“Por trilhos de D. Dinis”
A inscrição de Ana Samanta Almeida e a minha foram feitas através do site supra indicado, à qual me foi enviada a seguinte resposta:“Exmos. Srs. Serve o presente para confirmar as vossas inscrições no percurso pedestre 'Por trilhos de D. Dinis', a realizar no dia 09 de Outubro/11. Lina Conde”.
A concentração dos participantes fez-se no largo em frente ao Mosteiro de Odivelas, entre as 9H00 e 9H15, tendo o grupo partido dali, em dois autocarros, para Frielas, onde começou a caminhada que deveria percorrer cerca de 10 Km.
O “Rei” contou-nos que a escolha desse local para seu Paço ficou a dever-se ao seu gosto pela caça e à fertilidade dos terrenos, onde se cultivava, em abundância, hortaliças, cereais, videiras, oliveiras, etc. Uma outra razão, afirmou o rei, foi a existência e a confluência dos dois rios (o de Odivelas e o de Loures) que abundavam em pescaria e serviam de vias de acesso às várias propriedades circunvizinhas.
Pena é que, nos nossos dias, tenham deixado de exercer uma e outras funções. Por sua vez, a rainha, Dª Isabel acrescentou algumas informações sobre vida de Santa Catarina, referindo-se ao célebre Mosteiro Ortodoxo de Santa Catarina de Alexandria, construído no Monte Sinai, no Egipto.
Talvez venha a propóstio notarmos que este mosteiro teve por primeiro nome “Mosteiro da Transfiguração” (em memória da transfiguração de Jesus na presença de Moisés e Elias no Monte Tabor) e que, para além de peças valiosíssimas, como ícones gregos e russos, mosaicos árabes, pinturas ocidentais a óleo e em cera, esmaltes, mármores, ornamentos sacerdotais, um relicário doado pela Czarina Catarina I da Rússia no século XVII, e outro oferecido pelo Czar Alexandre II no século XIX, possui cerca de 3500 volumes em grego, copta, arménio, árabe, hebraico, Línguas eslavas e outros idiomas, tornando-se, depois do Vaticano, a segunda maior colecção do mundo no respeitante a iluminuras. A sua fama ficou a dever-se, ainda, ao facto de aí ter sido encontrado, em 1850, o Codex Sinaiticus cujo original se encontra actualmente no Museu Britânico. Em seu lugar, pode-se admirar, no entanto, uma réplica, pela qual se pode avaliar, de algum modo, a sua beleza e riqueza, previlégio que eu próprio tive, em 1973.
Este Código que data do ano 350 (d.C.), é um manuscrito, todo ele, em grego e reproduz a Bíblia, sendo identificado pela letra 'alef' do alfabeto hebraico. Tem de largura 33,5 centímetros e de altura 37,5, constando de 3461/2 folhas de pergaminho que foi escrito em 4 colunas. Embora não contenha todo o Antigo Testamento, contém os textos deuterocanónicos de Tobias, Judite, 1 Macabeus e o apócrifo 4 Macabeus. E o Novo Testamento apresenta a ordem seguinte: 4 Evangelhos, as 14 cartas atribuídas a São Paulo, Actos dos Apóstolos, Cartas Católicas e Apocalipse de S. João, aos quais foram adicionados o Livro de Pastor de Hermas e a Epístola a São Barnabé.
Voltando à nossa caminhada, a capela de Stª Catarina de Frielas tem o estilo maneirista; a planta é quadrada e a cobertura abobadada, sendo rematada por um frontão triangular interrompido por plinto e cruz. Segundo notícia do prospecto distribuído “possui ainda vestígios de pintura a fresco no altar-mor e alguns azulejos policromos do século XVII”.
· Dom Pedro Afonso, nascido ao redor de 1280, vindo a ser conde de Barcelos e a morrer em Lalim, c. 1354;
· Dom Afonso Sanches, nascido em 1288 e falecido em Vila do Conde, em 1329. Este era filho de Aldonça Rodrigues Telha, foi senhor de Albuquerque em Castela e foi enterrado no Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde;
· Dom Pedro Afonso, nascido e morto em data incerta. Casou com D. Maria Mendes, crendo-se que foi sepultado na Capela de Santa Isabel da Sé de Lisboa;
· Dom João Afonso, nascido em data incerta, de D. Maria Pires, «huma boa dona do Porto de Gança», mas foi legitimado a 13 de Abril de 1317 e foi senhor de Lousã a Arouce, vindo a casar com D. Joana Ponce, de família asturiana; foi degolado em 4 de Junho de 1325;
· Dom Fernão Sanches, que nasceu e morreu em data incerta; casou com D. Froilhe Anes de Besteiros);
e duas filhas que foram:
. Dona Maria Afonso que nasceu e morreu em data incerta. Foi filha de D. Marinha Gomes, mulher nobre de Lisboa, casou com D. João de Lacerda, fidalgo castelhano;
. Dona Maria Afonso (0utra com o mesmo nome) que nasceu em data incerta e faleceu em 1320, chegando a ser Religiosa no Convento de Odivelas, onde deixou fama de santidade.
