora, eles inflaciona os ordenados É preciso discutir, assim sucede também com a alimentação e qualquer outro artigo de consumo. E, quanto ao uso de vales, aconselhou a nunca utilizarmos esse sistema porque só nos trazem problemas. É preferível ter sacos de farinha para distribuir e descontar no ordenado do que dar-lhe dinheiro por meio de vales.

Falou igualmente da má experiência por que passou nos anos durante e após a Independência de Moçambique. Ele que é angolano, veio para Moçambique para trabalhar na Barragem de Cahora Bassa, tendo atravessado a África do Sul e outros países africanos. O que passou aqui durante esse período é para esquecer, mas não consegue alcançá-lo. A destruição de edifícios e do que pertencia aos brancos cortavam-lhe o coração. Mas foi assim: as casas, carros e outros bens dos brancos, ou eram ocupados pura e simplesmente, ou eram destruídos sem piedade. Tem fotografias de frases escritas nos muros que diziam textualmente: “filhos de puta dos portugueses”. Mas devemos dar um desconto, porque nem todos teriam dito o mesmo.

Aquisição de terrenos

Vindo à baila a possibilidade de comprar terrenos para construção, disse-nos que, na vila já não existem e que tem havido guerrilhas para comprar os últimos pedaços. Existem ainda algumas casas em mau estado, mas estão dentro da povoação.

Sobre a estrada para o Mossuril e Chocas-Mar, soubemos que está prevista para breve a sua recuperação. Até ao fim do ano deverá ser alvo de melhoramentos e, ao que parece, será pavimentada.

Ao chegarmos a casa, apareceram a mulher do Raimundo e a do Abdalah com mociro na cara e com a massa preparada para a aplicarem na cara da Tabita. A operação foi de curta duração! Amanhã terá a cara mais macia e tenra do que as bochechas de um bebé. Nesta terra é tudo exótico e tudo tem sabor a idílico!

CAPÍTULO NOVE: DECISÕS DO GRUPO PARA O FUTURO

18 Agosto 2003 (2ª Feira): Nas Chocas-Mar

 ·         Decisões tomadas pelo grupo e sócios
·         Funções de cada Empregado
·         Vencimentos para Set. 2003-2004
·         Dívidas ao João
·         Decisões tomadas pelo grupo

Decisões tomadas pelo grupo


Em reunião que demorou toda parte do dia após o almoço até à meia-noite, reunimo-nos os quatro colegas para analisar e decidir sobre os vencimentos a serem pagos aos trabalhadores que ficariam na plantação, a partir do mês de Setembro e sobre as funções de cada um, na nossa ausência. A Tabita e o Adelino foram ainda falar com o Presidente da Localidade de modo a saberem qual a prática sobre os vencimentos a pagar aos trabalhadores. Este disse-lhes que tudo dependia do acordo que fosse feito ou celebrado entre o patrão e os trabalhadores. Assim sendo, ficou determinado o que se segue, sendo dado uma cópia, escrita à mão, ao João para que ele a conhecesse e desse a conhecer aos trabalhadores que ficariam a seu cargo.

João Amassi                – Encarregado geral da Plantação
Caria Jamal      – Pedreiro
Amad Silali (Cabo)      – Servente de pedreiro e jardineiro
chicota Muleia  – Guarda
Abdul Salimo               – Guarda
Salimo Buana               – Preparador do Macute

Aqui ficaram o Adelino, ainda a dormir e a Tabita, já levantada e preparada para ir à pesca. Mas, como começou por se queixar das dores de cabeça, teve que recorrer às massagens do Jorge e adiou a pescaria para outra altura. Seja como for, o Jorge e eu fomos a Saua-Saua enquanto a Tabita e o Adelino ficaram na casa das Chocas. A primeira com dores de cabeça e o segundo, a dormir, supostamente!
Quando nós regressámos de Saua-Saua, eles, os dois, tinham ido para a praia a fim de gozarem do sol que se espelhava preguiçosamente sobre as ondas. Pelos vistos, o Adelino já tinha dormido tudo e a Tabita, já não tinha mais dores de cabeça! São dois companheiros exemplares! Não perdem nenhuma oportunidade que se lhes apresente! E o jogo das cartas e o de pilotar aviões são também alguns dos seus divertimentos de interesse!
O almoço está quase pronto e nós com apetite! Tomate farci (recheado com camarão), lagosta, batata cozida, pão e cerveja. Terminado o Almoço fomos tomar café, como de costume, ao complexo turístico do Sr. Hélder. O que acontecerá depois disto, ver-se-á, de seguida.

O Sr. Victor Cochefeld e a maneira de contratar mão-de-obra

Ao regressarmos do café desse complexo turístico cujos coqueiros estão todos com malina[5]), demos com o Sr. Victor Cochefeld, mestre-de-obras do construtor Nasser e que está a dirigir a recuperação da casa que fica à entrada da povoação, do lado esquerdo e que virá a ser o centro do Fundo do Turismo.
Conversámos com ele sobre vários assuntos, entre os quais os vencimentos. Estes vão de 1.250.000 para um pedreiro ou carpinteiro de primeira, 675.000 meticais para um trabalhador normal e 300 a 350 para um servente. Acrescenta, porém que o que aqui se pratica, ao começar uma obra, é pôr um anúncio dizendo que se precisam trabalhadores e combinar com eles o ordenado a receberem. Diz também que é preferível combinar com eles à tarefa e marcar o tempo. Há também o costume de, além do vencimento, dar de comer, mas o melhor será dar um vencimento superior, sem dar a alimentação.

Evitar avanços de vales

Alertou-nos, também, para o facto de os preços que se praticam aqui, dependerem muito da cara do proprietário. Se os trabalhadores virem que o proprietário é branco, vindo de fora, eles inflaciona os ordenados É preciso discutir, assim sucede também com a alimentação e qualquer outro artigo de consumo. E quanto ao uso de vales aconselhou a nunca utilizarmos esse sistema porque só nos trazem problemas. É preferível ter sacos de farinha para distribuir e descontar no ordenado do que dar-lhe dinheiro por meio de vales.

