Sunday, September 13, 2009

De Visita à Freguesia de Lameiras (Pinhel)

Nos dias 3 e 4 de Setembro de 2009 fiz, acompanhado pela minha irmã Lídia Matias, uma visita relâmpago à Freguesia de Lameiras, concelho de Pinhel, da qual fazem parte Vendada e Barregão, visita que se desenvolveu em várias etapas.

Primeira etapa: Lameiras (Sede)

Ao chegarmos a Lameiras, seguimos, imediatamente, para o Calvário e fiquei de boca aberta ao encarar com o monumento, presentemente, diferente do que conheci, poucos anos antes. O Calvário, antes de 2006, era constituído por um pedestal formado por quatro degraus graníticos e três cruzes assentes em três pedras de tamanho e formas diferentes, contendo, cada uma delas, imagens gravadas uma das quais (a do lado esquerdo) possuía (e ainda possui) uma inscrição que diz e diz LI.GAIV, estando o seu conjunto no topo da pequena elevação que todos conheciam por "Santo". Entre os Calvário e os muros das hortas que lhe ficam atrás não havia praticamente espaço algum, de jeito, dificultando a passagem a grandes aglomerados de pessoas.
Calvário, antes de 2006

Foto de 2003


Actualmente apresenta-se de uma forma muito mais complexa e melhor ordenada, pois, além do pedestal formado por quatro degraus, assenta num estrado mais alargado com mais dois degraus e rebordo de pouquena altura, estrado este que se encontra ladeado por floreiras que descem em socalcos para acompanharem o declive do terreno. Tudo feito em pedra, a condizer com a Terra em que se encontra inserido.


Calvário depois de 2006


Foto de 3 de Setembro 2009

Enquanto as três cruzes continuam sobre um pedestal composto por quatro degraus e sobre as pedras originais, conservando-se a substância do Calvário, o conjunto no seu todo, avançou alguns metros, deixando, atrás, espaço mais que suficiente para se circular, o que veio facilitar a passagem das Procissões que se organizam à volta da Aldeia em dias festivos.

Nova perspectiva

O Largo foi todo calcetado e o Calvário foi enquadrado por duas alas de oliveiras, por uma floreira granítica, ao centro, e por um fontanário, também granítico, que assinala a entrada para todo o recinto sagrado.


Uma terceira perspectiva

Fotos de 3 de Setembro 2009


Enquanto medíamos as pedras da base das três cruzes e eu fazia algumas fotografias, acercou-se de nós um Senhor, ainda jovem, que eu não conhecia lá muito bem, mas cujas feições me faziam lembrar as dos seus pais. Dirigiu-se a nós, perguntando se precisávamos dos seus préstimos, ao que eu lhe respondi, imediatamente, de modo afirmativo. Fizemos as devidas apresentações pelas quais vim a saber que se chamava Caros Franco (filho da Sra. Rosalina) e que era, desde 2005, o Presidente da Junta da Freguesia de Lameiras.

Tal encontro, veio mesmo a propósito. Ninguém melhor do que ele me poderia fornecer dados que eu buscava sobre a nossa Freguesia. Em primeiro lugar deu-me a conhecer que os melhoramentos operados no Calvário e Santo tinham sido introduzidos no princípio do seu madato (2005/2006) como Presidente da Junta.

Presentemente verifiquei que havia uma grande azáfama no intuito de se concluirem outras obras, pertencentes à Freguesia. Mas estes melhoramentos que estavam em curso na Sede da Freguesia tinham o seu prolongamento natural nas outras aldeias anexas, como vim a verificar, pouco depois, por exemplo na Vendada, onde os trabalhos andavam à volta da Igreja e das ruas.

Quando lhe perguntei se conhecia alguns sítios onde havia sepulturas rupestres, foi peremptório em falar-me das que existiam nas cercanias da Capela de Nossa Senhora da Broa, na Vendada, e fez questão em nos acompnahar até lá para podermos vê-las e fotografá-las.

Segunda etapa: Vendada

Não só se prontificou, como também nos levou na sua própria viatura. Partimos, então, rapidamente, e verifiquei, logo ao chegámos, que também na Vendada, as obras de melhoramentos estavam em curso, abrangendo sobretudo os muros da Igreja e a rua principal.