Vejam o que me aconteceu a mim e pode acontecer a quem não se desfaça de objectos de uso pouco frequente. Quando começamos a caminhada em direcção aos campos de tomate, verifiquei para meu espanto que me tinha rebentado o salto da bota esquerda. O meu andar parecia o de um aleijado, o que me fez parar e corar de vergonha. Mal dei um passo à retaguarda para procurar remédio, reparei que ambas as botas estavam a desfazer-se, por completo. Não tive outra solução senão telefonar para casa para que alguém me viesse trazer outras botas de substituição. A minha sorte foi a compreensão do chefe da Organização da caminhada que me disse para esperar pela carrinha que, ali, esperaria até as botas chegarem e que, depois, me levaria até ao Parque da Cidade de Loures. Assim fiz e assim se resolveu um caso que se tivesse acontecido na montanha, teria de calcorrear o caminho a "pé descalço"! Cuidado, meus amigos! Não saiam de casa desprevenidos!
Ao chegarmos ao Parque da Cidade de Loures, foi distribuída água a todos aqueles que o desejaram e muitos deles aproveitaram para comer uma bucha, após o que foi retomado o nosso trilho em direcção à Mealhada.
Aqui pudemos apreciar uma Mãe-d’água que, segundo informações ali colhidas, faz parte da rede de serventia de água à região, ordenada pelo mesmo monarca, pelo que o exemplar de tijolo e argamassa que, aqui deixo, é tão antigo, quanto o seria o nosso 6º rei se este tivesse uma longevidade idêntica.
Mãe d'água da Mealhada
Mas, como num grupo que contava para cima de 136 participantes, havia muitos que se encontravam ainda em boa forma física, esperavam pelos mais avançados na idade e menos ágeis porque já se vergam debaixo do peso dos longos anos já passados e se sentem atrapalhados pela substância demasiado adiposa!
Neste troço puderam ser admirados terrenos incultos, mas que, em tempos idos, produziram cereais, vinhas e olivais, segundo nos ia dizendo alguém que parecia ser oriundo dessa mesma zona. De vez em quando ainda se encontram pequeníssimas hortinhas, à beira de um regato que tinha rota batida pelo monte abaixo, mas que, nesta época do ano tão agreste, se encontra praticamente seco, notando-se, no entanto, alguma poça de água, aqui e ali, que é aproveitada para rega de alguma hortaliça.
Osa mais novos e mais leves
Após termos alcançado o parque de Santo António dos Cavaleiros, pudemos observar que, por ali passa um forte regato que exaure as suas águas de algumas nascentes que se localizam entre as duas escolas – a de Humberto Delgado e a de José Cardoso Pires – e cuja existência é bem manifesta pela abundância de junco e outras verduras que por ali se vêem. Desta água fizeram bom aproveitamento vários habitantes da zona que, por ali levantaram várias barraquitas e cercaram vários metros de terreno para neles cultivarem algo que substitua a carestia doa ida dos supermercados e a ganância dos muito abastados, mas em nada compreensivos para com os menos bafejados da sorte.
Que diria, o nosso rei lavrador, se voltasse aos seus reguengos de outrora, tão férteis os tinha considerado? Morreria de vergonha? Não creio. Ficaria de tal forma irado que daria ordens severas para que tudo fosse bem lavrado e semeado, embelezado e cantado, não tivesse ele sido cognominado “O Trovador” e ”O Lavrador”! Pena é que, modernamente, não existam no nosso Portugal mais reis poetas e agricultores que muito acérrimos se mpostraram contra prosaicos e predadores!
Tendo deixado para trás Santo António dos Cavaleiros, o grupo desceu em direcção a Odivelas, passando pela Quinta do Barruncho (conhecida anteriormente por Quinta da Granja (da Paradela) ou Quinta de Nossa Senhora do Rosário a quem fora dedicada a sua capela. Consta que também tinha sido invocado nessa mesma capela o Senhor do Bom Princípio. Anne de Stoop (1986, pp 53-56) sustenta que “a casa, construída por volta do ano 1700, teria sido uma Comendadoria da Ordem de Malta, o que explicaria o tamanho imponente da capela”.
Capela do Barruncho
Consta, que esta quinta, é, hoje, propriedade do Consulado de Luxemburgo, como se pode deduzir da placa que se encontra do lado esquerdo do Portão principal da Quinta.
Deixada esta quinta, continuámos o nosso passeio e descemos até Odivelas, atravessando o Chapim, subindo, de seguida em direcção ao Memorial de Odivelas que é de estilo gótico do século XIV e, segundo informações, um marco que assinala a passagem do corpo de D. Dinis, rumo ao Mosteiro para aqui ser sepultado no artísitico e sumptuoso túmulo que, infelizmente está a degradar-se, de dia para dia, por falta de verbas para serem contratados restauradores competentes. Há quem pense tratar-se de um simples marco limítrofe do Couto do Mosteiro.