Falou igualmente da má experiência por que passou nos anos durante e após a Independência de Moçambique. Ele que é angolano, veio para Moçambique para trabalhar na Barragem de Cahora Bassa, tendo atravessado a África do Sul e outros países africanos. O que se passou aqui, durante esse período, é para esquecer, embora  não consiga. A destruição de edifícios e de tudo o que pertencia aos brancos cortavam-lhe o coração. Mas foi assim: as casas, carros e outros bens dos brancos, ou eram ocupados pura e simplesmente, ou eram destruídos sem piedade. Tem fotografias de frases escritas nos muros que diziam textualmente: “filhos de puta dos portugueses”. Mas devemos dar um desconto, porque nem todos teriam dito o mesmo.

Aquisição de terrenos

 indo à baila a possibilidade de comprar terrenos para construção, disse-nos que, na vila já não existem e que tem havido guerrilhas para comprar os últimos pedaços. Existem ainda algumas casas em mau estado, mas estão dentro da povoação.

Sobre a estrada para o Mossuril e Chocas-Mar, soubemos que está prevista para breve a sua recuperação. Até ao fim do ano deverá ser alvo de melhoramentos e, ao que parece, será pavimentada.
Ao chegarmos a casa, apareceram a mulher do Raimundo e a do Abdalah com muciro na cara e com a massa preparada para a aplicarem na cara da Tabita. A operação foi de curta duração! Amanhã terá a cara mais macia e tenra do que as bochechas de um bebé. Nesta terra é tudo exótico e tudo tem sabor a idílico!

18 Agosto 2003 (2ª Feira): Nas Chocas-Mar


·         Decisões tomadas pelo grupo e sócios
·         Funções de cada Empregado
·         Vencimentos para Set. 2003-2004
·         Dívidas ao João
·         Decisões tomadas pelo grupo

Decisões tomadas pelo grupo

Em reunião que demorou toda parte do dia após o almoço até à meia-noite, reunimo-nos os quatro colegas para analisar e decidir sobre os vencimentos a serem pagos aos trabalhadores que ficariam na plantação, a partir do mês de Setembro e sobre as funções de cada um, na nossa ausência. A Tabita e o Adelino foram ainda falar com o Presidente da Localidade de modo a saberem qual a prática sobre os vencimentos a pagar aos trabalhadores. Este disse-lhes que tudo dependia do acordo que fosse feito ou celebrado entre o patrão e os trabalhadores. Assim sendo, ficou determinado o que se segue, sendo dado uma cópia, escrita à mão, ao João para que ele a conhecesse e desse a conhecer aos trabalhadores que ficariam a seu cargo:

João Amassi    ………. Encarregado geral da Plantação
Caria Jamal  ………. Pedreiro
Amad Silali (Cabo) …. Servente de pedreiro e jardineiro
chicota Muleia ……….Guarda
Abdul Salimo   ………. Guarda
Salimo Buana   ………. Preparador do Macute

Funções de cada empregado


1.                                            Encarregado geral (João)
O Encarregado geral é o responsável máximo pela plantação na ausência dos patrões e tem que:
·                                                                     Garantir a manutenção e a conservação do que está já feito (caiar, limpar, etc.),
·                                                                     Limpar as áreas e locais que os patrões indicaram,
·                                                                     Caiar os troncos das árvores, muros e muretes,
·                                                                     Garantir a permanência dos guardas,
·                                                                     Definir espaços para banhos, assegurando a limpeza e higiene da praia,
·                                                                     Organizar e acompanhar as queimadas,
·                                                                     Organizar a recolha de materiais para o armazém (madeiras, ferramentas; e outros materiais para o futuro museu),
·                                                                     Contactar com as autoridades locais, se a segurança da plantação estiver ameaçada,
·                                                                     Organizar a rega,
·                                                                     Recolher as palmeiras pequenas e plantá-las nos locais já definidos (1,5m do muro e 2m de intervalo),
·                                                                     Organizar e colaborar na limpeza das casas da plantação e assegurar-se da sua não ocupação.
2.      Guardas:

Os guardas têm como função:

Patrulhar a plantação, garantindo a sua segurança e manutenção, comunicando de imediato qualquer ocorrência ao Chefe da segurança,
Vigiar e assegurar a limpeza da praia,
Outras actividades definidas pelo João;
3.      Pedreiro:
O pedreiro tem como função:
                                           1- Reconstruir muros da casa grande,
                                           2- Reconstruir os muretes do jardim e do mini golfe,
                                           3- Reconstruir arruamentos desde o arco até à casa grande,
                                           4- Outras actividades definidas pelo João;

4.      Servente de Pedreiro:

O ajudante de pedreiro tem por função:

                                           1- Acompanhar o pedreiro,
                                           2- Regar o jardim e outras plantas,
                                           3- Outras actividades definidas pelo João.

Vencimentos para Setembro 2003-2004:

 Sobre os vencimentos travou-se séria discussão. Uns queriam pagar o vencimento mínimo estabelecido por lei, outros queriam seguir os usos e costumes adoptados em quase todas as empresas, como nos tinham dito várias pessoas e mestres-de-obras com quem contactámos. O tira-teimas foi o Presidente da Edilidade das Chocas-Mar que disse ao Adelino e à Tabita que cada patrão seguia o sistema seguinte: estabelecer com os assalariados um vencimento que contentasse ambas as partes.