Houve um caso curioso que presenciei, embora me não fosse de todo desconecido nem estranho, foi o cemitério à volta da Igreja. Era costume muito antigo, de facto, servir, quer o adro, quer a própria igreja, para enterramento dos mortos. Ali, na Vendada, seguiu-se esse costume até há bem pouco tempo, como se pode verificar pela fotografia que apresento, já de seguida, embora hoje, já exista um cemitério novo, à saída da Aldeia, do lado esquerdo de quem segue em direcção a Lameiras (Sede).

Igreja de Vendada

Foto de 3 de Setembro 2009



O Adro a servir de Cemitério

Fotos de 3 de Setembro 2009

Chegados à Senhora da Broa, quatro particularidades chamaram a minha atenção: os melhoramentos em curso relativos à Capela; limpeza, à sua volta; várias sepulturas rupestres escavadas num lajedo de dimensões consideráveis e, finalmente, o Pinoco que se encontra em frente da Capela.

Capela da Senhora da Broa

Foto de 3 de Setembro 2009

Olhando bem para a fotografia, aqui apresentada, vemos um caramoiço, ou montículo, feito em pedra miúda, no topo do qual se encontra um pequeno pinoco ou pedra adelgaçada, curta e erecta. Este está sempre levantado, em direcção ao céu. Quando as chuvas teimam em não descer à terra para regar os campos, os habitantes de Vendada e redondezas dirigem-se à Senhora da Broa para pedir ajuda e deitam o pinoco para baixo, como que a dizer: "se não nos auxiliares, mandando a chuva, o pinoco continuará tombado" o que equivale a dizer que a beleza e estrutura normal da Capela ficaria danificada até a chva voltar.





São histórias que se contam, passam de geração em geração e se acreditam como verdadeiras. A confirmar essa crença, correm boatos de que se conhecem exemplos claros que comprovam alguns factos milagrosos dessa natureza, ali operados!

Nas costas da Capela da Senhora da Broa encontra-se um grande lajedo sobre o qual foram escavadas algumas sepulturas rupestres, cerca de seis, todas viradas a Norte. É possível que existam mais algumas, mas, até à data, ainda não foram descobertas. Eu, ainda dei uma olhadela, em redor, mas nada descobri. Será preciso mais tempo, mais paciência e material apropriado para desbravar o giestal.

Dupla sepultura rupestre na Senhora da Broa

Foto de 3 de Setembro 2009

As sepulturas que aqui se encontram são de planta ovulada, rectangular ou trapezoidal, o que demonstra certa antigidade, devendo, portanto, pertencer aos tempos mais remotos da Idade Média.

A sul da Povoação ergue-se um belo Cruzeiro que foi levantado em 1940, como se lê na inscrição que se encontra no seu sopé e que foi levantado para comemorar a Restauração da Independência, ocorrida em 1640.

Cruzeiro de Vendada

Foto de 3 de Setembro 2009

Onde, hoje se vê o mosaico de Nossa Senhora Imaculada existe uma espécie de Nicho onde, possivelmente, se encontraria uma imagem diferente daquela que hoje ali se vê ou uma inscrição. Em seu lugar, no entanto, foi colado o mosaico que ali se pode ver e que tem os seguintes dizeres: Do lado direito tem a data de "1646"; ao centro existe a Imagem de Nossa Senhora, circundada pela inscrição "Virgem Imaculada Senhora Nossa"; do lado esquerdo tem a data de "1946" e por baixo tem a inscrição "HÁ TRÊS SÉCULOS VOS PROCLAMÁMOS PADROEIRA", com esta disposição:


VIRGEM IMACULADA SENHORA NOSSA
1646 ------------Imagem ------- -----1946
HÁ TRÊS SÉCULOS VOS PROCLAMÁMOS PADROEIRA


Trata-se de datas muito importantes para a Nação Portuguesa, uma vez que o ano de 1646, foi o ano em que o nosso Rei, D. João IV, depôs a coroa do Reino aos pés de Nossa Senhora no Santuário de Vila Viçosa, depois da restauração de Portugal, ocorrida em 1640. Assim, aquele azulejo tem, não só a data do ano em que Maria foi coroada Rainha de Portugal (1646), mas também a data em que ele ali foi colocado (1946), comemorando o dia em que a Virgem Imaculada foi proclamada Padroeira de Portugal.