Memorial de Odivelas
Daqui ao dito mosteiro são poucos metros. Ao chegarmos ao largo, o “Casal Real” recebeu-nos, novamente, à sombra das frondosas árvores para nos explicarem um pouco da história da fundação desse mosteiro. Este denomina-se “Mosteiro de São Dinis e São Bernardo de Odivelas” e foi por mim fundado para albergar freiras cistercienses ou seja Freiras Bernardas da Ordem de Cister. As suas obras tiveram início em 1295, junto à nossa própria Casa, já então existente".
O Casal Real explicando o Mosteiro
Infelizmente das explicações que foram dadas pela Rainha Dª Isabel, nada se pôde perceber, devido ao intenso barulho que ali se fazia sentir produzido pelo roncar dos “Motards”, que nesse momento por ali se encontravam estacionados.
Complexo exterior do Mosteiro
Neste mosteiro cuja maioria eram de origem nobre “Muitas das monjas que aí se fixaram”…”pertenciam à nobreza”… distinguiram-se várias personagens, como D. Filipa de Lencastre que viria a falecer ali, em 1415; a princesa Santa Joana, irmã de D. João II.
Se, no início era considerado um Mosteiro de santidade e de bons costumes, esta fama foi sofrendo revezes ao longo da sua história e, no século XVII começou a instalar-se no seu seio “a liberdade de costumes e a moral do prazer “ e no tempo de el-Rei D. João V este convento criou muito má fama, por causa dos escândalos das freiras com os fidalgos seus amantes e com o próprio rei, a quem chamavam de freirático (“Aliás dizia-se de D. João V que era tão religioso que todas as suas amantes eram freiras.”) que era assíduo frequentador do convento, entretendo amores com algumas freiras, de quem teve filhos, com especialidade da célebre Madre Paula, de quem também houve um filho, D. José, um dos “meninos de Palhavã” (Para quem o rei mandou construir o palacete de Lisboa onde hoje está instalada a Embaixada de Espanha).
Da visita ao seu interior, várias foram as particularidades que me impressionaram, entre as quais destaco: a cozinha cujos muros se encontravam forrados de belíssimos azulejos, cada um com seu desenho próprio; a roda de passagem dos alimento da cozinha para o refeitório; este com uma enorme e belíssima mesa oval; o Claustro da Moura, ao centro da qual se encontra um belíssimo fontanário encimado pela estátua da Moura que lhe deu o nome; as suas colunatas e um trecho muito pequeno da casa original ou Residência real.
Na Sala do Capelo foram-nas mostradas várias placas funerárias, contenda cada uma o nome de personagens que ali tinham sido enterradas, entre as quais Dª Urraca Afonso de Castela (1187-3 de Novembro de 1220) foi uma infanta de Castela e de 1211 até a sua morte, rainha consorte de Portugal por casamento com o nosso rei, D. Afonso II; ali se encontra também um enorme órgão, dividido em duas partes e que ali ficou porque, se fosse instalada como deveria ser, não cabia na igreja.
Na Igreja, o que mais me impressionou foram três túmulos: um na capela, mas vazio, que fica do lado da epístola pertencente, a D. Maria Afonso, filha de Rei D. Dinis; outro na capela-mor, onde repousa o infante D. João, filho de D. Afonso IV e o terceiro e mais importante, na Capela Absidal, o túmulo onde repousa D. Dinis, fundador do Mosteiro.
O monumento apresenta vários estilos arquitectónicos que vão do gótico e manuelino ao barroco, o que demonstra ter sido intervencionado em diferentes épocas. Julga-se, portanto, que foi sendo alterado ao longo dos tempos, de acordo com as tendências e com os gostos de cada época. Da construção inicial, resta apenas a cabeceira gótica com abóbadas de nervuras chanfradas.
Ao despedir-me dos companheiros, organizadores, “cicerones” e de, um modo especial, do “Casal Real”, não quero deixar de agradecer a todos e de terminar com a inovação que esse simpático e virtuoso casal (Dª Isabel até é venerada, hoje, como Santa) quis introduzir no claustro exterior do seu grande Mosteiro.
O "Casal Real" saboreando o respectivo cigarro
Desta ninguém esperava, certamente! Pois é ...., mas, na falta de cigarros, outro divertimento existia, certamente, tanto fora, como dentro desse bendito mosteiro!
Fontes
1- Obras
Serrão, Joel (dir.) (1976). Pequeno Dicionário de História de Portugal. Lisboa, Iniciativas Editoriais.
Serrão, Joaquim Veríssimo (1978). (2.ª ed.) História de Portugal, Volume I: Estado, Pátria e Nação (1080-1415), Lisboa, Verbo,
Anne de Stoop (1986). Quintas e Palácios nos arredores de Lisboa, pp. 53-56. Porto: Livraria Civilização.
2- On Line:
http://odivelas.com/2010/01/16/convento-de-s-dinis-habitantes/ que se serviu de “O mosteiro de S. Dinis de Odivelas” texto retirado de Dicionário História Cronológica – Vol. V Lisboa 1911.
http://odivelas.com/2010/01/16/convento-de-s-dinis-habitantes/
http://odivelas.com/2010/01/16/quinta-do-barruncho-granja-da-paradela/
http://www.arqnet.pt/portal/portugal/temashistoria/dinis.html
José dos Montes Hermínios
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