A partir desta conversa, decidimos e estabelecemos aumentar os vencimentos que tinham sido acordados entre nós e todos os trabalhadores, no dia 20 de Agosto de 2002, em reunião geral, na sala da casa grande e com a presença do Encarregado geral. Deste modo ficou assim fixada a seguinte tabela de vencimentos mensais:


TABELA DE VENCIMENTOS POR MÊS

NOME

FUNÇÃO

SALÁRIO 2002-03

SALÁRIO 2003-04

João Amassi
Encarreg. Geral
1.420.000,00Mts
1.500.000,00MTS
Caria Jamal
Pedreiro
33.334,00Mts/dia
35.000,00Mts/dia
Amade Silali
Servente
17.500,00Mts/d
18.000,00Mts/dia
Chicova Mualeia
Guarda 1
17.500,00Mts/d
20.000,00Mts/dia
Abdul Salimo
Guarda 2
17.500,00Mts/d
20.000,00Mts/dia
Salimo Buana
Macute
17.500,00Mts/d
18.000,00Mts/dia
Chico Buanauassi[6]
Limpeza
17.000,00Mts
18.000,00Mts/dia

NB. :
  • Até ao dia 30 de cada mês os patrões enviam o dinheiro
  • Até ao dia 5 do mês seguinte o Sr. Ciríaco prepara o dinheiro para entregar ao João,
  • No primeiro dia útil a seguir ao dia 5 de cada mês o João vai levantar o dinheiro junto do Sr. Ciríaco para serem pagos os vencimentos aos trabalhadores da plantação, devendo o João reembolsar o valor referente à sua deslocação e ao seu almoço do dia em que for buscar o dinheiro.
  • O pedreiro e servente trabalham seis dias por semana; os guardas trabalham todos os dias ou noites,

Esta tabela e as funções que foram atribuídas a cada trabalhador serão dadas a conhecer ao Encarregado-Geral, João Amisse, amanhã, dia 19 de Agosto, devendo a folha que lhe for entregue ser assinada por ele, pelo Presidente da Mossáfrica e pela Proprietária da Plantação de Saua-Saua, para que conste no futuro perante quem quer que seja e tenha responsabilidade civil ou outra afim.

Dívidas ao João

Tendo acertado as contas com o João, verificámos que com o aumento de 580.000,00Meticais que lhe tínhamos prometido para perfazer o montante mensal de 1.500.000,00Mts, e com a quantia referente ao período de 11 de Abril ao fim de Agosto 2003 aos quais seriam adicionados os gastos de telefonemas e deslocações ascendia a dívida a 11.612.500 meticais, na data de 19 de Agosto de 2003.
Demos-lhe anteriormente 2.540.000 meticais aos quais foram adicionados, hoje, 2.000.000 do bolso do Zé Matias e 500.000 do bolso do Jorge, num total de 5.040.000 meticais que subtraídos da dívida de 11.612.500 dão 6.572.500, 00 (seis milhões quinhentos e setenta e dois mil e quinhentos meticais).

Estimativa geral dos custos para Setembro 2003 – Setembro2004

 Feitas as contas teremos:

João Amissi                                         = 1.600.000Mts
Caria (35.000 x 22 dias)     =    737.000Mts
Amadi (18.000 x 22 dias)    =    396.000Mts
Chico (18.000 x 22 dias)     =    396.000Mts
Chicova (20.000 x 31)        =    620.000Mts
Abdul (20.000 x 31                 =    620.000Mts
___________________________________________________
Total                                                                                    = 4.369.000Mts = 168 euros

Compromisso do Jorge em participar nas despesas


O Jorge Rodrigues, embora ainda não sócio, comprometeu-se a entrar no custeamento das despesas, vindo, assim, juntar-se ao Adelino e Carmo que pagavam entre os dois 100 Euros, Emídio e Clementina que pagavam entre os dois a mesma quantia de 100 euros e a Tabita e o Zé Matias que pagavam entre os dois 200 euros, num total de 400 euros a que eram acrescida a taxa que foi uma vez paga pelo Emídio e todas as outras vezes pelo Adelino e Tabita.

Como as despesas foram reduzidas drasticamente, este ano, as despesas serão divididas por 7, ficando decidido que cada um pagasse 35 euros por mês, de modo a que ficássemos sempre com um fundo de maneio para as necessidades mais urgentes que possam vir a surgir. Assim, viria para o Banco de Investimento de Moçambique a quantia cambiada que resultasse desses sete empréstimos à Mossáfrica, depois de incluída a taxa de conversão e transferência.

19 Agosto 2003 – (3ª Feira) Chocas E Saua-Saua

·         Chocas-Mar
·         Saua-Saua
·         Reunião com o João Amisse

Chocas-Mar

Logo pela manhã, a Tabita levantou-se, mais cedo e transcreveu, na íntegra, a carta de despedimento que a SODAN (Sociedade de Desenvolvimento Algodoeira do Namialo, S.A.R.L. enviou ao João, datada de 25 de Fevereiro de 2003 (N/REFª. -47/DRH/SODAN/2003, e com entrada em vigor “a partir de 11 de Abril de 2003 (…)”, pela qual se dizia que “deixará de fazer parte do quadro do pessoal da Companhia Agrícola João Ferreira dos Santos, SARL (…) em virtude de a Plantação de Saua-Saua ter outra proprietária que não está interessada nos seus serviços (…)”. Para que conste e se admire o teor desta carta, da qual não tinha conhecimento a proprietária, nem a Mossáfrica que tinha pessoal a trabalhar na reabilitação de duas casas, debaixo das ordens do João, transcrevemo-la, aqui, ipsis verbis.

Carta de Despedimento

Feita esta transcrição que nós aproveitámos, tomámos o pequeno-almoço, após o qual a Tabita e o Adelino foram para a praia. Daí a pouco regressam alvoroçados, pois a Tabita tinha apanhado um peixe-pedra com a sua cana de pesca. Mas o peixe tinha sido tão lampeiro que engoliu, tanto o anzol, como o chumbo. Vieram pedir ajuda ao Raimundo para sacar, cá para fora, os ditos cujos e voltaram à pesca. Eu permaneci a escrever até agora, onze horas e vinte e seis minutos. A minha tarefa, durante todas estas férias, foi, primordialmente, a de procurar ajudar o meu irmão António no levantamento dos edifícios da Plantação e, secundariamente, a de fazer a crónica de quanto, ali, se fez durante essas férias que não me deixaram boas recordações! Vi e observei coisas que me desagradaram e me marcaram profundamente!

Saua-Saua – Reunião com o João Amisse

À tarde fomos falar com o João, à Plantação, com o qual acertámos todas as contas como ficam explicitadas atrás.
Ao chegarmos encontrámos um envelope com a lista dos trabalhadores que pretendia contratar, seis ao todo, um a mais do que aqueles que tinha proposto e aceitámos, na reunião. Este seria para a limpeza e a ser contratado lá mais para a frente. Ficámos admirados com esta lisa, mas, de facto, uns dias antes ele tinha-nos dito (ao Jorge e a mim) que, “por vezes, necessitaria de contratar mais um homem para a limpeza, mas por curtos espaços de tempo”.