Por esta última data tem-se a certeza de que o mosaico é do mesmo ano, o que é mais plausível, ou posterior a 1946. Isto vem colocar-nos numa época de euforia nacional, porquanto em 1940 teve lugar a Exposição do Mundo Português, inaugurada em 23 de Junho de 1940 pelo Presidente da República, Marechal António Óscar de Fragoso Carmona, sendo acompanhado pelo Presidente do Conselho, Dr. António de Oliveira Salazar e pelo Ministro das Obras Públicas, Eng. Duarte Pacheco. Esta mesma exposição tinha sido, de certo modo, preparada pela Exposição Colonial de 1930, realizada no Porto.

No dia seguinte regressámos, à Senhora da Broa, para fazer novas fotografias após o que, o Sr. Carlos nos levou até ao Marco que separa a Freguesia de Lameiras da Freguesia do Lamegal .

Marco divisório dos limites das fregusias de Lameiras e Lamegal respectivamente

Foto de 4 de Setembro de 2009

Neste Marco, as cinco quinas, parecem ter sofrido pequenas mutilações, o que poderá ter acontecido por acaso, devido ao desgaste do tempo, ou a trabalhos agrícolas, visto o Marco se encontrar num terreno arável.

Terceira etapa: Tavano

Deixando o Barregão para a parte da tarde, depois de termos visitado a Rogenda, tomámos o rumo para o Tavano, a fim de visitarmos, aí, uma suposta Sepultura Rupestre. Antes, porém, fomos à Casa Mortuária no intuito de passarmos uns momentos a acompanhar o velório do Sr. Mário Santa, marido da Sra. Adelaide Pereira.

Ao passarmos pelo Forno da Aldeia pedi para fazermos uma curta paragem, a fim de fotografar o belo Cruzeiro que ali se encontra e que tem, na base, uma inscrição composta por números.

Forno comunitário remodelado nos anos 70 com um Cruzeiro muito antigo

Foto de 4 de Setembro de 2009

Inscrição na base do cruzeiro



Foto de 4 de Setembro de 2009

A data que se lê na base deste cruzeiro parece ser a de 689. Talvez sejamos induzidos a pensar que existe o número 1 antes do número 8, mas, se analisarmos bem, aquilo que nos parece um 1, não é nada mais do que a continuação do risco inferior que continua do lado direito para cima de modo a fazer o rectângulo que contém a inscrição, tendo o seu oposto no lado esquerdo superior.

A ser admitida a data de 689, estaríamos nos finais do período Visigótico (624-711) e a nove anos antes de Rodrigo ser eleito como último monarca dos Visigodos. Estaríamos também no período após o Concílio de Toledo (XI), iniciado a 7 de Novembro de 675 e terminado no ano 681. Pouco depois, porém, em 711, teria lugar a invasão da Península Ibérica pelas tropas muçulmanas, após a derrota dos Visigodos na batalha de Guadalupe.

Teria o Cruzeiro de Lameiras sido erguido em memória do Concílio Toletano no qual se tratou do Símbolo da Fé Católica, especialmente do Mistério da Santíssima Trindade, da Incarnação , da Redenção e da sorte do homem após a sua morte (cf. nn 525-541 do Enchiridion Symbolorum et Declarationum de rebus fidei et morum, de Denzinger-Schönmetzer, Roma, Herder, 1965, pp. 175-180).

Tomámos, de seguida, a direcção da pedreira do Tavano a qual se encontra do lado esquerdo, a cerca de 300 metros da Quinta do mesmo nome, se rumarmos em direcção a Pinhel e passarmos pela Povoação, chamada Malta. À entrada vê-se logo o distintivo dessa pedreira, assim como a cor da pedra que ali se explora e o culto que se tem pelas cruzes. Repare-se bem neste exemplar, apresentado pela fotografia que vem a seguir. Em cima do bloco de pedra, foi colocada a parte superior de uma cruz, virada ao contrário, sem sabermos a razão desta particularidade!