20 Agosto 2003 (4ª Feira): Partida das Chocas para Nampula

·         Pedido de Telefone para a Plantação
·         Pedido de Arma para os Guardas da Plantação
·         Entrega de documentação ao Delegado do CPI em Nampula
·         Entrega gorada de documentação ao Director Provincial de Turismo

Pedido de Telefone para a Plantação

Ao deixarmos as Chocas e como já estávamos atrasados, não passámos pela Plantação. É que tínhamos de falar com o Dr. Bonifácio Saulosse, Delegado do CPI em Nampula e com o Arquitecto Marcelo Amaro, Director Provincial de Turismo.
Ao chegarmos ao Mossuril, lembrámo-nos de perguntar ao oficial dos telefones se era possível pedir o Telefone para a Plantação. Como a resposta foi afirmativa, a Tabita fez logo ali o requerimento cujo teor aqui fica para memória:

Área de Nacala – Agência das TDB – Mossuril
Assunto: Pedido de ligação de Telefone.
Havendo necessidade de ligar o telefone na Plantação de Saua-Saua, vimos mui respeitosamente rogar a V. Ex.ª se digne autorizar a sua instalação no referido lugar.
Sem mais, endereço as minhas cordiais saudações.

Mossuril, 20 de Agosto de 2003”
 (Assinado por: Maria Tabita Ferreira dos Santos Rebelo de Almeida).

Pedido de Arma para os Guardas da Plantação

Como nos Telefones estava um Guarda, perguntámos-lhe se era possível pedir uma arma para os nossos guardas. Perante a resposta afirmativa ele aconselhou-nos a dirigirmo-nos, pessoalmente, ao Posto da Polícia e falar, não com o Comandante (Amade Aissa) que se encontrava ausente (por ser dia de visitas e de preparação das eleições autárquicas), mas com o seu substituto. Metemo-lo no carro e ele dirigiu-nos até ao Posto.

Aqui chegados, conduziu-nos para dentro de um lugar que, em tempos idos, tinha sido um edifício habitável, mas, hoje em ruínas: tectos esburacados, janelas sem vidros. Existia ainda, no entanto, uma ou duas dependências que tinham sido minimamente arranjadas para dar guarida aos efectivos da Polícia da República de Moçambique que, para ali, tinham sido destacados.

Depois das acostumadas apresentações, o substituto ditou-nos a seguinte minuta:

Eu, Maria Tabita Ferreira dos Santos Rebelo de Almeida, portadora do Passaporte, nº G328784, emitido no dia 14/03/2002 pelo Arquivo Civil da Lisboa, Portugal, filha de Raul Rebelo de Almeida e de Maria Tabita Domingues Ferreira dos Santos, natural de Maputo, residente na Casa Grande – JFS – Nampula, telefone .................,

Vem mui respeitosamente requerer a V. Ex.ª de digne autorizar uma afectação permanente de uma arma do tipo AK-47 destinada à guarnição da Plantação de JFS, situada no distrito do Mossuril, na área de Saua-Saua.
Pelo que
Pede deferimento
Mossuril, 20 de Agosto 2003”

Entrega de documentação ao Delegado do CPI em Nampula


Depois de termos resolvido, no Mossuril, esses assuntos pendentes, partimos para Nampula. No caminho, porém procurámos telefonar ao Dr. Bonifácio Saulosse para o advertir do nosso atraso. Conseguimos contactá-lo, mas não nos poderia receber porque estava a acompanhar uma comitiva importante, ligada às eleições autárquicas. Pediu-nos para deixar a documentação no seu Gabinete.
Dirigimo-nos, então, ao CPI de Nampula para ali deixar a dita documentação que consistia num Resumo do projecto, nele constando tudo o que julgámos necessário, assim como a Fotocópia dos Estatutos da Mossáfrica que deveriam juntar-se ao Estudo de Viabilidade que recebera directamente do Dr. Rafique.

Entrega gorada de documentação ao Director Provincial de Turismo

Logo a seguir e sem perder tempo dirigimo-nos à Direcção Provincial de Turismo na expectativa de falar com o seu Director, Arq. Marcelo Amaro, pois por meio do telefone ou telemóvel não nos foi possível contactá-lo. Ao chegarmos, demos com os funcionários a fechar a barraca, dizendo-nos que estava o ponteiro sobre as 15,30, que era a hora de largar o serviço. Terão de voltar cá amanhã. Além disso o Sr. Director só estaria no serviço no dia seguinte.

Jantar no Sporting Clube de Nampula

À noite fomos jantar ao Sporting Clube de Nampula, estando a decorrer o desafio de futebol dos 17 anos, entre Portugal e Camarões. Depois de chegar a estar a ganhar por 5 a 0, Portugal deixou-se empatar, ficando, no entanto, apurado para discutir com a Espanha a eliminatória seguinte.
O restaurante é razoável e a comida também, mas os preços são, praticamente, os mesmos que se praticam em Portugal. Eu mandei vir um Bife com cogumelos, mas só comi metade dele porque estava demasiado rijo para os meus dentes e, olhem que ainda não tenho nenhum “postiço”!
Ao regressarmos a casa, o Adelino e eu ficámos no salão nobre da Casa Grande a ver o desafio de futebol sénior entre Portugal e o Kazaquistão, que veio a terminar com a vitorio de Portugal com um único golo, marcado pelo benfiquista, Simão Sabrosa. O Jorge Rodrigues foi despedir-se da família Vasconcelos, e solicitar-lhe a amabilidade de levarem um saco de cal para a Plantação, no próximo fim-de-semana.

21 Agosto 2003 – (5ª Feira): Em Nampula


·         Partida para o Aeroporto
·         Entrega do Carro na Técnica Industrial
·         Partida para Portugal de três elementos,
·         Entrega da Documentação ao Director de Turismo
·         Preparação do Documento a ser entregue ao Sr. Ciríaco,
·         Jantar com a família Vasconcelos

Partida para o Aeroporto

Após o pequeno-almoço, servido na Casa Grande, esperámos pelo Sr. Figueiredo para lhe entregarmos a lista do material em pau-preto, conchas e corais para ele ir tirar uma certificação e pagar os devidos direitos alfandegários. Já estávamos impacientes por se ter atrasado (pois nós teríamos de ir ao Aeroporto deixar a bagagem e regressar à Técnica Industrial para ali entregarmos o nosso carro e voltar, de novo, para o aeroporto para tomarmos o avião para Maputo), mas estes atrasos são proverbiais em Moçambique!
Logo que ele chegou foi-lhe entregue a lista e partiu imediatamente fazer o seu serviço, continuando nós à espera que regressasse. Logo que regressou, carregámos a bagagem no nosso carro e fomos para o aeroporto.
Ali chegados esperámos pelo Sr. Figueiredo. A determinada altura, como víssemos que o relógio não parava de andar e que o Sr. Figueiredo não conseguia chegar, o Jorge foi buscar o carro, estacionando-o em frente às portas do aeroporto. Mal abriu a porta da bagageira para tirarmos as malas, apareceu um polícia com a disposição inabalável de o multar em um milhão de meticais, dizendo que desligara o carro e, nestas condições supunha-se que ele estacionara o carro, o que era proibido!
Foi uma carga de trabalhos para convencê-lo de que o sinal que ali estava proibia o estacionamento e não a paragem para descargas. Mas o polícia continuava a dizer que “se desligou o carro significa que estacionou”..... Ao cabo de muita conversa e ajudados pela Julieta, o polícia lá cedeu e deixou o Jorge em paz, mas não sem o olhar de esguelha e à espera de algo que saísse do bolso ou da carteira!

Entrega do Carro na Técnica Industrial e encrencas com as malas

Enquanto o Adelino fazia o check in, ajudado pelo Sr. Figueiredo, o Jorge, a Julieta, a Tabita e eu, fomos deixar a minha mala ao apartamento JFS e o carro à Técnica Industrial. Tendo falado com o Sr. Raposo, ali, fizemos fotocópias da documentação da viatura e trocámos de carro, emprestado pela Firma para nos ir levar, de novo, ao aeroporto.

Entretanto, a Tabita recebe um telefonema do Adelino dizendo que havia excesso de bagagem, surgindo, portanto, um novo problema, à primeira vista insolúvel.

Regressados ao aeroporto mandámos pesar de novo a mala do Adelino que era o peso que estava a mais no conjunto da bagagem dos três “típicos” viajantes de avião que ainda não sabem distinguir malas de barco ou comboio de malas de avião! A mala, só ela, pesava 33 quilos pelos quais teriam de pagar 3 milhões de meticais se quisessem levá-la juntamente com a outra bagagem que era constituída por malões, saquitos e saquitos (!), ou, como se diz usualmente, “pequenos volumes” de “quase grande porte”!
Felizmente que a Julieta estava ali, e o seu filho partia, no dia seguinte, para Portugal com pouca bagagem. A esta ventura juntava-me eu, o José Matias que, por minha infelicidade ainda tinha de pernoitar duas noites mais em Nampula, à espera do meu voo de regresso a Lisboa! Malfadada sorte a minha! Tinha vindo com o meu irmão, antes dos outros todos, e teria de regressar, sozinho, depois deles todos! Não quis comprar nada para voltar mais leve e tenho de carregar com a tralha, amontoada “sem peso nem medida” por queles meninos que, se pudessem, levavam Moçambique inteiro para o pôr em prateleiras decorativas!
A matutar como levar as malas deixadas pelos outros companheiros, já de viagem, a Julieta transmite-me a ideia brilhante que tivera: repartir o peso pelo seu filho e por mim. Se assim ela o pensou, melhor o fizemos os dois! Levámos connosco a mala do Adelino e o embrulho dos fatos do Jorge indo deixá-los em casa da Julieta com a intenção de, à noite, o seu marido, Vasco, vir buscar a minha mala para dividirmos o peso entre as malas do seu filho, a minha e a do Adelino. Espero bem que o peso referente aos quatro passageiros não exceda o que é permitido só a dois que é o presente caso: bagagem do Jorge Rodrigues, Adelino, Jorge Vasconcelos e José Matias a ser repartida apenas por estes dois últimos.

Partida para Portugal de três elementos

À hora do embarque estava próxima e o condutor da Técnica Industrial à nossa espera para nos levar (à Julieta e a mim) juntamente com a mala do Adelino. Despedimo-nos, o que me custou bastante e deixámos no aeroporto a Tabita, o Adelino e o Jorge.

Entrega da Documentação ao Director de Turismo

 Logo que cheguei ao meu apartamento, peguei da documentação que tínhamos preparado para o Sr. Arquitecto Amaro, Director Provincial de Turismo, e fui entregar-lha, não fosse ele sair e deixar-me, mais uma vez, pendurado. É que amanhã é feriado, o dia da Cidade de Nampula e no dia seguinte é sábado, estando fechadas todas as Repartições públicas.
Ao chegar, o Sr. Director recebeu-me amavelmente e desculpou-se de não ter podido receber-nos no dia anterior por estar integrado numa comitiva partidária em pré campanha eleitoral para as autárquicas. Recebeu a documentação (Resumo do Projecto Saua-Saua e Estudo de Viabilidade desse mesmo projecto. Ofereceu-nos, como havia prometido, um CD com documentação muito útil da Província de Nampula.

Preparação do Documento a ser entregue ao Sr. Ciríaco sobre os trabalhadores de Saua-Saua

Uma vez chegado ao apartamento, preparei o documento para o Sr. Ciríaco, fui imprimi-lo e entregar uma cópia ao Sr. Amarchande que se predispôs a ser-me útil sempre que necessário, durante a minha estadia em Nampula e mesmo em Portugal. Para contactá-lo deu-me três números de telefone: o celular, o de casa e o do escritório.
Quando vinha do Sporting Clube de Nampula onde fui almoçar, recebi um telefonema da Tabita a dizer-me que tinham chegado bem a Maputo

Jantar com a família Vasconcelos

 À noite, o casal Vasconcelos veio ter comigo ao apartamento. Levámos a minha mala para sua casa e ali fizemos a divisão da bagagem.