Entrada para a Pedreira

Foto de 4 de Setembro de 2009

Andados mais alguns metros, fomos dar com um monumento rupestre que, à primeira vista, dá a sensação de ser um Lagar com o seu pio. Na verdade, no estado em que se encontra, parece mais um lagar do que uma sepultura. Poderia, no entanto, ter sido, anteriormente, uma sepultura que tivesse sido adaptada a lagar com a adição do pio que, por sua vez (e admitida a última hipótese), teria sido escavado na continuação do mesmo bloco granítico. Devido a a uma mancha de carvalhotos e giestas que envolvem o monumento, não consegui fotografá-lo convenientemente.

Lagar com o orifício para o pio



Fotos de 4 de Setembro de 2009

Nota-se, perfeitmente, que o monumento apresenta uma planta perfeitamente ovular o que quer dizer que ele partence aos primeiros tempos da Idade Medieval, pois, segundo consta, as seplturas mais antigas seriam exclusivamente de planta ovulada rectangular ou trapezoidal: Posteriormente ter-e-á caminhado para o antropoforfismo, com a delineação da cabeça, cotinuando, contudo, a utilização de plantas simples (CD-ROM de Fornos de Algodres, Patrimnio Arqueológico de Fornos de Algodres, Inventáirio - Centro de Intepretação Hstórico e Arqueológico de Fornos de Algodres, 2005).


Quinta etapa: Brregão

Depois de várias horas na Rogenda (da qual já falámos no Blogue 2 e que constituiria a quarta etapa), rumámos ao Barregão, para, em seguida, chegarmos ao Lamegal. No Barregão fotografei o cruzeiro que se encontra à entrada de quem chega de Freixedas. Este Cruzeiro encontra-se precisamente na confluência do caminho vindo de Freixedas e do caminho que dá para a Vendada pelo lado do Arco. Encontra-se, portanto numa bifurcação, ao seja, na confluência do caminho que vem de freixedas e do que vem do Arco. Ora, segundo o sentir e crendice populares a sua lucalização tem a ver com o mundo dos espíritos e das feiticeiras.

Primeiro aspecto de Cruzeiro do Barregão

Segundo aspecto com a data de 1940

Fotos de 4 de Setembro de 2009

Não sei se ainda hoje se acredita, mas, em tempos idos, acreditava-se que os cruzeiros eram colocados nas encruzilhadas ou bifurcações para exorcizar as bruxas e os lobisomens. Dizem que, quando alguém se sentia perseguido pelas feiticeiras se depenava uma galinha e se lançavam as suas penas ao vento junto desses cruzeiros para despistá-las e enganá-las.

De seguida fomos ver a fonte que, embora tenha pouca beleza, merece uma maior atenção quanto aos arranjos da sua entrada e da sua porta.

Fonte do Barregão

Prestou bons serviços antes de haver água canalizada e, além do mais, possui uma inscrição gravada no seu lintel e que mostra a data de 1866, como se pode descortinar através desta foto que pode ser ampliada, para uma melhor visualização.

Inscrição com data de 1866

Fotos de 4 de Setembro de 2009

Existe, também, uma pequena Igreja, onde os fiéis se juntam para o culto a qual já deve ter muitos anos, senão séculos. Não tive a oportunidade de verificar se ali se encontrava alguma inscrição. Fiquei, no entanto, com a ideia de procurar sabê-lo numa uma outra melhor oportunidade.


Igreja do Barregão

Foto de 2004

Terminada esta curta visita ao Barregão, demos por terminado o nosso percurso pelos limites da Freguesia de Lameiras que bem nos fez reviver tempos passados, há mais de meio século. Não se detenham, porém, a querer esmiuçar os anos decorridos para ver se conseguem descobrir a minha idade, pois essa já pouco interessa a quem já viveu bastante e sempre soube aproveitar do que a vida de belo contém. Para já, convido-os a terem paciência até lerem a visita que fizemos ao Lamegal.

1 Comments:

At February 26, 2011 at 8:43 AM , Blogger andre said...

obrigado por esta informaçao! eu sempre tento ver alguma coisa sobre a minha aldeia mas é imposivel!a minha aldeia é a vendada e agradeselhe immenso a informaçao!

 

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