Que isto sirva de lição, meus caros companheiros de viagem e que não se repita a ousadia! As malas de avião são diferentes das malas de barco ou de comboio, tanto quanto às medidas, como quanto ao peso! Ter malas grandes é uma tentação para comprar e atafulhar e estas acções provocam o aumento do peso sem darmos por isso e, depois, é o que se vê (....)! Ai, tio (....) Veja lá se tem ainda aí um pequeno espaço! Só que, às vezes, embora haja espaço, não há possibilidade para mais peso. E (...) vejam o que tem acontecido! Muitos aviões têm caído. Talvez o excesso de peso tenha contribuído ou possa vir a contribuir para isso.
Um problema que pode surgir ainda é aquele que se relaciona com a bolsa do fato do Jorge. Além de cheirar muito mal, devido às conchas terem os animaizinhos dentro de si, a parte central está trancada a cadeado. Mas a chave ficou com o dono! Que vai ser de mim, no aeroporto se me mandarem abri-la?! Além de não ter chave, não sei o que está lá dentro! Querem ver que ainda me tomam por ladrão ou passador de droga e me levam para a prisão! Só depois de me encontrar em minha casa é que fico descansado. E sirva-me de lição: malas ou sacos de viagem, só se forem cá do patrão.

22 Agosto 2003 – (6ª Feira): Em Nampula

·         Comunicação com o Adelino
·         Festa de Nampula
·         O cantinho Português
·         O desvelo do Sr. Figueiredo
·         Almoço no Sporting
·         Visita do Museu e ao grupo de artesãos
·         Visita ao Monte Carmelo do Bom Jesus
·         Problemas nas malas dos meus colegas
·         Finalmente chega a chuva

Comunicação com o Adelino

Por volta das 07.30 horas, telefonei ao Adelino. Mal eu sabia onde e em que condições se encontrava. Estava em Paris e sozinho, à espera de embarque para Lisboa! A Tabita e o Jorge Rodrigues já tinham arrancado, enquanto ele tomaria o voo seguinte! Desta vez a viagem foi mesmo aos bochechos, para não dizer às mijinhas. Em primeiro lugar partiu o António Matias, depois os três (Tabita, Adelino e Jorge) até Paris, dividindo-se, aqui, em dois grupos e finalmente, eu que espero partir, amanhã, com o seguinte horário:
·                                              Partida de Nampula para Maputo, às 12.50h, no voo TM193 da LAM,
·                                              Chegada a Maputo, às 15.40h;
·                                              Partida de Maputo, às 23,45 no voo TP1283;
·                                              Chegada a Lisboa, dia 24, às 09.30h.

Festa de Nampula

A cidade está em festa. Celebra-se o 48º aniversário da sua elevação a cidade. Logo pela manhã começa a notar-se uma vida diferente nas ruas, especialmente junto ao Palácio do Concelho Municipal e nas imediações da Praça dos Heróis. São peões ou transeuntes em fatos domingueiros que passeia despreocupadamente pelas ruas; são ranchos folclóricos que passam em camionetas engalanadas das quais irrompem cantos e gargalhadas; são senhores de porte altivo e fatiotas de cerimónia a quererem distinguir-se da arraia-miúda e a deixar crer pertencerem à classe privilegiada dos governantes ou com estes directa ou indirectamente relacionados! Uns e outros, no entanto, sentem-se unidos por sentimentos idênticos, mas dificilmente iguais: os sentimentos de “filhos” de uma mesma família, mas que, por razões insondáveis, dormem em berços diferentes e sentam-se em mesas desiguais!

O cantinho Português

 Sentado na explanada do Café Primavera, contemplava, eu, esse burburinho matinal, tendo diante de mim o Palácio do Concelho Municipal, à esquerda, o Palácio de Sua Ex.ª o Governador, à direita e, logo a seguir nesta mesma direcção, a Igreja principal. Esperava pelo casal Vasconcelos. Entretanto, ia notando quem entrava e saía do mesmo Café. A maior parte eram estrangeiros: sul-africanos, italianos e portugueses. Ouvi um dizer: “South African corner”, indo juntar-se a mais dois que se encontravam sentados na última mesa da explanada. E, como eu me encontrava no canto oposto, pensei que, daí a pouco, lhe poderia chamar “O cantinho Português”.

De facto, passados quinze minutos aparece o Carlos Vasconcelos e a Julieta, sua esposa com a sua pequenita, que, depois dos habituais cumprimentos se sentaram à minha mesa. Ainda não eram passados cinco minutos quando aparece mais uma portuguesa de nome Ana Maria[7]. Apresentámo-nos e desta apresentação fiquei a saber que se tratava de uma Irmã religiosa dedicada à Educação, dizendo-se também “Teóloga”. Conversa puxa conversa e, daí a instantes, estávamos já a falar da aprendizagem da língua Macua. Ofereceu-se para me apresentar a um professor desta língua que faria o trabalho por pouco dinheiro e com eficiência.

Quando lhe perguntei se conhecia alguma gramática, respondeu-me que “gramática sistematizada” não deveria existir, mas que havia apontamentos muito úteis que me poderia fotocopiar, não agora, mas mais tarde. Disse-nos que fôssemos ter com ela ao Carmelo do Bom Jesus, onde se encontra hospedada. Aí nos ofereceria documentação sobre a História do Povo Macua. Perante esta liberalidade da parte de quem já vive entre a comunidade macua há mais de doze anos, aceitámos o convite, ficando determinado ir ter com ela depois do almoço no qual ela não poderia participar como lhe propus por falta de disponibilidade. Mas prometeu que poderia ficar para a minha próxima vinda a Nampula.

O desvelo do Sr. Figueiredo

Como havia sido combinado, o Sr. Figueiredo apareceu na Firma JFS para falar comigo sobre as prendas que tencionava levar para Lisboa e que necessitariam de “Declaração” de modo a ser mais fácil a passagem nos Serviços aduaneiros. Quando eu lhe disse que só levaria umas conchas malcheirosas do Jorge e uma águia do Benfica em pau-preto ele riu-se, dizendo que se dispensava toda e qualquer declaração para isso e contou-me a história da sua carta de condução. O exame para a obtenção desta foi tão simples como isto:
- O Sr. tem problemas com as cores?
- Muitos, respondi eu. Só reconheço duas cores: a vermelha e a verde da Bandeira Nacional e a encarnada, a do meu Benfica.
- Não me diga que o Senhor é do Benfica!?
- Com certeza! De quem mais poderia ser?!
- Então, meu amigo, pode-se ir embora, que o seu exame está feito e com excelente classificação.
E, continuou o Sr. Figueiredo,
Nem entrei no carro para fazer o exame, nem nada”! Exames destes vale a pena fazer!
 Mas, tais atenções só podem ser dispensadas a quem homenageia o “Glorioso”, rematou o Sr. Figueiredo!

Almoço no Sporting com o casal Vasconcelos

Por volta do meio-dia, o Carlos e a Julieta vieram com os miúdos buscar-me par irmos almoçar ao Sporting Clube de Nampula. Foi-nos servida uma bela feijoada à transmontana e, como sobremesa, tivemos uma salada de fruta em que abundava na papaia, a banana e a laranja.
Trouxeram-me o Dicionário Português-Macua da autoria do Pe. Prata, edição da Sociedade Missionária Portuguesa; composto e impresso na Escola Tipográfica das Missões de Cucujães, para o poder ver, apreciar e fotocopiar, se achasse que valia a pena.

Visita do Museu e ao grupo de artesãos

Após o almoço fomos visitar o Museu de Nampula, onde apreciámos, tanto as diversas colecções, como a exposição de peças de artesanato ali existentes.

Finda a visita ao Museu tivemos a oportunidade de falar com os artesãos que trabalham, em grupo, nas costas desse mesmo edifício. Vi um dos artistas a desbastar um tronco de árvore de pau-preto e a dar-lhe a forma, ainda tosca, da águia que eu havia encomendado. A Julieta, afinal, foi uma das animadoras desse grupo e quando a viram lamentaram-se de não ter aparecido mais vezes por ali, manifestando grandes saudades e apreço por ela. Irei buscar a águia, amanhã de manhã, antes de partir para o aeroporto.

Um dos artesãos mostrou-me duas estatuetas, em bruto e com cola negra a tapar rachas ou fendas da madeira e com a parte negra no centro, enquanto as camadas exteriores eram de cor amarelada dizendo que estavam assim para que quem não conhecesse o pau-preto, visse como era na realidade. Até determinada grossura, o tronco não tem nada de preto; a partir daí começa a surgir o preto no interior crescendo à medida que o tronco vai engrossando e tornando-se adulto. Será que a raça negra seguiu o mesmo processo em relação à branca? Neste caso vejam quais as ilações a serem tiradas em relação a uma e à outra no que respeita à cultura e ao desenvolvimento!
Antes de sair desse espaço, apreciámos os trabalhos de ourivesaria que se encontram numa palhota ao lado. Tinha lá um cinto feito em moedas de cinco escudos, um colar com um medalhão de Jorge V, uma pulseira da largura de 5 centímetros, uma corrente de relógio de bolso, um par de brincos, uma pulseira e um medalhão em bronze.
Pelo colar e medalhão pediu 750.000 e pela pulseira 500.000.meticais. Depois de bela conversa entre ele e a Julieta, chegou a dar as duas peças por 750 mil meticais, sem que eu lhe oferecesse nada. Eu só lhe perguntava qual o último preço. No fim, disse-lhe que pensasse melhor, durante a noite, que eu ia fazer o mesmo. Amanhã veremos por quanto vai ser vendido. Mas vou-lhe fazer a proposta de 600 e sou capaz de ir até 700 mil.

Visita ao Monte Carmelo do Bom Jesus

Como este dia era o último da minha estadia em Nampula, procurei aproveitá-lo da melhor maneira e este aproveitamento teve como fruto visitas. Assim, depois daquelas feitas e já mencionadas, dirigimo-nos ao Monte Carmelo a convite da Irmã Ana Maria que pertence à Comunidade das Carmelitas calçadas, do ramo activo e que faz parte da Comissão diocesana para a Alfabetização, entre outras. O Carmelo situa-se à saída de Nampula, via Nacala, do lado esquerdo.
Ao chegarmos, recebe-nos com muita alegria e acompanhou-nos na visita, tanto do jardim e capela, como de uma irmã espanhola que tinha o braço engessado desde a clavícula. Esta está em Moçambique desde 1975 e contou-nos que pôde presenciar três fazes neste país: a primeira, em que havia de tudo, a segunda que levou o país a zero e a terceira que está no caminho da sua recuperação.
A Ana Maria ofereceu-me dois exemplares de histórias tradicionais sobre a comunidade ou povo macua. Trata-se de uma recolha oral, por meio de gravações, ao vivo, e entre as populações nativas de 10 contos tradicionais, mas, portanto, em língua macua. A sua edição pertence à Comissão Diocesana de Terras Arquidiocese de Nampula, edição de 2002. O seu autor é ITHALE AS MULAPONI SINÀLELIWA N’ATTHU, com o apoio financeiro de Trocaire; desenhos de João Travessa. Foi impresso na Novagráfica de Nampula, Lda.
A Ana Maria que parece muito dinâmica apresentou traços profundos de quem é verdadeiramente idealista, empenhada na busca de horizontes mais vastos cujo alcance deverá passar pelo árduo trilhar de um caminho diferente, mas nem por isso, mais fácil do que aquele por onde tem caminhado. A busca, porém, é sempre digna de apreço e espero que, uma vez começado esse caminhar, consiga chegar ao topo da felicidade que tanto almeja.

Problemas nas malas dos meus colegas

Quando regressávamos dessa visita recebi um telefonema do Jorge Rodrigues. Confirmou-me o que já sabia por telefonema da Tabita, isto é, que as suas malas não tinham seguido para Lisboa no mesmo avião. Não sabiam, por enquanto, onde elas teriam ficado ou para onde elas teriam ido.
Ao mesmo tempo, a Julieta recebia um telefonema do seu filho, Jorge, a dizer-lhe que, afinal, o peso permitido a cada passageiro não era o de 30kg como julgavam e como diziam os colegas que já tinham partido, mas sim de 20 kg apenas, como eu afirmava, antes de partirmos de Lisboa. O problema que agora se lhe colocava era o de pagar os quilos que levava a mais e que pertenciam ao Adelino. Eu disse-lhe que pagasse que depois eu lhe daria o dinheiro logo que chegasse a Lisboa. O problema agravou-se porque o miúdo não levava dinheiro para essa eventualidade. Valeu-lhe um amigo da família. Teremos de fazer contas com este senhor, logo que eu chegue a Lisboa.
Enquanto eu estava a escrever este último parágrafo, recebi um outro telefonema da Clementina que procurava a Tabita. Engano, pois o cartão do telemóvel desta está comigo e o do meu com ela. Foi bom, no entanto, ouvir a sua voz.
Ao meu lado e não muito longe, talvez a 200 metros está a decorrer um jogo realizado com alunos das escolas. Este jogo consiste em responder a questões que lhes são colocadas sobre a história da Cidade de Nampula. Neste momento a apresentadora está a apresentar os agradecimentos a todos os que colaboraram neste evento.

Finalmente, chegou a chuva

Afinal a chuva sempre veio. Eram as seis horas e meia, sensivelmente quando ela começou a cair. E que bem está caindo! Não sopra o vento e ela cai em grossas gotas, sendo absorvida avidamente pela terra ressequida dos campos ou lavando as ruas sujas da cidade.
Ainda depois do almoço comentávamos que o tempo parecia mesmo de chuva. A Julieta dizia que talvez o vento levasse as nuvens, mas não. Ela veio e veio forte e por longo tempo.
São agora, precisamente sete horas e cinco minutos e as gotas cristalinas batem forte fortemente nos telhados e cantam, as goteiras, um som parecido ao das cascatas principiantes, jorrando ao longe, desfiladeiro a baixo... Até quando durará esta canção de embalar, esta bênção dos céus que vai fertilizar jardins, prados, machambas e plantações de cajueiros, mangueiras e papaieiras? Os serviços meteorológicos parece que não acertaram lá muito bem, a não ser que Nampula seja considerada região centro, pois para o dia 22 de Agosto previa:

                                           - Para Norte: “... céu pouco nublado temporariamente muito nublado: Neblinas ou nevoeiros matinais locais. Vento de nordeste a leste fraco a moderado soprando, por vezes, com rajadas.
                                           - Para o Centro: “... céu pouco nublado com períodos de muito nublado. Possibilidade de ocorrência de aguaceiros fracos dispersos na faixa costeira das províncias de Sofala e Zambézia. Vento de sueste a leste fraco a moderado soprando, por vezes, com rajadas”.
                                           - Para o Sul: “....céu pouco nublado localmente limpo. Neblinas ou nevoeiros matinais locais. Vento de sueste fraco a moderado. Vento de sueste a leste fraco a moderado.”
Para o dia 24 de Agosto, as mesmas previsões meteorológicas acenam para “aguaceiros fracos e dispersos”, tanto para o Norte, como para o Centro do país.
Bem fiz ter lavado, ontem à noite, a minha roupa suja. Assim pôde secar e ser dobradinha antes de vir a nossa amiga chuvinha. Não cheirará mal quando a polícia alfandegária abrir e vasculhar a mala. Eles merecem tal atenção, mesmo se não utilizarem luvas brancas como manda a lei. Mas sabem? Esta só vigora, às vezes, e para alguns! E, em certos casos (poucos ou muitos), ainda há gente que, se não segue a lei, é porque não a aprendeu ou nunca ninguém lha ensinou!

23 Agosto 2003 (Sábado): Minha Partida Para Lisboa

·         No Aeroporto
·         Chegada a Lisboa

No aeroporto de Nampula: reencontro com a Isabel

 Aqui, reencontrei-me com a Isabel que se encontrava acompanhada pela irmã do Dinho, ambas apresentando uma cara desventurada. Aparecera no aeroporto, em vez do irmão, para se despedir da Isabel, alegando que ele não se encontrava com coragem de enfrentar uma tal despedida. Que cegueira, meu Deus! Estamos perante o desfecho ou o corolário de um romance começado no ano de 2002? Ou ainda se seguirão outros episódios afins? É muito possível, tendo em conta a tenacidade do amor colhido à primeira vista!
Pouco tempo depois, ao embarcarmos, encontrei o Jorge, filho da Julieta Vasconcelos. Afinal não tinha partido no dia anterior, como estava previsto.
Depois de embarcarmos, sentei-me no meu lugar que ficava distante dos outros dois companheiros e passei o tempo a ler revistas, jornais e um livro sobre Moçambique.

Chegada a Lisboa

 À chegada ao aeroporto da Portela, esperava-me a Tabita.


[1] A Restauração dos edifícios do actual museu( Tel. 610081; Fax 610082) começou nos finais do ano 1998, no primeiro andar do Palácio de São Paulo (construído, no século XVIII/XVIII, para residência e colégio dos Jesuígtas), onde já funcionava o Museu de Artes Decorativas e onde se procurara reconstituir a época em que o Palácio fora residência dos capitães-generais” (Alda Costa, Os Museus da Ilha de Moçambique e os Tesouros que encerram, in INDICO, Revista de Bordo da LAM, Série II, nº 19, 2002, p.41).
O primeiro Museu foi criado por Portaria de 22 de Fevereiro de 1889 e a sua Instalação teve lugar na Praça de S. Sebastião e foi inaugurado poucos meses depois, incluindo objectos considerados de valor histórico tais como armas, bandeiras, tambores e bastiões pertencentes a autoridades locais”. (Ibidem).
[2] Comemora a chegada de Vasco da Gama, em 1498, a essa localidade.
[3]  (Telf. 082-601-334)
[4] Eu adverti ao encarregado para avisar o Hélder de que era necessário convidar um agrónomo para vir ver e curá-los.
[5] Eu adverti ao encarregado para avisar o Hélder de que era necessário convidar um agrónomo para vir ver e curá-los.
[6] O Chico Buanauassi será contratado, à jorna, quando for necessário cortar o mato e fazer a limpeza de áreas determinadas do terreno

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